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Yan Inácio
Publicado em 13 de maio de 2025 às 15:27
Uma aula pública na Uesb (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), em Vitória da Conquista, vai propor uma reflexão interdisciplinar sobre as imagens mentais em contextos psicodélicos clínicos, articulando neurociência, filosofia contemporânea e cinema. O evento acontece na próxima quinta-feira (15). >
O encontro, que debate a potência terapêutica das imagens e das experiências visionárias, reúne o médico e pesquisador Alessandro Campolina, do Instituto Aion, e o cineasta e pesquisador Caio Resende (bacharel em Cinema e Audiovisual pela Uesb), com mediação do professor Eder Amaral, coordenador do grupo de estudos Inquietudes, responsável pela atividade.>
A proposta parte da ideia de que os psicodélicos — ao flexibilizarem a percepção e a conectividade cerebral — ampliam modos de subjetivação e experiência do tempo. O cinema, especialmente a imagem-cristal de Deleuze, surge como uma tecnologia sensível capaz de expressar essa multiplicidade temporal.>
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A ideia de imagem-cristal, formulada pelo filósofo francês Gilles Deleuze em “Cinema 2: A imagem-tempo”, descreve um tipo de imagem que suspende a linearidade do tempo. É quando passado e presente se entrelaçam numa mesma cena — como num reflexo de espelho, em que o real e o virtual coexistem e se confundem. Diferente das imagens narrativas tradicionais, a imagem-cristal rompe com a lógica da causa e efeito e nos coloca diante de um tempo sensível, que vibra, se dobra e se dispersa.>
Essa proposta encontra forte ressonância com as experiências psicodélicas, especialmente no campo clínico. Substâncias como a cetamina — usada em contextos terapêuticos pelo Instituto Aion — flexibilizam as estruturas habituais da percepção e da memória, permitindo que imagens internas emergentes se reorganizem em novas sequências e sentidos. Assim como o cinema cristalino, essas experiências revelam camadas do tempo e da subjetividade que normalmente permanecem invisíveis.>
Publicado na França em 1985, “Cinema 2: A imagem-tempo” (com edição brasileira lançada pela Editora 34) é o segundo volume da obra de Gilles Deleuze dedicada à filosofia do cinema. Enquanto “Cinema 1” aborda o cinema clássico e narrativo, baseado em ações e causalidades, o segundo livro se volta ao cinema moderno — onde o tempo deixa de ser subordinado ao movimento e passa a se expressar diretamente nas imagens. É nesse contexto que Deleuze desenvolve o conceito de imagem-cristal, para nomear uma forma de expressão em que o real e o virtual coexistem e se embaralham, revelando novas dimensões da experiência.>
A obra, hoje central nos estudos de cinema e arte contemporânea, também vem sendo resgatada por pesquisadores que investigam as experiências psicodélicas e suas relações com a percepção, o tempo e a subjetividade. A aula “O cinema entre filosofia e psicodelia” será gravada e depois disponibilizada ao público no site Filosofia em Curso e no canal da Psicodelicamente.>
A aula está ancorada em dois artigos acadêmicos já submetidos para publicação nas revistas Linha Mestra e Art & Sensorium e integra o processo de elaboração de um livro que vem sendo desenvolvido pelos pesquisadores Alessandro Campolina e Caio Resende. >
A proposta amplia o diálogo entre clínica, filosofia e estética, buscando construir uma reflexão original sobre as imagens mentais e a experiência psicodélica no campo da saúde mental contemporânea.>