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Tailane Muniz
Publicado em 7 de agosto de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Aposentado da Polícia Militar, o sargento Orlando Carvalho da Silva, 67 anos, não é visto na Rua Ipitanga, no bairro de Nova Brasília de Itapuã, em Salvador, desde a prisão do filho, o autônomo Gilmar Soares da Gama, 30. Juntos, pai e filho assassinaram, no início do mês de julho, três da mesma família, incluindo um garotinho de apenas 5 anos, na localidade de Monte Gordo, no município de Camaçari. Réus em outros dois processos criminais, de acordo com o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), pai e filho devem responder à Justiça, no próximo 30 de outubro, no entanto, por flagrante de 2015. >
Conhecido como Patola, Gilmar foi preso em Serrinha, no centro norte do estado, na última sexta-feira (2). Em depoimento, não só confessou a autoria das três mortes do mês passado, como garantiu a participação do pai no triplo homicídio, que tinha como objetivo "vingar" a morte do irmão, Caio Soares, supostamente assassinado em 2011, aos 18 anos. Além de Gilmar e Orlando, outros dois suspeitos, incluindo um PM que não teve o nome divulgado, também são procurados.>
O histórico da Polícia Civil sugere, no entanto, que não é de agora que os suspeitos cometem crimes juntos. Orlando e Gilmar foram presos pela primeira vez em 2015, quando foram pegos em flagrante a bordo de um carro sem placa de identificação, portando quatro armas em situação irregular, em frente à 26ª Delegacia (Vila de Abrantes) - a que se refere o julgamento agendado para acontecer em três meses.>
Titular da unidade da RMS, a delegada Danielle Monteiro explicou que os investigadores acreditavam que pai e filho, que estavam acompanhados de outros dois PMs, se preparavam para promover "um atentado contra a unidade policial". Em contato com o CORREIO, nesta terça-feira (6), a delegada afirmou se recordar "muito bem" da circunstância das prisões O PM da reserva Orlando Carvalho da Silva, pai de Gilmar, e Anthony Adrian dos Santos Gomes são procurados (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Embora quase quatro anos tenham passado desde o flagrante, em novembro de 2015, a delegada contou que lembra detalhes do dia. Na época, segundo ela, "tudo levava a crer" que Orlando e Gilmar, além do soldado Wllysses Ferreira Fontes, lotado na 81ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Itinga), e Arthur dos Santos Castro Júnior, da 50ª CIPM (Sete de Abril), que acompanhavam pai e filho, tinham ligação direta com os irmãos ciganos os Evanilton e Fábio Ribeiro, que haviam se apresentado na unidade momentos antes. >
'Atentado' Os ciganos eram investigados por Danielle pela execução do empresário Ademir Martins dos Santos, um idoso de 69 anos, morto em Barra do Jacuípe na frente de familiares. À reportagem, a delegada comentou que, embora Gilmar e Orlando oficialmente tenham residência em Nova Brasília de Itapuã, onde têm um lava-jato, eles "sempre frequentaram localidades da Região Metropolitana", onde um clã de ciganos, todos da mesma família, também reside.>
Daí a suspeita de Danielle de que o preso e o foragido podem ter, inclusive, participação na morte de Ademir, crime que a delegada classificou como "chocante". "Lembro que o empresário foi executado porque um dos ciganos, por engano, confundiu o carro da vítima com o de um de seus devedores. Ao se apresentarem, entregaram uma arma diferente da utilizada no crime. A intenção era matar toda a família, incluindo a criança que estava no carro. Felizmente, Deus protegeu os demais", disse, ao destacar que os ciganos foram soltos 30 dias depois.>
Danielle contou que não sabe o parentesco de Gilmar e Orlando com os suspeitos da execução, mas comentou que a esposa do sargento da reserva é cigana e, por isso, até hoje, acredita que a dupla, e outros dois PMS, “não estavam em frente à delegacia à toa". O título de matador já é conhecido pela polícia, acrescentou a delegada."No momento em que os ciganos se apresentaram, percebemos a presença daquele carro, modelo Tcson. Eles estavam com uma pistola, dois revólveres e uma espingarda calibre 12. Apenas Arthur tinha a arma registrada e foi liberado. Contaram uma história fantasiosa, não conseguiram explicar o porquê de estarem ali. Nossa dedução é que tinham a intenção de executar os policiais que investigavam o caso, porque eles agem assim: intimidam, matam", defende. Gilmar apontou participação de pai e outro policial em crime (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) 'Terror de Nova Brasília' No dia 12 de julho, Renilda Arcanjo de Jesus, 63, seu filho, Arielson Santos Leal, 34, e o neto, Adriel, foram executados dentro de casa. Os assassinos procuravam Adrielson - suposto autor da morte de Caio -, pai da criança, e, como não o encontraram, decidiram matar a todos. As vítimas foram atingidas por vários disparos de armas de fogo, de acordo com Gilmar, disparos também pelo pai.>
O CORREIO ouviu moradores da localidade de Nova Brasília, onde a titular da 33ª Delegacia (Monte Gordo), Aymara Bandeira, afirmou que Orlando é conhecido como "extremamente temido". Tanto, que, segundo ela, os investigadores não conseguiram muitas informações sobre o sargento foragido.>
À reportagem do CORREIO, no entanto, alguns moradores, sob anonimato, decidiram falar sobre Gilmar e Orlando, a quem classificam como "traficante e matador". Conhecido da família, um morador do local disse que o pai ficou no mesmo endereço, na Rua Ipitanga, até pouco antes da prisão do filho. "Ele estava escondido aqui, mas depois fugiu. A polícia veio e até encontrou um rapaz, que não conseguiu explicar o que fazia na casa, provavelmente foi chamado a depor. Aqui todo mundo sabe que Orlando é matador, ele não tolerava gente que se desentendia com qualquer um da família", se limitou a dizer.Uma vizinha da dupla disse que Gilmar andava armado no bairro, mas costumava se identificar como policial. Segundo ela, "às vezes ficavam afastados" do bairro, onde, anda segundo a mulher, tanto pai, quanto filho são "muito respeitados e temidos até pelos traficantes".>
Uma fonte policial ouvida pelo CORREIO confirmou a fama de homicida atribuída ao sargento. Segundo ele, denúncias anônimas davam conta de que o PM andava armado e se organizava, junto com o tráfico, para cometer homicídios, inclusive no bairro."Nunca foi algo formal, no entanto, então não conseguimos reunir provas ou qualquer coisa contra ele. Que é temido e respeitado, é. Um morador corajoso é capaz de dizer isso, mas a maioria não é", se limitou a dizer, ao reiterar o temor causado pelo sargento.Por meio da assessoria, a Polícia Militar informou que, caso o inquérito produzido pela Polícia Civil conclua que o sargento da reserva teve participação no triplo homicídio, um "investigatório" será feito pela Corregedoria da corporação. Em resposta à reportagem, a PM também informou que possíveis provas da investigação são "anexadas ao feito investigatório".>
Questionada quanto à possibilidade de perda da aposentadoria e expulsão, por meio da assessoria, a Polícia Militar informou que "após a conclusão do feito investigatório, caso seja constatado a autoria do crime, terá duas possibilidades, demissão ou cassação dos proventos (salário)", concluiu, sem informar onde e por quanto tempo o foragido serviu à PM.>
A Polícia Civil afirmou que, até o início da noite desta terça-feira, Orlando seguia foragido. A pasta acrescentou que não tem detalhes da circunstância do assassinato de Caio Soares, filho do PM - que, segundo Gilmar, motivou os disparos que, só na criança, causou 19 perfurações.>