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Por que Mano Brown é o intelectual mais corajoso do Brasil?

Rapper e apresentador desafia a polarização, desmonta a "venda casada" de ideias e eleva o debate no país

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 10 de julho de 2025 às 15:18

Mano Brown comanda o Mano a Mano
Mano Brown comanda o Mano a Mano Crédito: Divulgação

Não sei nada sobre a educação formal de Mano Brown. Uso, aqui, a palavra “intelectual” de forma legítima, para falar sobre alguém instigante, culturalmente significativo, criticamente analítico, socialmente engajado e capaz de influenciar a compreensão de outras pessoas sobre o mundo. Já o adjetivo “corajoso” se refere ao contínuo enfrentamento que ele faz a um dos problemas das pessoas que pensam na atualidade: a perseguição que sofrem caso não acatem todos os penduricalhos e “verdades” do campo ideológico ao qual são alinhados. Só que ou você pensa, ou compra os “pacotes completos”. Não conheço outra pessoa além de Brown, de similar projeção, que rejeite abertamente essa “venda casada” tão sufocante quanto comum no Brasil atual.

Portanto, é para meu absoluto deleite - e desespero dos que não suportam certas liberdades - que o Mano a Mano está de novo no Apple Podcasts e no Spotify. O podcast, apresentado por Mano Brown, ficou fora do ar por um ano e meio, mas desde maio voltou para ocupar o lugar que estava vago, e não apenas pela variedade dos entrevistados. Essa curadoria múltipla muita gente faz. A honestidade desconcertante, a intelectualidade acessível e a originalidade do entrevistador são os elementos que você dificilmente vai encontrar em outros programas de mesmo formato. Ao escutar aquelas entrevistas, penso que, talvez, ele esteja resgatando um pouco da nossa civilidade. No entanto, independentemente dos efeitos que possa causar, tenho certeza de que, no Brasil de hoje, o intelectual mais corajoso se chama Mano Brown.

“É irritante quando te negam o direito de tentar entender”, diz o apresentador no anúncio da nova temporada do podcast. Também acho. Mais do que isso, essa ampla negativa ao direito à compreensão é o “guarda-chuva” sob o qual se escondem as censuras cotidianas disfarçadas de “busca de coerência”. Na prática, se você faz uma pergunta fora do roteiro, é “cancelado”. Se discorda, é “demonizado”. Se desconfia, já deixa de ser confiável. Se não adora as pessoas que, supostamente, devem ser adoradas, é imediatamente associado ao campo contrário. Caso simpatize com ideias não completamente alinhadas, já é “inimigo” da causa. Então, ou você se transforma em uma bobagem - e manobra apenas dentro do espaço “permitido” - ou, simplesmente, deixa “que digam, que pensem, que falem”.

Mano Brown “segue firme no propósito de ampliar o debate, dando voz a diferentes formas de pensar o Brasil e o mundo”, outra vez de acordo com a própria definição do podcast. Muita gente diz isso, eu sei. Só que, no caso dele, é verdade. Apoiado por Semayat Oliveira (que faz boas interferências, vale citar), Brown entrevista de Érika Hilton a Paulo Cruz (MBL), passando por Gilberto Gil, com a mesma sofisticada tranquilidade. Nas redes sociais dele, pensamentos menores gritam em cobranças explícitas, nos comentários. Porém, a carruagem passa. Um apresentador que, por exemplo, pergunta o motivo pelo qual um convidado foi agressivo em um post antigo - e escuta a resposta - é papa fina à qual a maioria de nós não está acostumada. Ele repete que não aceita rótulos, e isso é massa.

Nas interações com Mano Brown, nada vira “treta”. Em todas as entrevistas, ele é o adulto da relação, conduzindo a escuta saudável, opinando firme, mas respeitosamente, e elevando o nível de civilidade, depois de qualquer deslize de convidados. A curiosidade com o contraditório e o desapego diante de certezas confortáveis produz momentos memoráveis. Outro dia me peguei pensando em como ele agiria diante de certo embate ao qual fui obrigada. Sim, eu queria me espelhar. Apesar de reconhecer qualidades em tantas pessoas, há muito tempo eu não tinha um pensamento assim, do tipo “quero imitar”. Num momento de referências escassas, achei saborosa essa vontade infantil. Assista Mano a Mano, se quiser entender. Para Brown, um abraço, meu respeito e muito obrigada.

Siga no Instagram: @flaviaazevedoalmeida