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Thais Borges
Carolina Cerqueira
Publicado em 21 de setembro de 2024 às 05:00
Quando Datena atingiu Pablo Marçal com uma cadeira, o corpo dele reagiu a um comando do cérebro, que por sua vez reagiu a uma provocação do candidato do PRTB. “Você falou esses dias que queria ter me dado um tapa, você não é homem nem para fazer isso”, foi a fala de Marçal segundos antes de ser atingido. >
Nas redes, enquanto uns avaliaram a atitude de Datena como justificável diante da provocação, outros criticaram a falta de “controle emocional”. A psiquiatra Maria Clara Silveira, no entanto, no vídeo publicado no Instagram, rebate o pensamento, afirmando que é possível controlar atitudes e, não, emoções. >
“As nossas emoções são leituras que o nosso cérebro faz do estado do nosso corpo a cada momento. Quando estamos vivendo um estado emocional de estresse, o cérebro levanta hipóteses do que pode fazer para reestabelecer o equilíbrio interno do corpo e do corpo em relação ao mundo”, explica. Para Datena, a hipótese acatada foi partir para a agressão. >
“Naquele contexto, se Datena se sentiu engatilhado em relação a sua masculinidade por conta do que Marçal estava falando, o comportamento que ele teve restauraria a percepção dele em relação à própria masculinidade. Depois de demonstrar agressividade, é bem possível que ele tenha sentido alívio”, finaliza Maria Clara Silveira. >
A palavra “masculinidade” foi usada por conta do trecho “você não é homem nem para fazer isso”, contido na frase de Marçal durante o debate. Para o doutor líder do grupo de pesquisa Masculinidades em Discurso da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Fábio Oliveira, a fala vem da associação do masculino à apresentação de força e coragem e reivindicação de respeito. >
“É um psiquismo que conta com as singularidades do sujeito, mas também é construído a partir dos sentidos que circulam na sociedade, da ideia de que, para ser homem, deve-se ser respeitado e, se não for por bem, seria preciso utilizar qualquer estratégia para que isso aconteça. Não ser respeitado em sua masculinidade se torna insuportável para boa parte dos homens heterossexuais”, coloca o pesquisador. >
A reação foi naturalizada por parte dos comentadores na internet, segundo Oliveira, seguindo o princípio enraizado na sociedade de “não levar desaforo para casa”, aliado à construção do heroísmo e da legitimação da violência masculina. “Datena constrói o sentido de cidadão de bem que chegou ao limite, que não aguenta desaforo, que faz justiça com as próprias mãos”, coloca o pesquisador. >