Dinheiro perdido: Maranhão é destino de cargas da Bahia, que sofre sem acessos eficientes para escoar produção

Parte da produção de grãos do Oeste é escoada pelo Porto de Itaqui

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 28 de outubro de 2023 às 05:00

Ferrovia Norte-Sul é atrativo para porto maranhense Crédito: Arquivo CORREIO

Enquanto a Bahia espera acessos eficientes para conectar os quase mil quilômetros de distância entre a região Oeste e o litoral, quase 25% da soja produzida no estado atualmente é escoada pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, passando pela Ferrovia Norte-Sul. No caso do algodão, a solução para parte da safra é um caminho ainda mais distante, os portos de Santos (SP) e até Paranaguá (PR).

O percurso de longas distâncias corrói parte dos ganhos de produtores, torna os produtos menos competitivos em mercados que são globais e acaba limitando a ampliação da produção, explica o produtor rural Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb).

“A gente consegue produzir e ser competitivos, apesar da logística disponível hoje ser horrorosa. A gente produz grãos, parte sai por Itaqui, pelo Ceará e até pelo Porto de Santos”, lamenta.

“Imagina ter que percorrer toda essa distância para escoar a produção, a quantidade de custos e perdas. E esta não uma realidade apenas no casos dos grãos”, pondera Miranda. Ele lembra ainda da situação dos produtores de frutas no Norte, na região do Vale do São Francisco. “Boa parte de nossa produção acaba sendo escoada por outros estados”, diz.

O presidente da Faeb avalia que um dos maiores equívocos de planejamento já vistos foi permitir o sucateamento da estrutura ferroviária do estado. “Nós vivemos um cenário em que tudo o que se produz e aquilo que precisamos receber como insumos de produção acabam sendo movimentados a partir de caminhões. Encarece a produção, vai de encontro à sustentabilidade e torna as estradas inseguras”, lamenta.

Humberto Miranda cita como exemplo o caso de uma estrutura ferroviária capaz de carregar 6 mil toneladas de cargas, que seria suficiente para retirar das estradas 170 carretas.

“Isso impacta até nos custos de manutenção das estradas e nos custos dos alimentos para a população”, aponta.

Apesar de reconhecer o avanço que será trazido pela operação da Fiol, Humberto Miranda defende que o estado não abra mão de seguir buscando uma solução para a estrutura da FCA. “Precisamos ter os braços que cortam outras regiões”, defende.

Centralização

A concentração das decisões sobre os investimentos em infraestrutura portuária em Brasília é prejudicial aos estados, acredita o especialista em portos e logística de Comércio Exterior, Matheus Oliva, CEO da Movimento & Oportunidade. Para ele, a Bahia possui uma infraestrutura razoável na Baía de Todos-os-Santos, que, no entanto, “num horizonte próximo, estará saturada”. No restante do litoral, por outro lado, a situação é muito ruim, avalia.

“Eu não gosto do modelo atual, em que os portos de Salvador, Aratu e Ilhéus são administrados por Brasília. Todos os assuntos de relevância estratégica acabam tendo que ser levados a Brasília”, pondera. Para ele o estado perde muito com isso. “É um conceito errado de planejamento central, custoso, burocrático, prejudicial ao estado e ao país como um todo”, avalia.

“Os estados que administram seus próprios portos, como Ceará, Pernambuco, Maranhão, Paraná e Santa Catarina, são muito mais atraentes para investimentos, são mais ágeis nas respostas e têm melhor alinhamento ao plano de desenvolvimento”, avalia o especialista em portos e logística.

Matheus Oliva recomenda que o governo estadual tome para si a tarefa de reunir associações, de polos produtivos e outros interessados em coordenar o planejamento estratégico do comércio exterior. “Vejo um imenso vazio nessa questão, enquanto o Ceará e o Maranhão estão avançando em sua corrente de comércio exterior. Há muitos empresários carentes de apoio institucional para atuar no mercado externo”, afirma.

Matheus Oliva considera absurdo o que foi feito com a rede ferroviária estadual. “Um estado imenso, com polos produtivos distantes do litoral, não poderia ter deixado essa questão de lado. O resultado é que estamos perdendo muita carga para outros estados”, ressalta.

“A Bahia pode ser um grande parceiro de Goiás, Mato Grosso e Piauí. Imagine quanta riqueza teríamos se alcançássemos essas fronteiras por vias ferroviárias ligadas aos nossos portos?”, projeta.

Para ele, este cenário provocou perdas bilionárias para a região em investimentos que deixaram de se concretizar, em renda para a população e na arrecadação tributária.

O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Intermarítima e Wilson Sons e apoio institucional da Fieb.