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Maysa Polcri
Publicado em 3 de junho de 2025 às 05:30
Pergunte para qualquer vendedor baiano de fogos de artifício de onde vêm os produtos que ficam expostos nas prateleiras. A resposta será sempre a mesma: Santo Antônio do Monte, em Minas Gerais. O pequeno município de 27 mil habitantes é responsável pela produção dos fogos que levam brilho às festas de São João na Bahia e encantam pessoas de todas as idades. Com cerca de 70 fábricas, a cidade supera a China e domina o mercado regional. >
Track de massa, chuvinha, vulcão... Todos os tipos de fogos mais vendidos durante o mês de junho em Salvador e no interior são de origem mineira. É de Santo Antônio do Monte que saem 90% dos fogos vendidos em todo o Brasil. Para garantir as compras, é preciso fazer os pedidos cedo. Mara Rúbia Scher, responsável pela Aladin Fogos de Artifício, em Feira de Santana, conta que as remessas deste ano foram solicitadas em setembro do ano passado. >
"Santo Antônio do Monte é o segundo maior polo de fogos de artifício do mundo, só perdendo para a China. Esses fogos vêm praticamente todos de lá e outras duas cidades: Pedras do Indaiá e Japaraíba. Juntas, elas têm mais de 150 fábricas que exportam para todo o Brasil", explica Mara Rúbia.>
Em 2023, a cidade mineira destaque na produção retomou a exportação de artefatos para os Estados Unidos e voltou a concorrer diretamente com a China. Só naquele ano foram cerca de 27 toneladas de produtos pirotécnicos destinados ao mercado norte-americano. >
A vendedora de fogos pontua que os produtores chineses garantem que o mercado baiano seja abastecido com novidades. "Hoje em dia temos muitos itens diferentes, como abelhinhas, mariposas, aviões, entre outros tipos de fogos. É justamente graças à variedade dos produtos importados", diz. Apesar disso, é de Minas Gerais que vem a maioria dos itens que fazem o São João da Bahia acontecer. >
Assim como outros vendedores de Salvador, Pedro Pinto fez uma remessa de pedidos de fogos de artifício de Santo Antônio do Monte para serem vendidos na capital. Até segunda-feira (2), no entanto, não havia previsão para que os artefatos chegassem à cidade. Isso porque a tradicional feira de fogos que é montada na avenida Paralela ainda não foi liberada para uso. O espaço é atualmente ocupado pelo circo Kroner. Sem a liberação do terreno, o comerciante não pode receber os produtos. >
"As fábricas de Monte Santo ficam carregadas e aguardam os pedidos feitos em Salvador. Por conta da fiscalização, só podemos receber os produtos quando tivermos um espaço destinado para isso", diz o vendedor, que aguarda a chegada de cerca de 300 fogos de artifício. >
Mas se o estado é um dos maiores em tradição na festa, por que os produtos não são feitos aqui? Para Hernan Cunha, da Xuxa Rei dos Fogos, falta ao estado as condições adequadas para a produção, que é delicada e passa por fiscalização do Exército. "A pessoa precisa ter um imóvel isolado e que seja grande, para garantir a segurança. Outra questão é a vistoria, que é muito criteriosa. Não é um ramo de atividades para amadores e nem para quem não tem dinheiro", afirma. >
Enquanto o mercado formal não cria fôlego para acompanhar o do estado sudestino, produtores de fogos de artifício ilegais se espalham pelo território baiano. Apenas neste ano, mais de 2,8 milhões de artigos produzidos sem autorização foram apreendidos na Bahia. A operação 'Brincar com Fogo', conduzida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Polícia Civil, encontrou pessoas que cedem suas próprias casas para a produção ilegal. Duas pessoas foram presas. >
Operação mira fabricação e venda de fogos ilegais
"Os líderes geralmente utilizam pessoas laranjas para ocultar a identidade de quem está por trás da produção ilegal. São pessoas que precisam do trabalho para sobreviver e se arriscam, muitas vezes dentro da sua própria casa", explica a delegada Daniela Fernandes, coordenadora de fiscalização da Polícia Civil. É dessa forma que muitas vezes são produzidas as espadas, que protagonizam as 'guerras' que geram admiração e medo em cidades como Santo Antônio de Jesus e Cruz das Almas. >
A produção é artesanal e utiliza pólvora, limalha de vidro e barro. A delegada alerta para os riscos da produção. "Nosso maior alvo são os depósitos onde ficam armazenados os fogos ilegais, além do comércio. O consumidor fica sujeito a acidentes porque os produtos não passaram por fiscalização e inspeções técnicas, além dos riscos de grandes explosões que podem ocorrer durante a fabricação", completa Daniela Fernandes. >
Em 1998, um acidente em uma fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus causou a morte de 64 pessoas, sendo 20 crianças, que trabalhavam na produção dos artefatos. Um dos estabelecimentos fechados durante a operação de maio deste ano pertence a parentes dos antigos donos onde houve a explosão no final dos anos 1990. >