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Terra desliza duas vezes e condena cinco imóveis em São Caetano


 

Moradores da Ladeira do Cacau contabilizam prejuízos após chuva forte

  • Bruno Wendel

Publicado em 26/11/2019 às 19:39:00
Atualizado em 20/04/2023 às 13:40:05
. Crédito: Foto: Bruno Wendel/CORREIO

Foto: Bruno Wendel/CORREIO A terra deslizou duas vezes na Rua Engenheiro Austricliano, conhecida como Ladeira do Cacau, e cinco imóveis foram condenados pela Defesa Civil no bairro de São Caetano, em Salvador, durante as fortes chuvas desta terça-feira (26). Os deslizamentos aconteceram em momentos distintos e ninguém ficou ferido. 

A primeira situação ocorreu ainda de madrugada, por volta de 4h, quando um terreno de três metros de altura cedeu e invadiu a via que faz a ligação de São Caetano ao Largo do Tanque. Como consequência, a chuva levou também parte da varanda de uma casa vizinha.

"Acordei com a minha irmã me gritando, pedindo para eu sair da minha casa, que foi condenada pela Defesa Civil por conta também das rachaduras na varanda", disse a dona de casa Cristiane Oliveira de Almeida, 53 anos. Foto: Bruno Wendel/CORREIO Por volta das 8h, a cerca de 100 metros de distância, um novo deslizamento na Ladeira do Cacau. Parte de uma encosta, de aproximadamente seis metros, também cedeu e comprometeu a estrutura de quatro prédios – um com dois pavimentos e outros três com três pavimentos.

A costureira Luciene Ferreira Santos, 44, moradora de um dos prédios, chegou ao local em prantos e mal conseguia falar. Ela havia saído de casa antes de a terra ceder e foi amparada por vizinhos e parentes.

“Compramos o terreno há dez anos e a casa, tijolo a tijolo, foi fruto de nosso suor”, disse o marido dela, o comerciante Ednaldo Ferreira Santos, 53.  

A residência do casal é a do meio entre os prédios de três pavimentos e a mais atingida, porque a cratera aberta engoliu boa parte da calçada defronte ao imóvel.

“Não podemos retirar nada porque a Codesal condenou. Só podemos entrar com a autorização. Estou torcendo para que a cratera não avance”, comentou.   O primeiro deslizamento aconteceu por volta das 4h (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Logo após os dois deslizamentos, o volume de terra escorreu para a via, impedindo parcialmente o fluxo de veículos nas primeiras horas do dia. “Quando entregaram a obra, não fizeram a contenção das encostas que cederam hoje”, disse o líder comunitário Domingos Moreira. 

Ele se refere à requalificação da Ladeira do Cacau entregue em 2016, após cinco anos de interdição. Na ocasião, foram realizados serviços de drenagem, pavimentação, passeio, requalificação e construção de casas, além da contenção de encosta. 

Durante coletiva de imprensa para apresentar o balanço das ações dos órgãos públicos, o prefeito ACM Neto informou que a Ladeira do Cacau permanecerá interditada até que seja feita a avaliação da encosta da região.

"Nós estávamos na região da Liberdade, visitando a Ladeira do Cacau, onde teve um deslizamento, talvez o mais intenso. Felizmente não houve vítima fatal. A comunidade nos informou que nesse final de semana havia uma pessoa escavando a encosta e isso contribui para o deslizamento", disse. O gestor acrescentou que a Defesa Civil (Codesal) está mapeando a área e já retirou famílias do local. A Empresa de Limpeza Urbana (Limpurb) também iniciou a remoção da terra que deslizou na ladeira.

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Protesto Ainda por volta das 9h30, veículos trafegavam com dificuldades por conta do rio de lama. No entanto, revoltados com a situação, moradores do entorno da Ladeira do Cacau bloquearam o acesso à via, usando contêineres de lixo, caixotes e pedaços de madeiras. 

“A população já não aguenta mais tanto descaso. O que queremos é resolver o problema. A via não pode ser liberada sem que executem a obra de contenção das encostas que desabaram hoje. Um dos engenheiros da própria Codesal esteve aqui e disse que os prédios podem ser engolidos pela cratera e arrastados para o outro lado, inclusive carros e podendo atingir também outros imóveis”, declarou o líder comunitário Domingos Moreira. 

Um dos moradores preocupados com a situação é Dogivaldo dos Santos Ramos, 57. A casa dele fica num nível abaixo da pista. “Se a encosta voltar a ceder, vai trazer tudo para o lado de cá e a minha casa será uma das primeiras a serem atingidas”, lamentou.

Sirenes Logo nas primeiras horas do dia, as sirenes do Sistema de Alerta e Alarme da Codesal foram acionadas após alerta máximo de risco muito alto para deslizamentos. O que se esperava é que as pessoas que moram em área de risco saíssem de suas casas e fossem direto para uma escola municipal determinada como ponto de encontro - o que não aconteceu. 

Três escolas estavam à espera de pessoas que moram em área de risco nos bairros de São Caetano e Bom Juá, mas na manhã desta terça-feira (26) ninguém apareceu. As comunidades passaram por treinamentos com base no Plano de Proteção e Defesa Civil (PPDC). 

Um dos pontos de encontro, a Escola Municipal Antônio Carlos Magalhães, em São Caetano, teve aula, mas não realizou nenhum atendimento referente ao PPDC. “O que achamos é que até agora ninguém esteve aqui. Os alunos compareceram, poucos, mas compareceram. Os professores estão todos aí, mas ninguém veio buscar abrigo”, disse a vice-diretora da escola Ana Elisa Drummond. 

Na Escola Comunitária de Bom Juá também não foi registrada a presença de moradores em busca de abrigo. “Toda a nossa equipe está aqui à disposição para ajudar nessa ação da Prefeitura, mas ninguém esteve aqui. Com essa chuva, nem os alunos vieram”, declarou a vice-diretora Anaildes Souza de Jesus. 

Outro ponto de encontro que não registou frequência dos moradores em área de risco foi a Escola Municipal Xavier Marques, também no Bom Juá. “Acredito que essa ausência tenha sido por conta da dificuldade de chegarem até aqui, por que houve muito pontos de alagamentos. A frente a escola mesmo, logo cedo parecia uma lagoa”, explicou a vice-diretora Neuma Pereira.