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Thais Borges
Publicado em 25 de junho de 2025 às 05:00
Se você não conseguiu curtir o São João ou é do time daquelas pessoas que acreditam que festa junina nunca é demais, saiba que ainda pode ter uma chance. Isso porque as comemorações não acabaram: a partir deste fim de semana, pelo menos 84 cidades baianas terão festas de São Pedro e arraiás que seguem até meados de julho. >
Enquanto algumas já se consolidaram como datas tradicionais dos municípios, outros festejos foram criados estrategicamente nos últimos anos para fomentar calendários de eventos sem concorrer com destinos que promovem festas de São João. Com atrações de renome e visitantes de outras cidades, quem decide pelo São Pedro ou por um São João tardio aponta o mesmo saldo: o impacto econômico relevante. Em alguns casos, a movimentação chega a R$40 milhões durante os dias de festa. >
A lista com as 84 cidades foi catalogada pelo CORREIO, com base no Painel de Transparência dos Festejos Juninos na Bahia, organizado pelo Ministério Público do Estado, e em anúncios nos sites e nas redes sociais das prefeituras. Os eventos se estendem até o fim da primeira quinzena de julho, mas muitos começam já agora. >
Em geral, a programação dos municípios inclui nomes locais e regionais, mas também grandes figuras da música nacional. Alguns exemplos são Wesley Safadão, que tem shows em Oliveira dos Brejinhos no domingo e em Bom Jesus da Lapa na segunda (30); Simone Mendes, que estará em Eunápolis também na segunda, e Bell Marques, que se apresenta em Itaparica (segunda), Pau Brasil (dia 5), Ibirapitanga (dia 6) e Ribeira do Pombal (dia 9). >
Em Caém, no Centro-Norte baiano, o São Pedro começou por iniciativa de um grupo de estudantes, na época formandos, que decidiu celebrar a data na praça. “A festa foi criando forma e o município assumiu. Agora, por noite, a gente bota de 10 a 12 mil pessoas”, conta o prefeito Arnaldo Oliveira. A celebração vai acontecer na próxima semana, entre os dias 4 e 6 de julho porque, segundo o prefeito, deixar o evento mais longe do São João facilita a contratação de estruturas. >
A grade inclui artistas como Targino Gondim, Silvano Sales e Matheuzinho do Acordeon na sexta-feira e Devinho Novaes no sábado. No domingo, a festa é encerrada com o Bloco Visita às Viúvas, que tem a tradição de sair com um minitrio visitando as casas das viúvas da cidade. Além de ser padroeiro dos pescadores, São Pedro é considerado o santo das viúvas e viúvos. >
“Cuido muito do feedback das pessoas, para melhorar de um ano para o outro, e considero que temos o melhor São Pedro da nossa região da Chapada do Piemonte. É uma grade de artistas para agradar todos os gostos, mas a gente preza muito pelo forró nordestino. Até a decoração, a gente tem a tradição de buscar muito o histórico da cidade, com temas bem regionais”. >
Público>
A maior parte do público é de pessoas que vêm de cidades próximas, a exemplo de Jacobina, Saúde, Capim Grosso, Serrolândia e os próprios nativos de Caém que moram em outras localidades. O prefeito estima que os três dias de festa movimentam cerca de R$2 milhões na economia da cidade de pouco mais de 10 mil habitantes.>
“Não tem mais casa para alugar, foram mais de 50 alugadas. É uma cidade pequena, então 50 casas têm um impacto, assim como restaurantes, pousadas e barraqueiros. A gente se preocupa muito com a segurança e, em todos esses anos, nunca teve nenhuma ocorrência que possa criar um impacto negativo”, explica. Para a edição deste ano, a prefeitura contratou um sistema de videomonitoramento com câmeras nas estradas da cidade e no circuito. >
Em Prado, no Extremo Sul baiano, haverá festejos de São Pedro com benção aos pescadores, desfile de barcos e shows com atrações locais e regionais entre sexta e domingo. No entanto, a cidade ainda terá seu São João entre os dias 3 e 6 de julho. De acordo com a administração municipal, a programação foi pensada para famílias. Entre os nomes, há artistas como Nadson, Thiago Aquino e Saia Rodada. >
“Os festejos juninos em Prado vão muito além da tradição cultural. Eles movimentam a economia local, fortalecem o comércio, geram empregos temporários e impulsionam o turismo em toda a cidade. Cada arraial, cada apresentação e cada detalhe da nossa festa aquece a rede de hospedagem, os bares, restaurantes e serviços, mostrando que o São João é, sim, uma grande força para o desenvolvimento do nosso município", diz a secretária municipal de turismo, Iracema Ribeiro. >
Sustentável>
Já o Ita Pedro, o São Pedro de Itabuna, terá início nesta quinta-feira (26) e segue até domingo (29), dia do santo. A primeira edição do evento foi em 2022, porque, até então, a cidade não tinha uma festa própria do período. O atual prefeito, Augusto Castro, adotou a pauta como uma promessa de campanha, segundo o presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (Ficc), Aldo Rebouças. >
“A gente entendia que o Ita Pedro seria um propulsor econômico muito grande, tendo em vista a localização estratégica do município, que é cortado por BRs e BAs. A gente pensou no São Pedro porque poucas cidades faziam a festa na região. São João é uma data que tem mais concorrência”, explica. Naquele primeiro ano, 80 mil pessoas compareceram.>
No ano passado, apenas a noite de sábado recebeu um público de 140 mil participantes, calculado pelo sistema de reconhecimento facial da Secretaria da Segurança Pública do Estado. Ao fim dos quatro dias, foram 400 mil pessoas. Segundo Rebouças, a expectativa deste ano é ultrapassar esse número “tranquilamente”. >
“A rede hoteleira teve ocupação de 100%, além de pessoas alugando suas casas, uma coisa que nunca existiu em Itabuna. O comércio estava aquecido e toda a cadeia econômica foi impulsionada”. >
No Ita Pedro, de acordo com o presidente da Ficc, há também uma preocupação em seguir a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, que é um plano estratégico para o desenvolvimento sustentável. Foram desenvolvidas medidas no âmbito ambiental em conjunto com o evento. >
“Tinha um lixão histórico, insalubre, e a prefeitura profissionalizou e fundou uma associação de catadores. Antes, eram pessoas que não tinham nenhuma orientação profissional e, agora, participam de todos os eventos municipais. A gente consegue destinar os resíduos a um descarte apropriado e também para reciclagem. Nesse período (do Ita Pedro), elas coletaram mais de cinco toneladas. Para elas, é quase como um 14º salário”, conta. >
Das 36 atrações, aproximadamente metade delas é de artistas da própria cidade ou da região. Há, além desses, artistas conhecidos nacionalmente, como Solange Almeida, a dupla Henrique e Juliano e Natanzinho Lima. De acordo com Rebouças, essa combinação é possível porque a estrutura montada permite ter até nove atrações por noite na Arena Zé Cachoeira, montada no bairro de São Caetano. >
A tranquilidade e o aspecto familiar do São Pedro em Heliópolis, no Nordeste baiano, são alguns dos pontos que atraem a cidade como destino, na avaliação da enfermeira aposentada Maria Vânia Carvalho, 64 anos. Ela se acostumou a passar as férias na cidade desde a adolescência, quando sua irmã mais velha se mudou para lá. >
“Na época, todas as cidades comemoravam o São João e as atrações maiores iam para lá. No São Pedro, eles conseguiam trazer artistas mais famosos mais facilmente. Eu sempre estava por lá e sempre gostei”, conta. >
Este ano, a festa será nos dias 11, 12 e 13 de julho e contará com nomes como Solange Almeida, Alcimar Monteiro e Oh Polêmico. Maria Vânia pretende ir no dia 10 e voltar no dia 15. >
“É um lugar relativamente pequeno e é muito família. Eu conheço todo mundo. É uma cidade muito alegre, que a gente se sente bem lá. O forró é na rua da casa da minha irmã. Se você não quiser sair de casa, consegue assistir tudo ainda assim”, conta. >