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Perla Ribeiro
Publicado em 6 de setembro de 2025 às 13:17
Tem muita gente que não consegue nem se imaginar ficar sem internet no celular. Mas, se para alguns isso pode representar um drama, a ciência revela que o impacto é positivo para a saúde mental. Um estudo da Universidade de Alberta, no Canadá, publicado no Pnas, periódico da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, comprova que ficar sem acesso à internet no celular melhora o bem-estar e a capacidade de foco e atenção. >
Cientistas já especulam há algum tempo sobre os danos cognitivos e emocionais de viver em conexão permanentemente, mas faltam dados sobre o assunto. Para testar o efeito da desconexão, os autores do novo estudo selecionaram 467 voluntários que toparam instalar um aplicativo no celular capaz de bloquear o acesso à internet móvel por duas semanas, incluindo dados e wi-fi. >
Os participantes foram divididos em dois grupos: metade ficou sem internet por duas semanas, enquanto os demais serviram de controle para comparar os resultados. Depois, todos ficaram duas semanas bloqueados, mas ainda com acesso a mensagens de texto e chamadas, além de internet no computador.>
Os voluntários responderam a questionários sobre saúde mental antes e no final do estudo. Os testes tinham perguntas sobre sintomas de ansiedade e depressão, bem como análises específicas para avaliar a capacidade de atenção. Ao final do período, quase todos (91%) mostraram melhora no bem-estar subjetivo, ou seja, na forma como avaliavam sua saúde emocional, nos índices de saúde mental e na capacidade de manter a atenção. Segundo os autores, isso se deve à forma como as pessoas passaram a usar o tempo — com menos acesso à internet, sobrou mais espaço para socialização, prática de atividade física ou contato com a natureza. >
Alguns fatores explicam como a conexão constante pode afetar negativamente a saúde mental e a atenção. “Há uma sobrecarga cognitiva, ou seja, recebemos ou temos acesso a uma quantidade muito grande de informações e isso acaba exigindo que o nosso cérebro processe estímulos constantes, o que pode levar à fadiga mental”, observa a psicóloga Bianca Dalmaso, do Einstein Hospital Israelita “Sons de notificações e a tentação de checar redes sociais ou mensagens fazem com que interrompamos as tarefas, prejudicando a atenção sustentada e a produtividade”.>
O uso intenso de redes sociais também tem consequências. “Isso está associado a sentimentos de inadequação, ansiedade e depressão, devido à comparação com vidas idealizadas”, aponta Dalmaso. O tempo gasto online muitas vezes substitui momentos de descanso, pausas, interações sociais presenciais, atividades físicas e contato com a natureza, todos essenciais para o bem-estar psicológico.>
Como controlar o uso>
Para usar o celular de forma mais saudável, a psicóloga recomenda adotar pequenas mudanças na rotina. Uma delas é definir propósitos claros: antes de pegar o aparelho, vale se perguntar “por que estou acessando agora?”, o que ajuda a evitar o uso automático. >
Também é importante organizar a tela inicial, mantendo apenas aplicativos realmente úteis e retirando atalhos de redes sociais que estimulam o impulso de abrir sem necessidade. Outra estratégia eficaz é ativar o modo “não perturbe”, sobretudo durante momentos de trabalho, estudo ou sono. >
Dar prioridade às conexões reais, com interações presenciais sempre que possível, também faz diferença. Por fim, escolher consumir conteúdos com intenção — como leituras, cursos ou vídeos educativos —. em vez de rolar o feed eternamente, contribui para transformar o tempo de tela em algo mais proveitoso e menos nocivo. Também é possível adotar estratégias que funcionam como “redução de danos”, diminuindo os impactos negativos do excesso de conexão.>
Conheça algumas delas:>