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'Eu sou o próprio Fantasmão': EdCity reflete sobre o passado e admite erros

Cantor revelou, em entrevista ao CORREIO, que turnê pode se estender:  'Tem tudo para a gente fazer por mais tempo'

  • Foto do(a) author(a) Fernanda Santana
  • Fernanda Santana

Publicado em 18 de outubro de 2025 às 08:00

Há um mês, EdCity anunciou que estava de volta ao Fantasmão, criado por ele e pelo empresário Franco Daniele em 2006.
Há um mês, EdCity anunciou que estava de volta ao Fantasmão, criado por ele e pelo empresário Franco Daniele em 2006. Crédito: Sora Maia/CORREIO

Criada em 2006, a Banda Fantasmão revolucionou o pagodão baiano: levou as pautas da periferia para o repertório, popularizou o groove arrastado e apresentou músicos pintados de branco, vestidos de mortalha, em alusão ao nome do grupo — uma ousadia rara hoje em dia.

A banda surgiu quando a internet começava a bombar e protagonizou os primeiros virais do pagode. Só no finado Orkut, o Fantasmão reunia 810 comunidades — quem viveu essa época sabe o peso desse número, que ultrapassou (e muito) o ambiente virtual.

“De fato, foi um marco porque, até então, o pagode baiano só remetia à diversão, né? Eu acho que o que convergiu, principalmente, foi a nossa ousadia, a verdade. E aí a galera entendeu”, diz EdCity, 16 anos depois do início da banda e agora em seu retorno ao grupo.

Há um mês, EdCity anunciou que estava de volta ao Fantasmão, criado por ele e pelo empresário Franco Daniele em 2006. A notícia fez Salvador acordar de novo nos anos 2000.

Neste domingo (19), o Fantasmão faz seu primeiro show (gratuito) de retorno em Salvador, no Parque da Cidade, a partir das 11h. A reestreia estava marcada para antes, mas precisou ser adiada por um motivo pouco comum na indústria de shows ultimamente: a demanda foi tanta que os organizadores temeram pela segurança da estrutura da Cruz Caída, onde o Fantasmão costumava realizar seus ensaios de verão.

A quatro dias do reencontro com o público de Salvador à frente da banda que o consagrou, EdCity conversou com o CORREIO. Ele ri e se emociona com os erros e acertos que o trouxeram até aqui, explica o que o fez pensar no retorno ao Fantasmão e reflete sobre o futuro na banda. Uma versão especial da entrevista pode ser conferida no canal do Youtube do jornal (@correio24hBahia). Inscreva-se no canal para acompanhar os conteúdos.

“Todos os erros foram muito importantes para que eu chegasse até aqui, sabe? Então, eu não reclamo, de fato, eu não me arrependo. Algumas coisas eu não faria novamente, mas acho que tudo foi importante. Não existe sucesso sem os fracassos”.

O que convergiu para que o Fantasmão se transformasse em um verdadeiro fenômeno?

De fato, foi um marco porque, até então, o pagode baiano só remetia à diversão, né? O que é muito bom também. Mas o Fantasmão trouxe essa questão social. Essa abordagem nas letras, mais para o social mesmo, dando voz ao povo da favela, dando voz a muitas pessoas que são discriminadas, marginalizadas, e falando das mazelas do nosso povo. Reafirmando também, mostrando o nosso valor, mostrando que quem mora no gueto não é ladrão, quem mora no gueto é cidadão. E eu acho que o que convergiu, principalmente, foi a nossa ousadia, a verdade. E aí a galera entendeu. Acho que tudo que é verdadeiro permanece, fica, não passa.

Vocês esperavam, quando anunciaram esse show, que a demanda seria tão grande a ponto de vocês nem poderem realizar o show lá, porque poderia trazer insegurança estrutural para o local?

Olha, no fundo eu sabia. Eu, Franco Daniele, sabíamos. Mas acho que superou até o que nós mesmos esperávamos, sabe? A expectativa era grande, mas superou o que a gente estava esperando. E quando eu digo que sabia, é porque os fãs sempre pediram, desde sempre: “Volta para o Fantasmão, canta as músicas antigas”. E eu acho que esse impacto foi maior porque eu nunca dei indício de que essa volta pudesse acontecer.

Você nunca deixou claro que poderia acontecer o retorno. Também não sabia se queria?

Uma boa parte do tempo, assim, tem 15, 16 anos... Posso dizer que, na metade desse tempo, eu não queria mesmo. Porque eu estava bem, né, na minha carreira, desenvolvendo a carreira, e eu saí também por conta de algumas divergências. E isso machuca a gente, né? Você abandonar um projeto que você criou. Mas isso ficou no passado, e na metade desse tempo começou a intensificar esse pedido de volta. Eu estava muito bem, e foi muito legal também essa volta por isso. Eu sempre tive tranquilidade na minha carreira. Para mim, para minha família, nós estávamos muito bem. E acho que o mais legal foi isso, né? Poder voltar porque eu realmente quis, porque achei que era a hora certa e não por uma necessidade, sabe?

De quem foi a ideia, então? Foi sua?

Foi minha. Já tinham tentado antes, mas eu não me sentia pronto, não achava que era o momento correto. E aí não rolou. Tudo no tempo de Deus, e aconteceu agora. Foi bom que partiu de mim mesmo, né? Fantasmão é a minha mais bela criação, é como um filho.

Quando percebeu que era o momento certo?

A gente sente que o mercado, o pagode, tomou caminhos muito diferentes daquilo que a gente fazia... E eu vejo que tem esse clima, essa coisa nostálgica das músicas antigas. As pessoas estão carentes daquelas letras mais elaboradas, de conteúdo, que retratam o cotidiano das periferias, daquelas pessoas que querem se reafirmar, mostrar seu valor. Então, acho que veio na hora certa para o momento que a gente vem atravessando no nosso país e nas comunidades.

Como conciliar essa nostalgia com a necessidade de ser relevante também artisticamente?

Então, a gente, nesse primeiro momento, quer fazer com que as pessoas possam reviver aquelas memórias afetivas que são insuperáveis. Quem conheceu seu marido no show do Fantasma, quem foi para o show sem saber como ia voltar, que dormiu na rodoviária para esperar o próximo ônibus. Eu falo que eu poderia estar no topo do mundo, mas aquele momento jamais seria superado, sabe? Para algumas pessoas. Então, eu acho que é isso. Além do novo que a gente pretende também trazer, o principal objetivo é fazer com que as pessoas possam reviver essas memórias.

Você acha que o Fantasmão vai se encaixar justamente nesse momento do mercado do pagode?

O Fantasmão não se encaixa, não quer se encaixar. O Fantasma tem sua própria personalidade, sua identidade, que é muito forte, e não tem necessidade de se encaixar nos padrões. A gente sempre quis defender a favela, mas eu acredito que essa abrangência surgiu da nossa pluralidade musical. Porque o Fantasmão tem o groove arrastado, que é um subgênero do pagode, onde a gente coloca todas as nossas influências dentro do caldeirão e deu nisso, sabe? No groove arrastado.

Mas você sabia que estava criando algo ali?

Não, não necessariamente. Eu só queria expor a minha verdade, musicalmente falando, artisticamente falando, sabe? E eu sempre quis ser diferente, eu nunca quis ser igual. Pô, quando eu estava no Parangolé mesmo, eu usava basquete troçado no joelho. Diziam: “Pô, esse cara é maluco, nada a ver com o pagode”. Nunca quis ser igual. Ser igual é muito chato. Eu sempre quis ser diferente, e no Fantasma não foi diferente também. Eu falei: “Ó, velho, vamos tirar o cavaco aqui, vamos botar outra guitarra, vamos botar uma mortalha, vamos pintar o rosto”. Então, sempre foi diferente.

Por que, diferentemente dos outros artistas do mercado, você quis trazer essa pauta da crítica social para as músicas?

Quando eu saí do Parangolé, através da música Baculejo, despertou em mim que era possível fazer isso. E aí vieram todas as minhas influências, tudo que eu ouvia... Edson Gomes, que passei a infância ouvindo, e que já fazia isso. Os Racionais, através do rap. E, no pagode, não tinha ninguém. Não tinha nenhuma banda, então eu quis usar o pagode, que era tão popular, para também mandar mensa

Houve dificuldade por esse seu tipo de escolha musical?

Não percebi nenhuma resistência assim, inicialmente, mas nada nunca foi fácil para mim. Mas eu sempre tive uma personalidade muito forte e eu bato de frente mesmo. Inclusive, no Fantasmão, foi unanimidade: ninguém queria esse nome. As pessoas queriam que eu colocasse o nome de alguma música de sucesso do Parangolé da minha época, sabe? Como Ai Delícia ou Baculejo. Eu falei: ‘O nome da minha banda agora vai ser Fantasmão, sacou? Se você acreditar, a gente cola junto. Se você não acreditar, eu vou seguir meu caminho’. Eu sempre fui muito firme nas minhas decisões, naquilo em que eu acredito. E até hoje eu sou assim. Claro que hoje, com a maturidade, a gente tenta ser um pouco mais flexível, a gente ouve mais, mas eu continuo firme nas minhas decisões.

Em uma entrevista de 2012, você falou que não iria tocar no Salvador Fest. Disse que não aceitaria tocar num palco de pagode, porque estava cansado de ser coadjuvante e de ser tratado “como uma bandinha”, termos seus. Você sofreu algum tipo de retaliação por ser tão sincero e assertivo?

Eu acho que sim. Eu era muito aquele cara emocional, sabe? Botava para fora tudo que vinha na minha mente e coração. Hoje, eu sou um cara mais racional, penso nas consequências. Depois que você falou, já foi lançado no mundão, e é complicado. Mas, sim, naquele momento eu me sentia injustiçado. Eu achava que merecia um espaço maior, uma oportunidade melhor para estar ali entre as grandes atrações, no palco principal, mas não aconteceu. A dor é a melhor forma de aprender. E foram muitos altos e baixos, né? Tem uma frase de Marco Aurélio, um imperador romano, filósofo estoico também, que falava que os obstáculos não atrapalham o caminho, os obstáculos são o caminho, sabe? E eu levo isso comigo. Todos os erros foram muito importantes para que eu chegasse até aqui, sabe? Então, eu não reclamo, de fato, eu não me arrependo. Algumas coisas eu não faria novamente, mas acho que tudo foi importante. Não existe sucesso sem os fracassos.

Isso tem tudo a ver com a persistência. Em várias entrevistas, você fala que, no início, se considerava muito ruim, mas que era um cara persistente e valorizava muito isso. Hoje, finalmente, você acha que é bom?

É difícil ficar falando sobre mim mesmo dessa forma. Mas eu acho que eu melhorei muito. Eu melhorei muito, tenho muito ainda para melhorar. Acho que essa busca pela evolução deve ser contínua. Meu professor de karatê me ensinou que, no momento em que a gente acha que sabe tudo, é aí que a gente não sabe nada. Então, a busca pela evolução deve ser constante.

Você revelou que pensou em desistir. Uma vez, inclusive, decidiu pegar um guarda-roupa e colocar para vender, mas que sua mãe não deixou. Qual é o peso da sua família para essa persistência?

Total. Total. Abaixo de Deus, assim, minha mãe, meu pai... Se não fossem eles, eu com certeza não conseguiria, porque, quando ninguém acreditava em mim, eles acreditavam, sabe? E correram muito atrás. Meu pai foi o meu primeiro empresário, sem nenhuma condição para desenvolver aquela função, mas só para realizar o sonho do filho. E minha mãe também, sabe? Eles são tudo para mim. Depois, minha esposa também, tudo para mim. Inclusive, esse guarda-roupa foi minha esposa, que era minha namorada na época, que comprou para mim no crediário dela, sabe? E a única coisa que eu tinha assim era esse guarda-roupa. E aí eu botei na frente de casa para vender, para pegar o dinheiro e ir para algum lugar tentar, sabe? Queria ir para Sergipe.

Tentar o quê?

Tentar a oportunidade, sabe? Porque eu pensava: ‘Pô, Sergipe é o menor estado, Aracaju é a menor capital, mas é uma capital, eu posso ter alguma oportunidade lá, sabe? Porque estava muito difícil no interior’. Mas não consegui vender.

Que bom, né?

É, que bom. Que bom, porque logo depois veio esse convite para ir para o Parangolé, né? E tudo aconteceu.

Nos últimos shows do Fantasmão, a banda se apresentava com a cara limpa. Tem uma história de 2010 em que Terry fala que, num show em Sergipe, as pessoas chegaram a falar: ‘Isso aí é Fantasmão? Não estão com o rosto pintado’. E agora vocês voltam com o rosto pintado. Você falou um pouco de arrependimentos ao longo da entrevista e de erros e acertos. Esse é um deles?

Eu tirei, mas eu acho que tirei no último carnaval, quando eu já tinha a pretensão de sair, sabe? E aí eu tirei. Mas pode ter acontecido em algum outro show, mas eu não lembro de ter sofrido nada assim do público, sabe? Isso nunca aconteceu comigo, de o público achar que não era Fantasmão, não. Eu sou o próprio Fantasmão, como é que não era Fantasmão? Com tinta ou sem tinta, eu sou Fantasmão.

Você sempre pensou assim?

Eu sempre tive essa certeza, porque foi algo que partiu de mim, sabe? E agora, nesse momento, meu nome vem ali também junto, porque a marca não ficou parada sem fazer nada depois que eu saí. Então, foram muitos cantores que passaram pela banda, sabe? Então, a melhor forma de as pessoas saberem que era eu que estava de volta era botando meu nome: EdCity Fantasma. E aí não teria nenhuma dúvida, sabe?

Ao sair do Fantasmão, você disse que era hora de alçar voos mais altos e que, para isso, era preciso abrir mão em nome de metas maiores. Essas metas foram alcançadas?

Foram alcançadas. Eu consegui, sim, realizar. Não à toa foram 16 anos de carreira solo, né?

Vocês voltam para uma turnê de um ano. Mas esse retorno pode ser definitivo?

Inicialmente, é uma turnê de um ano. Mas eu acredito que, da forma que está indo, tem tudo para a gente fazer por mais tempo.

Como será o Carnaval?

Um dia vai ser aqui no Carnaval de Salvador, no Campo Grande. Eu quero mais dias e parece que já tem outro dia, parece que na Barra.