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O silêncio de Jerônimo com a crise no sistema prisional, os interesses políticos das greves e a retaliação do PT

Leia a coluna na íntegra

  • Foto do(a) author(a) Pombo Correio
  • Pombo Correio

Publicado em 11 de julho de 2025 às 05:00

Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues
Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues Crédito: Amanda Ercilia/GovBa

É ensurdecedor o silêncio do governador Jerônimo Rodrigues (PT) diante da enorme repercussão, inclusive nacional, que tomou o caso envolvendo a fuga do presídio de Eunápolis, que ocorreu no final do ano passado, mas teve os detalhes do processo divulgados nesta semana. O fato é que o caso parece roteiro de filme, com romance, compra de voto e regalias das mais diversas para presidiários dentro do sistema, o que, na prática, demonstrou que o presídio de Eunápolis estava sob o controle do crime organizado. É de espantar que o governador não tenha dado uma declaração oficial condenando a situação ou tomando alguma atitude. Talvez isso explique um pouco porque o sistema prisional da Bahia, que enfrentou três fugas em poucos meses, esteja passando por uma crise profunda, assim como a segurança pública do estado.

Na corda bamba

O secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado (Seap), José Castro, parece estar com os dias contados após os recentes casos envolvendo o sistema prisional da Bahia. Além de uma nova fuga ter sido registrada, no presídio de Teixeira de Freitas, a divulgação de detalhes do caso de Eunápolis aumentou ainda mais a pressão interna sobre o secretário, que é indicado pelo MDB. Fontes do governo dizem que Castro está sendo pressionado a renunciar ao posto. Interlocutores com trânsito no Palácio de Ondina confidenciaram que o próprio governador Jerônimo Rodrigues (PT), a aliados próximos, revelou o desejo de demitir Castro, mas avisou que não quer criar ruído com o MDB.

Interesses políticos

Que as greves dos professores de Salvador e Lauro de Freitas são políticas e atendem a interesses partidários todo mundo já sabe, mas a coluna apurou que a situação é ainda mais grave. Em Salvador, a disputa entre PSOL e PCdoB tem se agravado. Do lado psolista está Denise Souza, esposa do deputado estadual Hilton Coelho, enquanto a direção da APLB é historicamente ligada aos comunistas. Ambos os grupos disputam o protagonismo da greve, que é utilizada pelo movimento de Denise e Hilton para alavancar apoios para o deputado nas eleições do próximo ano. A situação tem irritado lideranças da APLB, que acusam, nos bastidores, o coletivo de Denise de usar a greve para tomar o espaço da entidade ligada aos comunistas. Enquanto isso, quem perde são os alunos da rede municipal e os pais, que são deixados de lado pelas lideranças grevistas, cujos interesses são cada dia mais claros.

Regalias cortadas

Em Lauro de Freitas, a situação é similar. Por lá, segundo apurou a coluna, dirigentes do sindicato dos professores queriam manter as mesmas regalias que tinham na gestão da ex-prefeita Moema Gramacho (PT), mas não tiveram sucesso com a nova administração. Sem contar que, além de descumprir a ordem judicial que determinou o fim da greve, os líderes do movimento estão incitando e até ameaçando profissionais a aderirem.

Retaliação estatal

O processo de eleições internas do PT para a escolha de presidentes dos seus diretórios locais não teve nada de democracia. Em Itabuna, por exemplo, há denúncias públicas de que a máquina do governo do Estado foi usada para prejudicar uma chapa que não contava com a simpatia da cúpula petista. Segundo relato do atual presidente, Jackson Moreira, petistas foram demitidos da Biofábrica em Itabuna porque não apoiavam a candidatura concorrente, de Nina Rosa. Há ainda a queixa de que o secretário de Desenvolvimento Rural, Osni Cardoso, teria condicionado a assinatura de um contrato do Governo com a Biofábrica ao apoio expresso à candidatura de Nina. Resultado: Nina alcançou 1.589 votos contra apenas 124 de Moreira, ligado ao ex-prefeito Geraldo Simões. Dizem, inclusive, que essa expressiva derrota imposta ao grupo de Simões foi uma retaliação pela “rebeldia” dele em não apoiar a reeleição de Augusto Castro (PSD), depois que o próprio rifou sua candidatura em 2024.

Saldo amargo

Por falar em eleições do PT, o saldo que ficou para a militância, especialmente a da velha guarda, é que o senador Jaques Wagner passou o rolo compressor contra quadros históricos do partido, sob o argumento de promover uma renovação geracional. O ponto é que tal renovação, para os cabeças brancas da legenda, aconteceu a fórceps com a ascensão de assessores do senador a postos de liderança sem a devida experiência para conduzir questões complexas e sendo posicionados como meros emissário do galego. Passada a votação, muitos ainda sentem o gosto amargo da condução nada democrática de Wagner. A candidatura do ex-presidente Jonas Paulo foi, para muitos, um protesto público contra a tirania disfarçada de democracia interna.

Prioridades

O governador Jerônimo Rodrigues chegou ao fim do primeiro semestre deste ano tendo gasto R$ 500 milhões para o patrocínio de festas e eventos. O volume expressivo de dinheiro com divertimento expõe o contraste no empenho do petista em, por exemplo, sanar o déficit do Planserv, principal plano de saúde dos servidores públicos da Bahia. Com os R$ 500 milhões, daria para cobrir o rombo que se formou no caixa do plano de 2023 para cá, gerado em razão do próprio Estado ter desistradado a contribuição que fazia para manter o plano em funcionamento. Ao governador, não falta dinheiro, mas, pelo visto, ele tem outras prioridades.

Governo Over

Aliados do governador Jerônimo não escondem o constrangimento sobre a manutenção, na estrutura do Estado, do ex-prefeito de Paratinga, Marcel José Carneiro de Carvalho - que depois de deixar a prefeitura foi acolhido pelo petista com um cargo generoso na Secretaria de Relações Institucionais (Serin). Ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que encontrou R$ 3,2 milhões em gavetas e armários. E o mais estranho é que o governador tem se mostrado resistente a dispensar o aliado político, mesmo com toda repercussão negativa, inclusive com alcance nacional.

Manobra

Sempre que pode, o governador Jerônimo posa de democrata e fala em escutar os deputados estaduais toda vez que anuncia à imprensa um novo projeto. Mas a verdade é que ele se vale de uma manobra regimental para justamente evitar que os deputados analisem as matérias que chegam na Assembleia Legislativa. Nesse semestre, por exemplo, todos os projetos do Executivo foram enviados em regime de urgência para que as proposições não passassem pelo crivo das comissões técnicas da Casa. Assim, a votação acaba sempre acontecendo em ritmo acelerado e sem nenhuma discussão prévia. Foi com esse modus operandi que Jerônimo garantiu nesses seis meses a aprovação de R$ 5 bilhões em empréstimos.

Novos amigos

O vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior (MDB), precisará fazer novos amigos para 2026. É que nomes importantes do seu entorno desenham caminhos eleitorais bem diferentes dos seus. Geraldo já anunciou que não tem plano B e que quer concorrer à reeleição no mesmo posto, o que lhe fará dedicar todas as forças para manter o seu filho como deputado estadual na Assembleia. O problema é que aqueles que patrocinaram a jornada do emedebista júnior em 2022 não estão mais dispostos a repetir o feito e devem lançar suas próprias candidaturas ou buscar novos parceiros que de fato consigam agregar valor eleitoral. O afastamento da turma é reflexo do desastroso resultado eleitoral de 2024, que revelou ao mundo que o vice-governador não tem o tamanho que projetava no seu universo paralelo.

Serin em cólicas

Prefeitos que visitam a Secretaria de Relações Institucionais do Estado para fins de demandas administrativas estão sendo constrangidos a posarem para fotos como se o encontro, meramente institucional, fosse uma manifestação antecipada de apoio à reeleição do governador Jerônimo. As imagens são publicadas nas redes sociais e disparadas para a imprensa junto com releases sugerindo uma adesão eleitoral, que não existe. O modelo de abordagem tem recebido críticas de interlocutores do próprio governo, que consideram a antecipação prejudicial para o andamento da máquina, tendo em vista que muitos apoios não se confirmarão na hora da onça beber água. E mais, passa uma percepção de que o governo está em desespero pela evidente constatação do sentimento de mudança que ganha corpo na Bahia.