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Perla Ribeiro
Agência Brasil
Publicado em 9 de junho de 2025 às 08:46
Já faz um tempinho que virou modinha os shots matinais. Em várias receitas, aparece entre os ingredientes a cúrcuma, também conhecida como açafrão da terra. A especiaria que é sucesso na culinária asiática há séculos e é famosa por encher de cor e sabor tantas receitas, agora escapou das cozinhas e agora faz bonito em laboratórios de pesquisa mundo afora. Um dos mais recentes trabalhos, publicado em abril no periódico Nutrients, destrincha as ações anti-inflamatória e antioxidantes da cúrcuma, bem como a atuação neuroprotetora vindas dessa raiz. >
Conduzida por pesquisadores da Itália, a pesquisa desvenda mecanismos moleculares complexos e as diferentes vias envolvidas na atuação da substância em nosso organismo. “Trata-se de uma revisão completa e atualizada, que comprova efeitos já conhecidos e traz novas perspectivas sobre a curcumina, o principal composto bioativo da cúrcuma”, observa a nutricionista Gabriela Mieko Yoshimura, do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte, do Hospital Israelita Albert Einstein.>
A curcumina é um tipo de pigmento e faz parte do grupo dos polifenóis, que conta com mais de 8 mil integrantes. Esses compostos são classificados como metabólitos secundários, ou seja, são sintetizados pelos vegetais, para protegê-los em situações adversas na natureza. Defendem contra os raios ultravioleta e as intempéries, seja em tempos de seca ou de muita chuva, por exemplo.>
Já no nosso organismo, um dos papéis mais legitimados é a ação antioxidante. Significa que são capazes de neutralizar os radicais livres, átomos desemparelhados que precisam de elétrons para se estabilizar. O excesso de radicais está por trás de danos celulares. E os polifenóis interrompem essa sequência, atenuando o estresse oxidativo e preservando as células. >
Outra atuação da família dos polifenóis é o combate às inflamações. No artigo italiano, enfatizou-se o poder da curcumina na redução de processos inflamatórios, com impactos positivos no intestino. “A revisão mostra ainda efeitos na produção dos ácidos graxos de cadeia curta, o que contribui para a integridade da barreira intestinal”, diz a nutricionista. Assim se evita que agentes nocivos alcancem a circulação e desencadeiem inflamações, entre outros problemas. >
Existem evidências de que esse mecanismo ajude a diminuir o risco de males neurodegenerativos, caso do Alzheimer, e proteja contra inflamações decorrentes da obesidade. O artigo destaca ainda o chamado eixo intestino-cérebro. Trata-se de uma via de comunicação que envolve neurotransmissores, como a serotonina, e a transmissão de sinais que contribuem para sensações de bem-estar. >
Não faz milagre>
Outra menção do estudo é a baixa biodisponibilidade – capacidade de a substância ser assimilada e aproveitada no corpo humano – da curcumina vinda do tempero. Por essa razão, ainda não dá para estabelecer uma quantidade que garanta todos os benefícios por meio da alimentação. >
“São necessários mais estudos para determinar. Porém, as evidências mostram que a substância tem grande potencial”, avalia a nutricionista do Einstein. Segundo Yoshimura, via suplementação já dá para assegurar a eficácia da curcumina — mas isso quando houver indicação de médico ou nutricionista.>
Vale ressaltar que de nada adianta incluir o ingrediente em um contexto pouco saudável. “Ele só vai agregar em um estilo de vida que contenha cardápio equilibrado, atividade física, gerenciamento do estresse e descanso adequado”, pontua a especialista. >
O recado é especialmente para quem engole os shots em busca de milagres. Essas bebidas geralmente levam ingredientes como cúrcuma, limão e gengibre, e são propagadas sob a promessa de aumentarem a imunidade ou ajudarem a emagrecer. “Consumir o que não gosta atrás de efeitos mágicos é atitude que vai contra a boa relação com a comida, afinal, a alimentação engloba o prazer”, defende Gabriela.>
Como tirar proveito>
O pozinho amarelo da cúrcuma vem da raiz da espécie asiática Curcuma longa, que também é consumida fresca e ralada. Além de colorir o arroz, é muito usado para temperar sopas, caldos, ensopados, molhos, patês, aves, carnes e frutos do mar.>
Pode fazer parte de refogados, junto de cebola, alho e óleo, servindo de base para os mais variados pratos. Inclusive, o meio oleoso — seja de azeite, outros óleos vegetais ou da manteiga —, somado ao calor, aumenta o aproveitamento da curcumina e contribui para a liberação dos compostos aromáticos.>
“Misturar com a pimenta-preta, fonte de uma substância chamada piperina, também ajuda na biodisponibilidade”, comenta a especialista. Daí porque o curry traz essa vantagem, afinal, o condimento contém tanto a cúrcuma quanto a pimenta-preta, e outras especiarias. Gengibre, canela, cravo e coentro costumam fazer parte desse clássico da culinária indiana.>
A nutricionista sugere ainda outra preparação que maximiza a absorção da curcumina: o golden milk, ou leite dourado, em português. “Essa bebida, que está mais popular por aqui, mas é tradicional na Ásia, traz a cúrcuma em pó, o leite, que pode ser até o vegetal, e a pimenta-do-reino”, comenta. Fica ao gosto do freguês como incluir a cúrcuma no cotidiano.>