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Moyses Suzart
Publicado em 24 de agosto de 2025 às 05:00
O CORREIO acompanhou, em São Paulo, o Universo Totvs 2025, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do país. Em meio a discussões sobre o futuro dos negócios, transformação digital e uso de dados, conversamos com Fábio Fantini, diretor-executivo da Totvs Leste, unidade que abrange a Bahia e outros estados. Na entrevista, Fábio fala sobre como a inteligência artificial está transformando o dia a dia das empresas, explica o papel da nuvem, dos modelos de linguagem e como a IA pode se tornar um importante aliado para o progresso das empresas baianas.>
Quem é >
Fábio Fantini Economista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Há 21 anos na Totvs, iniciou como Executivo de Vendas quando ainda na empresa RM Sistemas. Passou por diversas áreas e funções até que em 2009 passou a empreender como franqueado da Totvs. Hoje está à frente dos escritórios da Bahia e Sergipe, da Totvs Leste.>
Qual é o cenário atual para as empresas que querem aderir à inteligência artificial?>
A IA é um tema que já vem sendo discutido há bastante tempo. Algumas empresas e núcleos de inovação já experimentavam, testavam, mas ainda era uma tecnologia cara, restrita a grandes companhias, como foi no início dos computadores e smartphones. Hoje, a inteligência artificial chegou de vez para o usuário final, muito por conta da popularização de modelos como o ChatGPT e o Gemini. Isso democratizou o acesso e acelerou muito a evolução dessa tecnologia. Para as empresas, isso é uma oportunidade enorme. Ela ajuda a automatizar tarefas repetitivas, libera tempo para atividades mais criativas e estratégicas, e torna os processos mais ágeis. É um caminho sem volta. E quem não estiver atento a isso vai ficar para trás.>
Como ocorre essa integração entre o planejamento dos recursos da empresa e a inteligência artificial?>
O DPA (Arquitetura de Plataforma Digital, sigla em inglês) vem justamente para organizar esse universo de dados da IA dentro da empresa. Por quê? Porque hoje as empresas têm muitos dados valiosos para o negócio mas, se não houver governança, segurança e estrutura, esses dados podem se perder ou ficar expostos. Essa plataforma permite usar a IA que já existe nesses modelos, aplicada ao contexto do cliente, de forma integrada e segura. Um exemplo é o software de gestão. Ela cobre tudo, desde faturamento, vendas, controle de produção até a contabilidade e a parte fiscal. Trouxemos isso para a nuvem, que reduz custos e garante acesso de qualquer lugar. >
As empresas estão migrando seus dados para a nuvem?>
Hoje em dia, se eu vou abrir uma loja, construir uma fábrica ou montar um centro de distribuição, eu preciso estar conectado e quase tudo já está na nuvem. Essa migração é um caminho natural, porque a nuvem oferece uma grande vantagem: você contrata exatamente a capacidade de processamento que precisa, sob demanda. No modelo antigo, era preciso um local, ter servidores ligados 24 horas, gerava muitos custos. Na nuvem, não. Essa flexibilidade torna tudo mais prático, acessível e seguro.>
Uma pesquisa apontou que 50% das empresas no Brasil ainda não utilizam IA de forma estruturada, incluindo as empresas baianas. Você sente que as empresas ainda têm medo de adotar a inteligência artificial?>
As empresas baianas estão dentro deste caminho natural da utilização da IA. Convidamos, inclusive, muitos dos nossos clientes baianos para o Universo Totvs 2025 e eles enxergaram ainda mais o potencial. Eu não diria medo. Acho que é mais um cuidado natural. As empresas sempre querem proteger o negócio delas. Qualquer mudança grande dentro de uma corporação gera desafios, porque se a transformação for muito rápida, pode bagunçar processos e estruturas. Nós, que somos de uma geração que viu a transição da máquina de escrever para o computador e depois para a internet, sentimos bem essa diferença de ritmo. Antes, as inovações vinham de dez em dez anos. Hoje, é de seis em seis meses. A nova geração já nasce acostumada com isso. >
Mas é compreensível o receio de mudar de forma tão rápida e contínua, não?>
Eu gosto de usar uma analogia simples: é como andar numa montanha-russa. No começo, dá medo, você acha que é perigoso, não quer ir de jeito nenhum. Mas, depois que experimenta, vê que é seguro, divertido, tudo aquilo que ele achava que não era. Com a inteligência artificial é a mesma coisa. O empresário, quando experimenta, vê que é seguro, que traz resultado, eficiência, e aí ele não quer mais ficar sem. >
Retomando a pesquisa, você considera as empresas baianas atrasadas neste aspecto de adoção da IA? A metade ainda não utiliza…>
Eu vejo como oportunidade. Esse número é o retrato de hoje. A IA começou mesmo a se popularizar com a geração de conteúdo, como vimos com o ChatGPT. Acredito que, quando atualizarmos esta pesquisa no ano que vem, esse número já vai ter triplicado. Por quê? Porque a adoção agora é muito mais rápida. Assim que o empresário enxerga que aquilo traz ganho de eficiência, produtividade e resultado, não tem como voltar atrás. E é importante frisar: a IA não veio para substituir o ser humano, mas para auxiliar. Para manter a empregabilidade, as pessoas precisam saber usar a IA a seu favor. Saber programar, saber o que pedir, como explorar o potencial da ferramenta para criar soluções melhores. Quem faz isso tem vantagem.>
Dê um exemplo prático de como a IA já está mudando o dia a dia de um negócio?>
Imagine uma escola que ainda faz matrícula com processos manuais, checando documentos um a um. Nós já temos soluções em que a própria IA faz a validação automática: o sistema confere se o documento está certo, se a foto confere, se o endereço bate, tudo de forma digital. Isso acelera o processo, reduz custos e elimina gargalos. Outro exemplo é a gestão de estoque. Com IA, é possível analisar automaticamente se a empresa está comprando na quantidade certa, no momento certo. Isso evita excesso ou falta de mercadoria, economiza dinheiro e aumenta a eficiência. Ou seja, se uma empresa não faz, o concorrente já está fazendo.>
E como a Totvs prepara os clientes para criar modelos próprios de IA?>
A gente oferece recursos para que o cliente construa o próprio modelo de linguagem treinado com os dados da própria empresa. Isso torna o uso muito mais direto: quando o colaborador faz uma pergunta objetiva, o modelo já entende o contexto, porque foi treinado especificamente para aquele negócio. Muita gente ainda acha a IA abstrata, difícil de se conectar ao negócio. O nosso papel é justamente entregar isso de forma prática, segura e integrada, para que o empresário perceba logo o impacto positivo nos resultados.>