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Concerto de Natal da Osba celebra retorno do 'público-crush'


 

Carlos Prazeres comenta os altos e baixos de seus dez anos na gestão e fala sobre os objetivos para a próxima década

  • Vinicius Nascimento

Publicado em 15/12/2021 às 06:00:00
Atualizado em 22/04/2023 às 18:33:06
. Crédito: Foto: Gabrielle Guido

Há uma década, a vida de Carlos Prazeres deu uma guinada que foi seguida de várias voltas inesperadas. Maestro da Orquestra Sinfônica da Bahia, ele completou 10 anos no comando da Osba e terá um final de ano com agenda cheia. Amanhã, divide o palco com o grupo pop Melim, no Rio de Janeiro, e logo no dia seguinte  rege o Natal Solidário da Osba, no Teatro Castro Alves - concerto que marca a despedida da sinfônica dos palcos em 2021.

Durante os dez anos da atuação do maestro, houve um aumento de 200% no público da Osba, que é hoje a única orquestra com um fã clube organizado, apelidado de forma bem-humorada pelo maestro de “público crush”. Tornou-se frequente a lotação do teatro nos dias de concerto e a Osba está no time das orquestras mais respeitadas do país, cobiçada por músicos que querem se apresentar com o grupo: realidade que parecia difícil lá atrás, quando ela viu vários de seus músicos se aposentarem e ainda enfrentou dificuldades de reposição. Em 2014, a Osba chegou a um naipe com apenas 4 violinistas, quando o básico é ter pelo menos 12. 

“Nesses 10 anos, tive momentos de altos e baixos. Foram várias fases. Entre 2011 e 2012, minha prioridade foi construir a parte mais importante, que considero, de uma orquestra sinfônica: o público. E foi esse público o determinante para enfrentarmos e superar as dificuldades que vivemos”, resume o maestro.

Popularização A regência de Carlos Prazeres é marcada justamente pela popularização da Osba. Defensor da ideia de que a música clássica precisa se renovar, ele lidera projetos como o Cine Concerto, um dos grandes sucessos de sua gestão - onde a Osba toca uma série de clássicos dos cinemas.

“O cine concerto mudou nossa imagem e ela começou a ser um chamariz público imenso. Ali, ela ganhou a sociedade que estava inserida. Nem que fosse atraindo para o Cine Concerto para depois mostrar Beethoven, Mozart e etc, mas de uma forma nova e jovial, sem mudar a essência da música”, afirma o maestro.

Outros projetos vieram: Sarau, o Futurível, por exemplo e a série Mãe Menininha do Gantois - na valorização de artistas e tradições culturais locais, tais como o grupo percussivo Rum Alagbê, Márcia Short e Lazzo Matumbi. Aliás, pela primeira vez as religiões de matriz africana entram de forma simbólica no espaço de apresentação de uma orquestra, o que mostra a busca pela inclusão e diversidade na música de concerto.

A Osba também investiu em compositores clássicos históricos da Bahia, que vão desde os imortais Domingos da Rocha Mussurunga ou Damião Barbosa de Araújo, até os dias de hoje, com Paulo Lima e Wellington Gomes, entre outros. E também se aproximou de compositores da nossa música popular, como Caetano Veloso, Luiz Caldas e Gilberto Gil, entre outros. 

Vida na pandemia Durante a pandemia, a orquestra enfrentou o desafio de se reinventar e realizou ações como o Sarau Online, dois documentários (Abraço do Tempo e Solário) e a irreverente Ópera da Vacina - paródia de uma ária célebre ópera A Flauta Mágica, de Mozart) - para reforçar a importância da vacinação. Todos estão disponíveis no canal da OSBA no YouTube (https://www.youtube.com/c/OSBAOrquestraSinfonicadaBahia).

O maestro também recicla constantemente o seu repertório regendo grandes orquestras em diversas cidades mundo afora, tais como Roma, Helsinborg, Nantes, Cidade do México, Buenos Aires, entre outras. O concerto mais recente foi com a Filarmônica de Bogotá, em setembro deste ano. Por aqui, além de reger constantemente orquestras nacionais, Prazeres desenvolve uma importante parceria com o gestor cultural Rafaello Ramundo, o que lhe permite ampliar os limites da música de concerto.

Por meio de projetos como o Prudential Concerts e Música em Movimento (EMS), o público pôde ouvir a música  de Gilberto Gil, Daniela Mercury, Maria Rita, Frejat, Rogerio Flausino e Alceu Valença, entre outros, dividindo um espaço democrático e fluido com as obras de grandes clássicos como Bach, Brahms e Villa-Lobos. Essas misturas, para Prazeres, falam muito sobre a Bahia e sobre o seu projeto para a Osba.

“A Bahia me deu régua e compasso para pensar que a Orquestra não está na sociedade para civilizar a sociedade. Ela está para trocar. Eu posso dizer que a Osba hoje tem tudo. Ela quer saber o que o público baiano escuta, e o que gostamos. Tudo é música, tudo é bom”, disse Prazeres.

É com essa mistura que Prazeres deseja continuar o seu casamento com a Orquestra Sinfônica da Bahia. Entre os sonhos para os próximos 10 anos, estão a construção de uma sala específica para os concertos e a consolidação perene do público. Este, o aliado número 1 de sua gestão e da Orquestra. Osba em ação durante o Cine Concerto (Foto: Rafael Martins/Divulgação Dirceu dos teclados participará do Concerto de Natal

Um toró, daqueles que aparece e some do nada em Salvador, mudou a vida de Adilson Rafael da Cruz, em agosto. Ele vendia seus salgados próximo ao shopping Barra, quando foi surpreendido com uma vontade de ir ao banheiro. Para esperar a chuva passar, o músico sentou-se para tocar o piano de livre acesso, localizado na praça central do shopping. Em pouco tempo, encantou a plateia com o clássico My Way, de Frank Sinatra. Foi filmado e seu vídeo parou na Internet e viralizou, com mais de 5 milhões de visualizações.  Dirceu dos Teclados em apresentação no Shopping Barra, onde foi descoberto (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Mais conhecido como Dirceu dos Teclados, seu nome artístico, ele participará do Concerto Natalino da Osba. Adilson, que além do piano toca também violão, teclado, contrabaixo e guitarra, vai interpretar a música “My Way”, consagrada na voz de Frank Sinatra, no piano acompanhado da orquestra, a partir do arranjo de Jean Marques.

“Essa participação de Dirceu fala muito sobre esse projeto que temos de fazer uma música clássica que conquista o seu entorno e está atenta ao que acontece nele. É um músico primoroso, que vai nos acompanhar tocando uma música linda como My Way”, afirma Carlos Prazeres.

Com regência do maestro, o concerto tem um programa bem diverso e propõe um passeio pelo mundo através de árias de ópera com a solista Priscila Olegário (soprano), com obras do compositor alemão Richard Wagner (1813-1883), do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), do russo Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893), do brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), entre outras.

SERVIÇO

O Quê:Concerto de Natal da Osba

Quando   Dia 17 (sexta-feira), às 20h Onde :  Teatro Castro Alves, Campo Grande

Ingressos    R$ 20 | R$ 10, à venda na bilheteria do TCA, entre 12h e 20h e no site da Sympla