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Publicado em 12 de maio de 2025 às 05:00
Com a justificativa de estimular revitalização da indústria norte-americana, em abril, o governo Trump anunciou a imposição de tarifas sobre todos os seus parceiros, escalando uma guerra comercial com a China. Até meados do mês, os EUA tinham elevado para 145% as tarifas sobre produtos chineses, flexibilizando-as para smartphones, monitores de computador e diversos componentes eletrônicos, e adiado em 90 dias a vigência das tarifas adicionais para os demais países (a tarifa mínima de 10% foi mantida para todos). Por sua vez, a China impôs tarifas de 125% sobre produtos norte-americanos e restringiu as exportações de metais de terras raras. Os desdobramentos e os seus impactos no comércio e na economia mundial ainda são incertos. >
Para os EUA, as medidas deverão provocar aumento de preços no curto prazo e desaceleração (com probabilidade de recessão) da atividade econômica, influenciada pela paralisia de investidores e consumidores com o cenário de incerteza. Já os impactos sobre a economia chinesa dependerão da evolução da guerra comercial, mas há uma tendência de redirecionamento de parte dos manufaturados chineses para outros mercados, dentre eles, o Brasil. A OMC projeta que as exportações chinesas para os EUA poderão cair 77% (principalmente as de têxteis, confecções e equipamentos elétricos), sendo desviadas para outras regiões. No caso específico da América do Sul, a expectativa é de crescimento de 9% das importações da China.>
A análise da matriz industrial baiana sinaliza possíveis impactos: as exportações de derivados de soja e algodão para a China têm potencial para crescer. Do ponto de vista das ameaças, há dois blocos: produtos que podem perder competitividade no mercado norte-americano – celulose, pneus, benzeno, ferroligas, dentre outros – e segmentos sujeitos ao risco de uma “enxurrada” de produtos chineses no mercado brasileiro, com destaque para os produtos químicos, que, nos últimos anos, já vêm sofrendo com o aumento da concorrência de importados da China. Outros segmentos podem ser afetados: materiais elétricos, têxteis, confecções, produtos de metal, metalúrgicos, plásticos e borracha, calçados e equipamentos eletrônicos. De acordo com o IBGE, esses segmentos respondem por mais da metade do Valor da Transformação Industrial e do Pessoal Ocupado Total da Indústria de Transformação da Bahia. >
Nota-se que há riscos de dano em algumas cadeias industriais baianas, com potencial de retração da produção e postergação de investimentos. Nesse sentido, o Observatório da Indústria da Fieb vem monitorando as importações brasileiras de produtos chineses e os seus desdobramentos estão sendo pautados em um de grupo de trabalho do Fórum das Grandes Indústrias da Fieb.>
Marcus Emerson Verhine é gerente executivo de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústria do Estado da Bahia (FIEB)>