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Da Redação
Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 16:12
Uma mulher que vivia em situação análoga a escravidão foi resgatada na última quarta-feira (30), pela Auditoria Fiscal do Trabalho, na cidade de São Gonçalo dos Campos, a poucos quilômetros de Feira de Santana. Ela tem 59 anos e residia no local de trabalho há quase 35 anos.>
Durante o período, ela fez todo o trabalho doméstico para manutenção da casa e do conforto e cuidado da família empregadora, sem nunca ter recebido salário nem qualquer outro direito trabalhista.>
A constatação das condições de trabalho aconteceu após a inspeção do local de trabalho e moradia da empregada, e da tomada de depoimentos dos principais membros da família empregadora, de diversas pessoas que conheciam a relação, além da própria empregada. Houve relatos de maus tratos, violências psicológicas e diversas violações de direitos.>
A ação de fiscalização ainda não terminou, uma vez que está em negociação o pagamento dos salários e direitos atrasados, mas a situação já foi configurada como trabalho análogo ao de escravo.>
Por terem feito algumas contribuições previdenciárias em nome da empregada como contribuinte individual, a família conseguiu aposentá-la judicialmente por invalidez. Entretanto, a empregada, desde a concessão do benefício, nunca administrou a quantia. A família administrava as contas bancárias e repassava valores em torno de R$ 50,00 a R$ 100,00 por mês para a mulher, para utilização em despesas com higiene pessoal, vestuário e guloseimas.>
Abrigo>
A mulher está em um abrigo desde o dia do resgate, para o acolhimento e cuidados necessários, de acordo com a Auditoria. Ela deve passar a residir com a sua própria família logo que estiver em condições para isso. De acordo com a fiscalização, a mãe e o irmão da resgatada também prestaram serviços domésticos, sem salários, para essa mesma família da cidade de São Gonçalo, em período anterior à chegada dela à casa. >
A mãe da resgatada trabalhava em uma fazenda da mãe da empregadora, e quando faleceu, a filha continuou a trabalhar para a família. O irmão da resgatada trabalhou na residência da família, mas conseguiu fugir da situação aos 27 anos de idade.>
A resgatada mudou-se aos 24 anos de idade para a residência da proprietária para realizar serviços domésticos. Ao todo, eles serviram a duas gerações da família.>
Familiares da vítima e vizinhos confirmaram que ela era tratada como empregada doméstica pelos moradores da casa e não como um membro da família. Segundo eles, a empregadora controlava visitas e telefonemas, dificultando o contato com o mundo externo.>
"Em casos como este, ouvimos sempre a afirmação de que a vítima é ‘como se fosse da família’. Mas essa pessoa da família não completou o ensino médio, em oposição aos outros filhos, não desenvolveu laços de amizade externos ou mesmo construiu uma vida para além das atividades domésticas da casa", diz nota da Auditoria.>
Os empregadores afirmaram que os serviços domésticos não eram trabalho, mas uma colaboração voluntária no âmbito familiar. O resgate foi feito numa casa grande no centro da cidade de São Gonçalo.>
O resgate foi coordenado pela Auditoria-Fiscal do Trabalho na Bahia e contou com a participação do Ministério Público do Trabalho, da Defensoria Pública da União, da Polícia Militar da Bahia e do Serviço de Assistência Social do Estado da Bahia, que garante o atendimento psicossocial.>