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Quarup: livro será cobrado no vestibular da Ufba pela 1ª vez

Confira questões e análise sobre o livro na série que o CORREIO começa hoje

  • D
  • Da Redação

Publicado em 19 de outubro de 2009 às 09:19

 - Atualizado há 2 anos

Livros, livros e mais livros. O CORREIO sabe que vida de vestibulando não é mole e, por isso, começa hoje a publicação de uma série sobre as seis obras cobradas na primeira fase do vestibular da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e as outras seis exigidas pela Universidade Estadual da Bahia (Uneb) este ano. Antes de falarmos do maior livro (553 páginas) adotado este ano pela Ufba, convém lembrar o alerta de dez entre dez professores: nada substitui a leitura completa do livro. Portanto, mãos à obra.

QUARUPOs sete capítulos de Quarup acompanham a caminhada do padre Nando rumo à sua “deseducação”, como classifica o professor de literatura do Colégio Gregor Mendel, André Duarte - recuperando o termo utilizado pelo autor da obra, Antônio Callado, e pelo crítico Ferreira Gullar.

Obra de Callado foi adaptada para o cinema por Ruy Guerra

Durante o processo de “deseducação”, veremos o casto padre abandonar a batina, experimentar drogas, descobrir o sexo, lutar pelos desvalidos nordestinos, se tornar preso político da ditadura militar de 1964 e, por fim, integrar um movimento guerrilheiro no sertão.

Ao contar a saga do padre Nando - que viaja do Recife ao Rio de Janeiro, vai ao Xingu, faz uma expedição ao centro geográfico do Brasil e termina no sertão nordestino -, o livro traça o panorama histórico e político do Brasil nas décadas de 50 e 60.

Quarup foi publicado em plena ditadura militar e seu autor, um jornalista e intelectual, era engajado nas lutas da esquerda. Por isso, a leitura da obra deve ser feita sempre com atenção às discussões sobre os grandes temas que dominavam o debate político e cultural à época, como a proteção ao índio, a revolução sexual, as questões sociais, as causas do golpe de 1964, o uso de drogas e a luta armada.

O narrador é onisciente e em terceira pessoa, mas, em diversos trechos, ele recorre ao fluxo de pensamento dos personagens, como forma de mostrar o estado emocional e psicológico deles. Com sete capítulos, muitos espaços onde se passa o enredo e mais de 20 personagens relevantes para a história, “vale a pena fazer uma espécie de ‘fichamento’ do livro, ao longo da leitura”, recomenda o professor André Duarte.

A saga do padre Nando pelo Brasil A trajetória do personagem principal do livro inicia em 1954, num mosteiro em Recife, quando ele alimenta a ideia de criar uma sociedade utópica com os índios no Xingu. Mas padre Nando hesita em fazer a viajem, com medo de ser tentado pela nudez das índias. É no mosteiro que ele conhece o estudante revolucionário Levindo e sua noiva, Francisca, dois personagens bastante presentes no livro.

Ainda no Recife, Nando se apaixona por Francisca, mas só irá se relacionar com ela mais tarde. Após ser seduzido e iniciado sexualmente pela inglesa Winifred, Nando perde o medo da viagem. Mas antes de ir ao Xingu, vai ao Rio de Janeiro, onde entra em contato com integrantes do Serviço de Proteção aos Índios (a atual Funai), usa lança-perfume e amplia suas experiências sexuais. É nessa parte do livro que o autor faz uma crítica ao funcionamento da política, com casos de nepotismo e corrupção.

No Xingu, reencontra Francisca, recém-chegada da Europa, após a morte de Levindo. É quando Nando finalmente se relaciona com ela. Eles então partem para uma expedição para demarcar o centro geográfico do Brasil. Depois, Nando volta com Francisca para Pernambuco, onde vão alfabetizar camponeses.

Ocorre então o golpe de 1964, que prende Nando e o separa de Francisca, que volta para a Europa. Quando é libertado, Nando vai ao sertão, para se juntar a uma guerrilha de oposição à ditadura, utilizando o codinome de Levindo, antigo noivo de Francisca.

Livro de Antônio Callado virou filme de Ruy Guerra Com o título ‘Kuarup’, o cineasta Ruy Guerra lançou em 1989 o filme baseado no romance homônimo de Antônio Callado. No papel do padre Nando estava Taumaturgo Ferreira. Fernanda Torres fez o papel de Francisca e Maurício Mattar interpretou Levindo. O filme teve participações também de Cláudia Raia, como a russa Sônia Dimitrovna, que abandona um ministro para fugir com um índio para a selva.

O filme, na verdade, traz um grande número de atores conhecidos, como Cláudia Ohana, Maitê Proença, Lucélia Santos, Stênio Garcia e Paulo Goulart. À época do lançamento, foi considerado uma superprodução da indústria cinematográfica brasileira, com orçamento de US$5 milhões. Quarup, na grafia indígena, é uma festa em que as tribos do Xingu homenageiamseus mortos.

Fradique Mendes: a ironia de Eça de Queirós O gênio e a ironia do escritor português Eça de Queirós desafiam a classificação de A correspondência de Fradique Mendes como um simples romance realista-naturalista, estilo predominante no final do século XIX. O romancista supera o rigor esquemático da crítica social realista com uma narrativa mais livre e cheia de influências de outros estilos. As inovações começam pela narrativa.

Obra é ambientada em Paris, centro cultural da Europa no século XIX

O livro se divide em duas partes. Na primeira, o narrador é o biógrafo do próprio Fradique Mendes, modelo do homem ideal do fim do século XIX, que a todos encanta com sua cultura e refinamento. Na segunda, o leitor conhece 17 cartas “redigidas” por Fradique Mendes, abordando temas em voga na sociedade portuguesa: política, religião, estética, imprensa e até mesmo cartas de amor, nada escapa ao olhar arguto do personagem-autor, o que levou muitos críticos literários a classificar a obra como “romance-ensaio”, em que o enredo serve de pretexto para discussões filosóficas. “Em se tratando do vestibular, é bom ficar mais atento à segunda parte da obra, às cartas. Não só pelo prazer da leitura, como pela atualidade de alguns temas, como a crítica à imprensa ou à classe política”, avalia o professor de literatura André Duarte.

O estilo do autor também merece atenção. “A obra prima pela visão irônica, afastando-se de composições presas às técnicas objetivas do realismo-naturalismo. Após a leitura, fica-nos uma sensação paradoxal: seria Fradique um engano ou um ícone a ser seguido? É importante, assim, que o aluno filtre, com muita criticidade, aquilo que lê”, recomenda Duarte.

Panorama social em dois atos e 17 cartas A primeira parte da obra traça um longo perfil biográfico do personagem Fradique Mendes, a partir dos encontros que o narrador- biógrafo tivera com ele e de “comentários” de personalidades históricas da época, o que reforça a verossimilhança de tratar-se de uma pessoa real.

O enredo começa quando o narrador da primeira parte do livro lê, em 1897, num jornal de Lisboa, os poemas de Carlos Fradique Mendes, que chamam a sua atenção pelo ineditismo temático e estético. A intenção de Eça de Queirós é situar Fradique como um homem à frente da cultura portuguesa dominante na época, que respira a modernidade de autores como o francês Charles Baudelaire.

Fradique é o protótipo do dândi: modelo de homem aristocrático do século XIX, que buscava a valorização pessoal por meio da elegância nos trajes, linguagens e cultura.

As cartas da segunda parte do livro são “narradas” pelo próprio Fradique e endereçadas a personagens reais e fictícios. Elas podem ser entendidas como um conjunto de crônicas sobre os variados temas. Na verdade, Fradique Mendes era o pseudônimo usado para publicar as poesias criadas coletivamente pelo grupo do Cenáculo, formado por Eça, Antero de Quental e Jaime Batalha Reis.

Questões - Quarup Nando suspirou. De certa forma perdera quase o desejo de se isolar um pouco no ossuário. Era preciso realmente que alguém cuidasse de André, da obsessão de André. E de Hosana também, perseguido de fúrias. Ah, Senhor, por que sofriam tanto os homens, se assim acabariam, ossos sobre ossos, sobre ossos, à espera da trombeta do juízo que de novo os galvanizasse em remoinhos de remorso? E André não tinha sido a pior provação. Mal se sentara entre os esqueletos vestidos de burel, como se um deles fosse, Nando viu entrar pela porta que ficara aberta Francisca feito um arroio que se pusesse a correr num deserto de pedra. Se o arroio persistisse, pensou Nando com aflição, o deserto involuiria e acabaria dando flor. Não havia perigo de se cobrirem novamente de matéria os esqueletos rebeldes a carnes que não fossem as da Ressurreição? - Estou de partida para a Europa - disse Francisca. - Vim lhe dizer adeus. - De partida para a Europa? - estranhou Nando. - Mas assim de repente? - Uma espécie de trato que eu fiz com papai, que não gosta nada da lua-de-mel no Xingu - disse Francisca. - Como Levindo vai viajar meses pelo interior do Estado, pela Paraíba e não sei mais onde, em companhia de Januário, eu aproveito esse tempo e viajo de novo com papai. Francisca riu, enquanto se sentava no muro baixo de pedra que circundava o fundo da cripta e punha nos joelhos um caderno de desenho. - A esperança de papai é de que na Europa eu desista de casar com Levindo, que eu encontre algum namorado por lá e esqueça o do Brasil. Ele não sabe como eu sou constante, de amor como de planos.

CALLADO, Antônio. Quarup. 1ª ed. especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 72 (Coleção 40 anos, 40 livros)

Tendo como referência a obra de onde foi retirado, o trecho acima permite considerações da seguinte natureza:

(01) A presença do fluxo de consciência é um recurso largamente utilizado na obra e permite ao narrador revelar as diversas indagações existenciais por que passa Nando.

(02) O “ossuário” representa o local onde Nando se encontra em paz consigo mesmo e uma espécie de abrigo para onde ele sempre se recolhe quando se sente atormentado pelas questões mundanas.

(04) André e Hosana são padres com comportamentos bem diversos, mas reveladores de como a Igreja Católica se apresentava como uma instituição em crise diante do mundo.

(08) A falta de desejo em isolar-se no “ossuário” é reveladora de como a abertura de Nando ao mundo lhe roubou as condições necessárias ao exercício da meditação, dada a instabilidade emocional que passa então a dominá-lo.

(16) O afastamento de Francisca será determinante para que Nando, livre das aflições derivadas da descoberta da sensualidade, possa se engajar na luta contra a opressão dos trabalhadores rurais dos engenhos pernambucanos.

(32) Apesar de possuírem diferentes posturas diante da vida, Nando e Levindo têmem Francisca uma ponte, pois a amam de maneira idealizadora, acreditando e não querendo manchar a sua pureza.

(64) Ao dizer-se “constante” (l. 35), Francisca usa, na verdade, uma estratégia para desencorajar qualquer postura afetiva de Nando, pois já sabe do interesse do religioso, não se mostrando nada à vontade coma situação.

Questões - A correspondência de Fradique Mendes Todos, apesar das dessemelhanças de temperamento ou das maneiras diferentes de conceber a vida, tinham como eu sentido a sedução daquele homem adorável. Dele me escrevia em novembro de 1877 o autor do Portugal Contemporâneo:

“Cá encontrei o teu Fradique, que considero o português mais interessante do século XIX. Tem curiosas parecenças com Descartes! É a mesma paixão das viagens , que levava o filósofo a fechar os livros para estudar o grande livro do mundo; [...] o mesmo amor do mistério e das súbitas desaparições; a mesma vaidade, nunca confessada, mas intensa, do nascimento e da fidalguia; a mesma coragem serena; a mesma singular mistura de instintos romanescos e de razão exata, de fantasia e de geometria. [...] Ramalho Ortigão, pouco tempo depois, dizia dele numa carta carinhosa: “Fradique Mendes é o mais completo, mais acabado produto da civilização em que me tem sido dado embeber os olhos. Ninguém está mais superiormente apetrechado para triunfar na Arte e na Vida. A rosa da sua botoeira é sempre a mais fresca, como a ideia do seu espírito é sempre a mais original. Marcha cinco léguas sem parar, bate ao remo os melhores remadores de Oxford, mete-se sozinho ao deserto a caçar o tigre, arremete com um chicote na mão contra um troço de lanças abissínias - e à noite, numa sala, com a sua casaca de Cook, uma pérola negra no esplendor do peitilho, sorri às mulheres com o encanto e o prestígio com que sorrira à fadiga, ao perigo e à morte. Faz armas como o cavaleiro de Saint-Georges e possui as noções mais novas e as mais certas sobre física, sobre astronomia, sobre filologia e sobre metafísica. É um ensino, uma lição de alto gosto, vê-lo no seu quarto, na vida íntima de gentleman em viagem, entre as suas malas de couro da Rússia, as grandes escovas de prata lavrada, as cabaias de seda, as carabinas de Winchester, preparando-se, escolhendoumperfume, bebendo goles de chá que lhe manda o grão-duque Vladimir, e ditando aumcriado de calção, mais veneravelmente correto que um mordomo de Luís XIV, telegramas que vão levar notícias suas aos boudoirs de Paris e de Londres. E depois de tudo isso fecha a sua porta ao mundo - e lê Sófocles no original”.

QUEIRÓS, Eça de. A correspondência de Fradique Mendes. 2ª ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 64-6.

A leitura do fragmento, em consonância com o caráter da obra de onde foi retirado, permite afirmações do tipo:

(01) O narrador, ao longo da obra, esforça-se para construir uma imagem neutra de Fradique Mendes, valendo-se, para tanto, das suas opiniões e de diversas - e às vezes contraditórias - opiniões sobre o personagem.

(02) A verossimilhança na apresentação de Fradique Mendes aumenta no decorrer da biografia, pois o narrador fora testemunha muito ligada a ele, com inúmeras participações nas aventuras do amigo.

(04) Percebe-se, na construção da personagem, a incorporação de valores cosmopolitas que transcendem sua condição de cidadão português.

(08) Como estratagema realista, são citadas opiniões de personagens históricos verdadeiros, como a do escritor Ramalho Ortigão e até a do próprio Eça de Queirós - também amigos de Fradique.

(16) Pode-se ler a diversidade de opiniões sobre Fradique como metáfora intencional do caráter polifônico dessa personagem, retrato de um grupo e de uma época, com todas as suas variações.

(32) A existência de uma pluralidade de opiniões sobre Fradique se adequa a seu caráter moderno, uma vez que, como se depreende da leitura da obra, era ele avesso à mesmice e ao convencionalismo das ideias.

(64) O seu vasto conhecimento e a multiplicidade de experiências que teve ao longo da vida fazem de Fradique um porta-voz na busca de um mundo mais igual e justo entre os homens.

Confira as respostas corretas das questõesAs questões ao lado foram retiradas do livro do professor André Duarte, sobre a análise das obras literárias da primeira fase da Ufba. O livro também ajudou na confecção dos textos da matéria. Exemplares podem ser pedidos pelo e-mail:  . O gabarito das questões é: Quarup: 45. Fradique Mendes: 52.

CORREIO vai trazer análise de ‘Senhora’ e ‘Vidas secas’ Amanhã (20), o CORREIO publica matéria com a análise de professores de literatura convidados sobre as obras ‘Senhora’, de José de Alencar, e ‘Vidas secas’, de Graciliano Ramos. Na terça-feira é a vez ‘As vítimas-algozes’, de Joaquim Manoel de Macêdo, e os poemas da antologia ‘Cadernos negros - melhores poemas’.

(Notícia publicada na edição impressa do dia 19/10/2009 do CORREIO)