Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Rede Nordeste, O Povo
Publicado em 24 de setembro de 2019 às 09:29
- Atualizado há 2 anos
Um "Salve Geral" na sexta-feira (20) e o Ceará volta a viver uma onda de ataques. Já são pelo menos 15 veículos incendiados em três dias. Presidiários denunciam supostos abusos e exigem a volta do que reconhecem como "regalias". O Governo não cede e reafirma que a ordem é endurecer procedimentos dentro das unidades prisionais. Porque mais uma onda de violência se espalha pelo Ceará?>
No texto que circulou pelas redes sociais, o "crime organizado" exige o fim do que chama de "atos de crueldade" e "abuso de poder" no sistema carcerário. Pede ainda visita íntima, TV, tomadas, alimentação decente. Por nota, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) afirma que mantém ações pautadas pela Lei de Execução Penal e pelo princípio da dignidade.>
A situação remete ao que o Estado viveu em janeiro de 2019: o crime pressiona o Governo e sequestra o espaço urbano, ameaçando o cotidiano. "No início do ano, o Mauro Albuquerque (titular da SAP) assume. O método dele é de intervenção e força. É útil para pôr ordem sem letalidade, mas quando se torna uma rotina assume caráter de tortura institucional", analisa o membro do Conselho Penitenciário, Cláudio Justa. Ele pondera que num estado de superlotação e baixo efetivo de agentes penitenciários, para manter a disciplina acaba-se abusando do uso da força.>
Cláudio detalha que, hoje, membros de facções criminosas diferentes estão nas mesmas unidades, embora não se encontrem. E há um isolamento dos líderes, o que neutraliza as vozes de comando. "Para o indivíduo deixar de obedecer a voz do comando para obedecer ao agente ele passa por momentos de violação de sua dignidade. Ele precisa ficar dócil. Existem práticas para isso, o cara fica horas em pé, são colocados em fileiras nus, machucados nos dedos para que não reajam", detalha.>
Foram quase sete meses desde os últimos ataques, tempo suficiente para que as organizações criminosas se rearticulassem, com novas lideranças e recursos materiais. Para o doutor em Sociologia e colunista de Segurança Pública do O POVO, Ricardo Moura, os procedimentos que limitam o campo de ação dos presos dentro das unidades, que restringe a comunicação com quem está fora, não são sustentáveis por muito tempo. "Estamos vendo uma reação a essas medidas e o secretário acena com aumento do rigor. Era uma questão de tempo para que houvesse mais registro de ataques", avalia.>
As ações de inteligência, que incluem as polícias Militar e Civil, além do sistema presidiário, têm o papel de antecipar ameaças e detectar possíveis problemas. De acordo com Ricardo, uma ação de inteligência proativa tenta identificar esses "salves". "O que notamos, nesse primeiro momento, é que os órgãos de segurança foram tomados de surpresa. Se deixou ocorrer é porque não sabia ou a informação não se transformou em uma reação estatal a tempo", pondera.>
Se o indivíduo que está na cadeia diz que vai fazer um movimento e o faz, significa que ele consegue manter a conexão com sua rede. É o que destaca o ex-comandante geral da PM do Rio de Janeiro e analista de segurança, coronel Ubiratan Ângelo. Ele explica que o caráter de ressocialização de uma pena exige que sejam oferecidos o lado bom da sociedade, não apenas o punitivo. E questiona: "os cortes (de visita, acesso à TV) foram para não ressocializar ou porque aqueles presos ultrapassaram os limites e praticam crime e corrupção dentro dos presídios?".>
O coronel é incisivo ao afirmar que o Estado não deve ceder a grupos criminosos que "para reivindicar, tacam fogo em ônibus". "Uma negociação é feita quando se estabelece um processo de pressão. Mas precisa ser legítimo e legal. Mas quando é demonstração de força contra o Estado, tem de reagir energicamente", destaca. Conforme ele, uma das formas de reagir é ativar o sistema de inteligência, identificar os organizadores e estabelecer uma neutralização da força criminosa.>
Reação O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) determinou ontem que líderes de organizações criminosas sejam transferidos para presídios de segurança máxima.>
As informações são do Jornal O Povo>