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Bruno Wendel
Publicado em 2 de outubro de 2018 às 20:17
- Atualizado há 2 anos
Alexandre de Mendonça da Silva Filho, 33 anos, diácono da Igreja Batista Pentecostal Poço de Jacó, no Centro de Lauro de Freitas, se preparava para tocar a bateria num dos louvores durante o culto, na última sexta-feira (28). O templo estava lotado por volta das 20h. Entre os fiéis, a mulher e a filha de Alexandre, uma garota de 14 anos.>
A pastora que comandava a celebração se aprontava para pregar a palavra. No entanto, policiais civis subiram primeiro no altar e, sem cerimônia, algemaram Alexandre. “Fizeram isso bem na frente de todos. A mulher e a filha estavam na primeira fileira. Foi uma agressão tão violenta”, disse uma fiel, que faz parte de liderança da igreja, ao CORREIO.>
Do altar, Alexandre foi levado para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, de onde partiria depois para sua terra natal. Se em Lauro de Freitas ele era um homem de fé respeitado entre os conhecidos, a mais de 700 km de distância, na cidade de Limoeiro, no Agreste de Pernambuco, era o líder de uma quadrilha de traficantes. Contra ele, pesam diversos crimes, incluindo assassinatos.>
Três mandados de prisão foram expedidos contra ele e cumpridos por agentes do Departamento de Repressão a Crimes Organizados (Draco) da Bahia. >
Ao Jornal do Commercio, a Polícia Civil de Pernambuco, onde ele já encontra-se custodiado, informou que Alexandre era "alvo prioritário, por ser de alta periculosidade". Segundo a corporação, contra o traficante havia dois mandados de prisão em aberto e outros em andamento por homicídio, latrocínio e venda de drogas. Alexandre em Limoeiro (PE), para onde foi encaminhado após ser preso na Bahia, onde estava escondido há cerca de 5 anos (Foto: Divulgação/SSP-BA) A prisão de Alexandre deixou os fiéis perplexos. “Nós nunca poderíamos imaginar que algo assim fosse acontecer, ainda mais num dia de culto. Foi uma bomba para a igreja”, relatou a liderança religiosa ouvida pela reportagem.>
Seis policiais foram cumprir os mandados contra Alexandre na Igreja Poço de Jacó, situada na Rua Miguel Santos Silva.“Estava ao lado da pastora quando dois policiais explicaram o que estavam fazendo na igreja. Enquanto isso, outros policiais já estavam no altar e um deles algemou Alexandre”, contou a mulher.Pastor e empresário? Membros da igreja explicaram que Alexandre, na verdade, era diácono, ou seja, "um ajudante do pastor, que, em algumas oportunidades, prega". Assim, quem realmente está à frente da comunidade religiosa é uma pastora, que não teve o nome divulgado.>
"E outra coisa: ele não é empresário. Ele trabalha num frigorífico e vende frutas e verduras no centro”, comentou o mesmo fiel que contestou a informação divulgada pela polícia sobre sua função na igreja. Sede da Igreja Pentecostal Poço de Jacó, no Centro de Lauro de Freitas (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Testemunho Alexandre era uma pessoa reservada na igreja e poucos sabiam detalhes de sua vida pessoal. “Às pessoas que fazem parte da liderança, ele dizia que tinha algo a acertar com a Justiça, que precisaria ir para Pernambuco, mas tinha medo de ficar preso por lá, porque não tinha advogado”, declarou a mulher, que faz parte da liderança. >
Questionada se em algum momento Alexandre contou por quais crimes era acusado, a mulher respondeu que não. "No testemunho, ele só dizia que precisava responder por algo e que tinha medo de se apresentar à polícia. Talvez a pastora saiba mais sobre ele, afinal, ele era diácono dela”, comentou.>
Servo Alexandre passou a frequentar a Igreja Poço de Jacó quando o templo era em outro endereço, também em Lauro. Isso foi há cinco anos. Ele, a mulher e a filha caminhavam quando passaram em frente e resolveram entrar. “Daí, o casal gostou e, junto com a criança, passaram a ir constantemente”, relatou uma das lideranças. >
Um ano depois, Alexandre alcançou o status de diácono ('quase pastor') na igreja."Ele se dedicou muito à obra, evangelizando, aconselhando. À medida que você vai se doando para Deus, o pastor separa a ovelha para a obra. Foi o que aconteceu com ele", disse. Apesar de toda a situação que atualmente envolve Alexandre, lideranças da igreja disseram que o diácono hoje é outra pessoa, que não está mais envolvido com a criminalidade.>
“Aqui recebemos todo o tipo de gente e não fazemos discriminação. Acredito que hoje ele é um servo de Deus. Uma pessoa convertida, transformada pelo Senhor”, reforçou uma das lideranças. >
Vizinhos A igreja está situada numa rua residencial e tem cultos às quartas e sextas-feiras às 19h e domingos às 18h. Alguns vizinhos disseram que souberam da prisão com a chegada da equipe do CORREIO.>
“Não sabia. Por isso que hoje a igreja amanheceu fechada. Mesmo quando não é horário de culto, logo cedo, sempre tem alguém limpando, mas desde ontem (segunda) que está fechada. Estou surpresa. Um homem da igreja procurado até por homicídio...”, disse a moradora de um prédio vizinho. >
Já um outro morador disse que viu o momento que os policiais chegaram, na sexta-feira. “Todos à paisana. Chegaram de uma só vez. Parecia uma operação para pegar um grande bandido. E ele era um cara 'na dele'. Passava e cumprimentava todo mundo. Jamais imaginaria que ele seria capaz de algo assim”, comentou.>