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Paralisação de motoristas por aplicativo torna viagens 5 vezes mais caras 


 

Usuários reclamam dos preços e demora para achar motorista 

  • Da Redação

Publicado em 30/03/2022 às 05:30:00
Atualizado em 16/06/2023 às 09:36:22
. Crédito: Arrison Marinho/CORREIO

André Malhado, 37 anos, acordou cedo  para fazer o exame periódico da firma, por ter completado um ano no local como gestor de recursos humanos. Ele sempre se locomove na cidade de Uber, para o trabalho ou sair aos finais de semana. “Gasto quase sempre R$ 500 por mês de Uber e meu perfil é até diamante, porque solicito muito”, conta. Porém, nesta quarta-feira (29), os motoristas por aplicativo de todas as empresas fizeram uma paralisação, em pleno aniversário de Salvador, que também teve greve de ônibus. 

A mobilização, em Salvador, foi organizada pela Cooperativa Mista de Motorista e Mototaxistas por Aplicativo (Coopmmap), no Centro Administrativo da Bahia (CAB). Motoristas de todo o país fizeram parte do ato, em outras capitais. André e outros usuários tiveram que pagar corridas até cinco vezes mais caras, por conta da falta de profissionais, além de esperar mais de uma hora para ter a corrida aceita.  

A viagem, que custaria R$ 12 da casa dele, em Nazaré, até a clínica médica, na Lucaia, no Rio Vermelho, custou quase R$ 60. “Me programei para sair de casa bem antes e não pegar nenhum contratempo, mas o preço estava muito dinâmico, dando R$ 57. Como tinha esse compromisso, com hora marcada, tive que pagar. Só que foi bem complicado, porque também teve a demora de encontrar um carro. Fiquei quase 40 minutos tentando encontrar um disponível e cheguei em cima da hora”, relata Malhado.  

Para evitar pagar um preço “exorbitante”, o músico e assistente administrativo Ramon Luiz, 24, esperou três horas para o valor da corrida baixar e terminou chegando mais de uma hora atrasado no trabalho. A situação dele foi parecida com a de André - o que era para ser R$ 12 ficou R$ 58. “Foi uma dificuldade. Nos dias normais, já é difícil achar corrida, mas, hoje, o valor estava absurdo”, narra Luiz.   Motoristas protestaram por melhorias na remuneração (Foto: Arrison Marinho/CORREIO) Na faculdade Baiana de Direito e Gestão, segundo a estudante Raquel Lemos, 20, muita gente não foi à aula. Ela, que só anda de Uber, também foi prejudicada. “Uber é meu principal meio de locomoção, então não consegui ir basicamente para lugar nenhum. Todos os meus colegas de faculdade reclamaram, muita gente não veio e várias pessoas saíram mais cedo, com medo de não conseguir voltar para casa”, explica Raquel. Ela pagou quase o dobro pela viagem à faculdade. 

Reivindicações  As reivindicações da categoria vêm logo após o anúncio da Uber em fazer um aumento temporário de 6,5% no preço das corridas, sem repassar aos motoristas, segundo eles. Por esse e outros motivos que a assembleia da Coopmmap, no CAB, pediu melhor remuneração, dentre outras reivindicações (veja todas no final da matéria), como a de que as empresas mostrem o destino do passageiro antes da corrida ser aceita.  

“Estamos com o trabalho extremamente precarizado. Em 2016, tínhamos o dobro da remuneração. Nossa tarifa base era de R$ 3 reais e foi para R$ 1,95. Nosso km rodado, que custava R$ 2,43, hoje, é R$ 1,06. Nunca vi trabalhar numa empresa, na mesma função, e ,em cinco anos, seu dinheiro ser reduzido à metade”, reclama o presidente da Coopmmap, Vick Passos. A cooperativa tem em torno de 450 associados. 

Os motoristas, na manifestação, também reclamaram da taxa de repasse estabelecida pelas empresas. Teoricamente, seria de 25%. Contudo, eles relatam que esse percentual chega a 40%. A Uber foi procurada para se manifestar sobre o assunto, mas não respondeu a esse questionamento. 

A motorista Márcia Navarro, que roda para Uber, Lady Driver e 99, reclama da falta de segurança e assédio no trabalho. Por isso que a categoria quer a instalação de câmeras nos carros das mulheres. “Peguei um rapaz jovem que queria, insistentemente, que eu saltasse do carro e fosse com ele para um barzinho. Disse que ele não poderia me assediar dentro de meu carro e que, se ele insistisse mais, que iria na delegacia”, exemplifica.  

O ato teve baixa adesão e cerca de 30 motoristas compareceram no Centro Administrativo, pela manhã. Ao todo, Salvador tem entre 26 mil e 32 mil motoristas por aplicativo cadastrados.  Vick Passos, presidente da Coopmmap, discursa em favor dos motoristas (Foto: Arrison Marinho/CORREIO) PL quer regulamentar profissão dos motoristas por aplicativo  Um projeto de lei, de número 2061/2021, na Câmara dos Deputados, de autoria do Deputado Vicentinho (PT/SP), quer regulamentar a profissão dos motoristas por aplicativo. Segundo o coordenador jurídico do Sindicato Dos Motoristas De Transporte Privado Individual De Passageiros Por Aplicativos Do Estado Da Bahia (Sindimab), Diego Alves, esse é o caminho para a garantia de direitos à categoria.  

“Já chegou em um momento em que esse vínculo de motorista e empresas é reconhecido como contrato simples. Então, o novo caminho que deve ser feito é na área federal, para ser reconhecida a profissão do motorista de aplicativo para ele ser protegido pela lei e não apenas por um contrato, em que cada empresa faz o que quer, e depender de um juiz”, argumenta Alves.  

Na visão dele, isso facilitará a resolução de conflitos entre o motorista e as empresas. “Hoje, o motorista não define nada na sua relação de trabalho. A empresa define os valores, quando ele trabalha, como ele trabalha e existem casos de motorista expulso porque retirou a barba e a inteligência artificial não o reconheceu. Entramos na Justiça, provamos que foi um erro da plataforma, mas, profissional ficou sem trabalhar por três a cinco meses”, adiciona.  

A Uber afirmou que "estão sendo investidos cerca de R$ 100 milhões em iniciativas como promoções de ganhos adicionais e parcerias que ajudam a reduzir os custos dos parceiros, além de um reajuste temporário no preço das viagens". O reajuste de 6,5%, segundo a empresa, tem o "objetivo de ajudar os motoristas parceiros a lidar com o pico de alta em seus custos operacionais".

Além disso, a Uber afirma que dá desconto de 20% no abastecimento de gasolina pelos motoristas parceiros, por meio de uma parceria de cashback entre a Uber Conta, rede Ipiranga e app abastece-aí. "A Uber foi a primeira e atualmente é a única plataforma que oferece a seus parceiros, a possibilidade de ter desconto no combustível", informa. 

Reivindicações dos motoristas:Fixar a porcentagem que a Uber recebe em 20%; Reajuste do valor do quilômetro para todas as corridas: Uber X (R$ 2), Comfort (R$ 2,40) e Black (R$ 3,20); Cobrança de taxa de deslocamento até o passageiro, para distâncias superiores a 2km; Adicional de 25% para viagens a partir de 30 km; Melhorias e bolsões em aeroportos (áreas de embarque e desembarque); Melhorar os incentivos para os motoristas com melhor pontuação; Câmera em todos os carros de motoristas mulheres; Contato direto com o suporte por telefone, para todas as categorias; Extratos semanais contendo data, número de corrida, km rodado, valor e taxa.