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Agência Brasil
Publicado em 18 de novembro de 2024 às 12:54
Como anfitrião da Cúpula de líderes do G20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro a discursar na manhã desta segunda-feira (18), no lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A iniciativa do Brasil já conta com 81 membros, segundo balanço apresentado nesta manhã.>
Em sua fala, proferida no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, o presidente conclamou os líderes globais a terem a coragem de agir e ressaltou que a fome não é um fenômeno natural, mas um produto de decisões políticas que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.>
Confira a íntegra do discurso:>
Minhas amigas e meus amigos,>
Primeiro, eu quero agradecer a generosidade da presença de vocês, transformando o Rio de Janeiro na capital do mundo, neste dia 18 de novembro, dia 19 de novembro.>
É muito importante o que vamos discutir aqui e eu tenho certeza que, se nós assumirmos a responsabilidade com esses assuntos, da fome e da pobreza, nós poderemos ter sucesso em pouco tempo.>
Por isso, eu queria dizer a todos vocês: sejam bem-vindos ao Rio de Janeiro. Aproveitem esta cidade que é conhecida como a Cidade Maravilhosa.>
Esta cidade é a síntese dos contrastes que caracterizam o Brasil, a América Latina e o mundo.>
De um lado, a beleza exuberante da natureza sob os braços abertos do Cristo Redentor.>
Um povo diverso, vibrante, criativo e acolhedor.>
De outro, injustiças sociais profundas.>
O retrato vivo de desigualdades históricas persistentes.>
Estive na primeira reunião de líderes do G20, convocada em Washington no contexto da crise financeira de 2008.>
Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior.>
Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada.>
Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta.>
As desigualdades sociais, raciais e de gênero se aprofundam, na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas.>
O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza.>
Segundo a FAO, em 2024, convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas.>
É como se as populações do Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome.>
São mulheres, homens e crianças, cujo direito à vida e à educação, ao desenvolvimento e à alimentação são diariamente violados.>
Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível.>
Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável.>
A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais.>
A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, “a fome é a expressão biológica dos males sociais”.>
É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.>
O G20 representa 85% dos 110 trilhões de dólares do PIB mundial.>
Também responde por 75% dos 32 trilhões de dólares do comércio de bens e serviços e dois terços dos 8 bilhões de habitantes do planeta.>
Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade.>
Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.>
Este será o nosso maior legado.>
Não se trata apenas de fazer justiça.>
Essa é uma condição imprescindível para construir sociedades mais prósperas e um mundo de paz.>
Não por acaso, esses são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2 da Agenda 2030.>
Com a Aliança, vamos articular recomendações internacionais, políticas públicas eficazes e fontes de financiamento.>
O Brasil sabe que é possível.>
Com a participação ativa da sociedade civil, concebemos e implementamos programas de inclusão social, de fomento da agricultura familiar e da segurança alimentar e nutricional, como o nosso Bolsa Família e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.>
Conseguimos sair do Mapa da Fome da FAO em 2014, para o qual voltamos em 2022, em um contexto de desarticulação do Estado de bem-estar social.>
Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas.>
Em um ano e onze meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24, 5 milhões de pessoas da extrema pobreza.>
Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome.>
E com a Aliança, faremos muito mais.>
Aqueles que sempre foram invisíveis estarão ao centro da agenda internacional.>
Já contamos com a adesão de 81 países, 26 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e organizações não-governamentais.>
Meus agradecimentos a todos os envolvidos na concepção e no funcionamento desta iniciativa, que já anunciaram contribuições financeiras.>
Foi um ano de trabalho intenso, mas este é apenas o começo.>
A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global.>
Que esta cúpula seja marcada pela coragem de agir.>
Por isso quero declarar oficialmente lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.>
Muito obrigado.>
Bem, meus amigos, daremos agora o início à discussão entre os membros do G20, começando pelos países da troika. Por isso, eu quero passar a palavra para o primeiro-ministro Narendra Modi, da Índia, última presidência do G20.>