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Brasil pode ter até 30 dias de racionamento de água por ano até 2050; entenda

Demanda por água tratada no país a crescer 59,3% nas próximas duas décadas, o que pode levar a comprometer o abastecimento

  • Foto do(a) author(a) Perla Ribeiro
  • Perla Ribeiro

Publicado em 7 de novembro de 2025 às 08:45

Torneira
Torneira Crédito: Agência Brasil/EBC

A elevação das temperaturas, a expansão das cidades e o avanço econômico devem levar a demanda por água tratada no país a crescer 59,3% nas próximas duas décadas. Ao mesmo tempo, as projeções indicam que, até 2050, a temperatura máxima nas cidades brasileiras deve subir cerca de 1°C e a mínima, 0,47°C, em comparação a 2023. Além disso, o número de dias chuvosos deve diminuir, enquanto os eventos de chuva intensa se tornarão mais frequentes.  Ou seja, o cenário aponta para um risco: o Brasil pode viver uma nova era de racionamentos de água até 2050.

Em média, o país enfrentaria 12 dias de interrupção no abastecimento por ano, mas, em regiões mais secas como Nordeste e Centro-Oeste, o número pode ultrapassar 30 dias. A estimativa está no estudo “Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”, do Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria Ex Ante. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), em 2023 foram consumidos 10,7252 bilhões de m³ de água. Esse volume corresponde a uma média diária.

Com uma área de mais de 8 milhões de km2 e mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil é o quinto maior país do mundo. Com essa dimensão, o estudo aponta que é natural que as tendências de consumo de água variem de uma região para outra no país. De acordo com os modelos estatísticos do estudo, quanto maior o grau de urbanização de uma cidade, maior o consumo diário per capita de água. A cada aumento de um ponto percentual na população urbana do município, espera-se um crescimento de 0,96% no consumo de água.

Fazer exercícios regularmente e ingerir a quantidade adequada de água são ações que ajudam a prevenir a trombose (Imagem: Inside Creative House | Shutterstock) por Imagem: Inside Creative House | Shutterstock

Outros aspectos que afetam o consumo de água são a tarifa e a temperatura. Foi constatado que grandes variações de preço estão associadas a pequenas variações na demanda, o que reflete um comportamento típico de serviços com preços regulados. Além disso, a temperatura máxima das cidades também é um fator relevante para o consumo, interferindo de forma positiva no nível de demanda: quanto mais quente, maior o consumo per capita diário.

Para cada grau Celsius adicional, a demanda por água cresce 24,9%. A umidade relativa do ar interfere no consumo per capita de água: quanto maior a umidade relativa do ambiente, maior o consumo. Na média das cidades brasileiras, a cada aumento de um ponto percentual na umidade relativa do ar, o consumo per capita de água cresce 3,6%. O número de dias de precipitação também impacta a oferta per capita de água: cidades com chuvas mais frequentes estão associadas a níveis de oferta mais elevados.

Em média, nas cidades brasileiras, a cada dia adicional de chuva na média mensal, o consumo per capita de água aumenta em 17,4%. Assim, municípios em áreas tropicais, com temperaturas elevadas ou localizados próximos ao litoral, apresentam maior oferta de água em relação a cidades situadas no semiárido brasileiro. Estas regiões, embora também registrem temperaturas elevadas, têm pouca precipitação, o que ocasiona restrições na oferta de água nas áreas de cerrado e caatinga. 

Perdas de água

Para projetar a necessidade de água até 2050, foram consideradas algumas tendências. Entre elas, a redução gradual do índice de perdas de água na distribuição. Em 2023, muitos municípios apresentavam perdas extremamente elevadas, superiores a 80% da produção. Isso significa que, para cada litro consumido, outros quatro se perderam no caminho. Essas perdas são, majoritariamente, causadas por vazamentos na rede e pelo desvio de água (consumo não autorizado).

O estudo pressupõe um ritmo constante de redução das perdas de 0,6% ao ano na média das cidades brasileiras até 2050. Essa redução constitui um fator importante para evitar um crescimento excessivo do consumo, mesmo diante do avanço esperado em direção à universalização dos serviços.

No cenário principal do estudo,  a universalização dos serviços de abastecimento de água em todo o país é alcançada já em 2033. Nessa projeção, o consumo per capita médio do país deve passar de 175,29 litros diários por habitante em 2023 – com acesso ao sistema de abastecimento de água – para um volume médio de 204,86 litros diários por habitante em 2033. Isso corresponde a uma taxa média de crescimento anual de 1,6%, inferior ao aumento projetado para o rendimento per capita do trabalho no mesmo período, de 2,6% ao ano.

Para todos os cenários do estudo, a expansão do consumo deve ficar abaixo do aumento de renda em razão da redução de perdas, de um lado, e do ligeiro aumento de preços que contém o crescimento da demanda. No período seguinte, entre 2033 e 2040, quando se espera que a renda per capita cresça à taxa de 1,1% ao ano, a expansão do consumo será também menor. Conforme estimado, a continuidade da redução de perdas e o ritmo suave no crescimento dos preços relativos fazem com que a demanda de água por habitante apresente uma redução de 0,5% ao ano nesse intervalo de tempo.

Dessa forma, para o período de 2023 a 2050, espera-se um crescimento médio anual de 0,8% no consumo per capita de água, resultando em um aumento acumulado de 25,3% ao longo dos 27 anos. Com o atual índice de perdas, a demanda futura de água até 2050 exigiria um aumento significativo na produção.

A projeção indica que o consumo adicional de água até 2050 seria de 6,414 bilhões de m³. Considerando as perdas registradas em 2023, que foram de 40,3%, a produção adicional necessária seria de 10,672 bilhões de m³, um aumento de 59,3% em relação à produção do setor de saneamento em 2023, que foi de 18,002 bilhões de m³.

Em 2023, o desperdício de água tratada superou a cifra de 7 bilhões de m³, volume que seria suficiente para suprir a demanda adicional estimada de 6,414 bilhões de m³, sem causar pressões adicionais sobre os mananciais. Caso as perdas fossem reduzidas para um índice de 25%, a necessidade de produção de água diminuiria em 2,138 bilhões de m³, comparada ao cenário em que as perdas permanecem em 40,3%.