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Demanda por transplante dispara na Bahia e fila chega a 3,8 mil pacientes

Em apenas quatro anos, aumento no número de pessoas à espera da cirurgia foi de 188%

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 11 de agosto de 2025 às 05:00

Transplante de órgão
Transplante de órgão Crédito: Shutterstock

Só de janeiro a julho deste ano, cerca de 800 transplantes de órgãos foram realizados na Bahia. Mas o número não supre a alta demanda. Até o último mês, 3.820 pessoas aguardavam na lista de espera do estado. Segundo o coordenador do Sistema Estadual de Transplantes da Bahia, Eraldo Moura, a explicação passa pelo fato de que cada vez mais doenças podem ser contornadas com o transplante.

Além disso, a modalidade tem consolidação recente. A Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CET) entrou em atuação em 1997, segundo informações da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Quando a psicóloga Verena Martins, de 37 anos, precisou de um transplante de rim, em 2014, entrou na fila de São Paulo, orientada pelos médicos que disseram que lá o processo andaria mais rápido.

Nem assim ela teve muita esperança. “Eu achava que era algo muito raro encontrar um doador compatível, que transplante era coisa de novela”, lembra. Depois de dois anos de espera, ela foi chamada. O rim é o órgão mais requisitado na fila da Bahia. Até o mês passado, 2.123 pessoas precisavam de um. De 2015 para 2024, o aumento de pacientes foi de 230%, o maior entre os órgãos.

A aposentada Rosana Varela, de 64 anos, também entrou na fila de São Paulo, em 2017. Mas, quando o hospital que a atendia em Salvador começou a fazer transplantes, ela fez transferência para a espera da Bahia, em 2021. No mesmo ano, recebeu um rim novo.

“A Bahia vem ampliando o número de doação e de transplante em Salvador e interior, permitido acesso a esse tratamento mais próximo dos pacientes. Atualmente, realizamos transplante de coração, fígado, rim, córnea, medula óssea, osso e pele. Estamos em fase de implantação do transplante de pulmão”, diz o coordenador Eraldo Moura.

De 2015 a 2024, o número de transplantes cresceu 81% na Bahia. Os órgãos mais transplantados por aqui são córnea, com 557 casos em 2024, rim, com 261 casos, e medula, com 119. Enquanto o número de transplantes quase dobrou, o de pessoas na fila de espera, de fato, dobrou, registrando um aumento de 102% no mesmo período. A fila se manteve com poucas alterações de 2015 até 2020 e, em seguida, apenas cresceu, completando 188% de 2020 para 2024.

Transplante de órgãos
Transplante de órgãos Crédito: Divulgação/Governo do Rio de Janeiro

Como funciona?

Os transplantes de órgãos são indicados para pessoas que tenham doenças que não respondam mais a outros tratamentos. Assim, é a última alternativa terapêutica para quem teve perda de funcionalidade do órgão. Pode ser feito a partir de doador vivo (com parentesco de até quarto grau ou sendo cônjuge do receptor, ou ainda sem parentesco, apenas com autorização judicial) ou doador falecido com morte encefálica, que ainda depende de autorização da família.

Os órgãos que podem ser doados em vida são: parte do fígado ou pulmão e um rim. A medula óssea é o tecido que pode ser doado em vida. Já em caso de doador morto, os órgãos são: coração, pulmão, rins, fígado, pâncreas e intestino, além de pele, córnea e osso.

Na Bahia, os principais hospitais para transplantes são Hospital Ana Nery, Hospital Geral Roberto Santos, Hospital Português, Hospital São Rafael, Hospital Aliança, Hospital Cardio Pulmonar, Hospital São Vicente (Vitória da Conquista) e Hospital Dom Pedro de Alcântara (Feira de Santana).

“Quanto ao perfil dos pacientes que aguardam transplante, aproximadamente 50% deles são homens e 50% são mulheres, com poucas variações. Quanto à idade, a maioria está acima dos 50 anos, mas também temos até crianças e adolescentes”, diz Eraldo Moura.

O Brasil é uma referência mundial em transplantes, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Em junho deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que o país bateu recorde de transplantes, com mais de 30 mil operações em 2024 e um aumento de 18% em relação a 2022. Em todo o país, atualmente, 78 mil pessoas estão na lista de espera.

Importância de doar

A aposentada Rosana Varela fazia diálise e hemodiálise antes do transplante. Lembra o desgaste físico e emocional enquanto estava na fila e também do rim de amigurumi (técnica japonesa com crochê e tricô) que recebeu da filha nove meses antes da cirurgia, apelidado, com bom-humor, de Rimnaldo. Convivia com limitações como só beber 150ml de água por dia. Hoje, tem uma pequena geladeira no quarto com água à vontade.

Rim de amiguri que Rosana recebeu da filha
Rim de amigurumi que Rosana recebeu da filha Crédito: Arquivo Pessoal

Ela diz que, se puder, certamente será doadora. Os filhos já manifestaram às pessoas ao redor a vontade de serem doadores. O mesmo aconteceu com a psicóloga Verena Martins. Depois que ela realizou o transplante, ela e os amigos fizeram a nova carteira de identidade com a sinalização da vontade de serem doadores.

“As doações são anônimas e eu não sei quem doou o rim para mim, mas eu oro todos os dias agradecendo a essa pessoa e a essa família que teve essa iniciativa de doar”, diz Verena. Ela tem lúpus, uma doença autoimune que a levou à perda da função renal. Também fez diálise e hemodiálise antes do transplante. Estava ligada à máquina de diálise na cama na noite em que recebeu a ligação do hospital de São Paulo dizendo que havia um rim para ela.

Verena e o marido iniciaram, então, a correria para pegar o voo até o estado no dia seguinte. “Foi uma correria, passamos por complicações com pouso e chegamos atrasados no hospital, já 21h. Tinham dito que eu precisava chegar até 19h, mas fiz os exames e deu tudo certo”, lembra ela.

Verena ainda precisa fazer acompanhamentos a cada três meses e exames periódicos, mas celebra ter uma vida quase normal. “É importante dizer que com a diálise a vida não era ruim, eu me casei e fiz uma viagem internacional nessa fase. Mas, claro, o transplante me deu vida nova, é muito bom não depender de uma máquina”, finaliza.