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Larissa Almeida
Publicado em 26 de junho de 2025 às 05:00
O anúncio de um hambúrguer com promoção imperdível é oferecido por uma suposta rede de franquia com alcance nacional. Ao clicar no endereço do site, o consumidor é redirecionado para uma página padronizada para compras de comida online. Tudo esbanja normalidade, exceto a forma de pagamento restrita – só aceita Pix – e a disponibilidade conveniente: em toda cidade, há uma loja próxima de você. Esses sinais, que costumam passar despercebidos, são alguns dos principais indicativos de golpes aplicados por falsas lojas no Instagram que vendem produtos que nunca chegam. >
O modus operandi varia a depender da fraude. Em geral, as páginas das supostas lojas tentam manter uma fachada confiável, com alto número de seguidores, imagens atraentes com ultra definição, supostos prints de avaliações de clientes satisfeitos e até comentários positivos de diferentes perfis. Ao conseguir capturar a atenção de um comprador e receber um pedido, a loja não realiza a entrega do que foi solicitado, bloqueia o cliente ou some. >
Segundo o DataSenado, golpes digitais vitimaram 24% dos brasileiros com mais de 16 anos entre outubro de 2023 e outubro de 2024. Isso significa dizer que 40,8 milhões de pessoas tiveram prejuízo financeiro em função de algum crime cibernético, o que inclui fraude na internet. >
Uma vez que ainda não há proteção para esse tipo de caso, todo comprador de produtos online pode estar vulnerável a cair em um desses golpes. De acordo com dados mais recentes da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), que datam de 2024, esse todo, no Brasil, é equivalente a 91,3 milhões de compradores do e-commerce, que realizaram 414,9 milhões de pedidos somente em 2023. >
O Nordeste é a terceira região do país com maior registro de movimentação no setor, com participação em 16% das compras do comércio online, ficando atrás apenas da região Sudeste (55,8%) e Sul (16,9%). A Bahia, em específico, é o 7º estado com maior número de faturamento nesse setor, sendo a maior força da região. Com base em dados da ABComm, a participação do estado é de 4,6% – aproximadamente, R$ 9,4 bilhões. >
Diante da alta movimentação de valores e do grande número de pessoas que fazem uso do comércio online, especialistas defendem uma maior proteção a esses usuários, bem como a intensificação de alertas. O advogado Ivan Pires, especialista em Direito do Consumidor, acredita que a atenção aos sinais é a principal forma de prevenção e explica o mecanismo dos golpistas. >
“O modo como essas falsas lojas atuam nas redes sociais, geralmente, dificultam muito que a localização do responsável por esses golpes, pois a maioria não tem uma duração prolongada, surgindo e desaparecendo muito rápido, utilizando inteligência artificial e contas com dados fraudulentos. Existem golpes em vendas de serviço, aluguel de imóveis, venda de roupas e acessórios, entre outros”, pontua. >
Em alguns casos, o conteúdo dessas lojas fraudulentas é impulsionado pelo próprio Instagram e outras plataformas digitais, como o Youtube e Kwai. Na rede social das fotos e vídeos, prevalecem os casos de posts patrocinados que anunciam venda de roupas, acessórios, produtos eletrônicos e itens para casa – todos a baixo custo. Nos comentários, para cada relato de pessoas que pediram e receberam o produto, há pelo menos dezenas de pessoas que reclamam de nunca terem recebido a entrega. >
A autônoma Juliana Pereira, 30 anos, foi uma das pessoas lesadas pelo golpe da falsa loja no Instagram. Ela conta que viu o anúncio de um console de jogos portátil por R$ 90 e, por impulso, comprou para garantir o baixo preço. Somente dias depois se deu conta de que havia algo errado com o pedido. >
“Não teve nenhuma confirmação depois da compra, não chegou nada no e-mail e eu achei estranho. Esperei três dias e então percebi que foi um golpe, porque resolvi entrar no site. Quando eu acessava, a página dizia que estava indisponível. Eu não conseguia acessar o site de jeito nenhum, era como se ele tivesse sido desativado. [...] Me deu aquele sentimento horrível de desespero, mesmo não sendo um valor tão alto”, relata. >
Na perspectiva da advogada Tamiride Monteiro, que é especialista em Direito Digital e Cybercrime, os golpistas têm se aperfeiçoado para enganar mais pessoas. Ela aponta a existência de uma engenharia social, que cria uma abordagem persuasiva com uso de robôs e pessoas para convencer as vítimas. >
“Tudo é estudado pelos golpistas. Eles registram páginas com datas recentes que imitam lojas legítimas, com design profissional e URLs semelhantes, usando HTTPS para parecerem confiáveis e personalizam golpes através da comercialização de dados. Digo que é a mercadoria mais cara do mundo, como os 120 milhões de dados vendidos por uma quadrilha em 2024”, afirma. >
Para se prevenir desses golpes, a recomendação é verificar a legitimidade de lojas, seja através do Reclame Aqui ou por meio da busca por endereço e CNPJ, evitar clicar em anúncios, monitoramento de conta bancária para detectar transações não autorizadas e ativar a autenticação em dois fatores. Quem foi lesado, pode procurar a polícia especializada em cybercrimes para prestar queixa e tentar reaver valores junto ao banco. >
• Preços muito abaixo do mercado; >
• Urgência ou pressão para compra; >
• Links suspeitos: links encurtados ou com erro ortográfico; >
• Métodos de pagamento não seguros: exigência de Pix, transferência bancária ou vouchers sem opção de cartão de crédito; >
• Falta de avaliações confiáveis: lojas sem histórico ou com avaliações muito recentes e genéricas; >
• Lojas com comentários bloqueados nas páginas das redes sociais >