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Tharsila Prates
Publicado em 16 de maio de 2025 às 21:35
Os bebês reborn viraram assunto nas casas legislativas pelo país. Dezenas de projetos de lei tramitam para prever multas a quem utiliza bonecos hiper-realistas em atendimentos prioritários e até barrar o atendimento, por profissionais de saúde ou servidores públicos, nas unidades públicas e privadas, inclusive nas conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).>
Outras propostas dispõem sobre o acolhimento psicossocial de pessoas que desenvolvam vínculos afetivos intensos com objetos de representação humana. Essas ações garantiriam acolhimento e escuta qualificada de pessoas que apresentem sofrimento mental relacionado a "vínculos afetivos disfuncionais" com objetos de representação humana, além de orientação e apoio aos familiares e cuidadores quanto aos sinais de alerta relacionados ao uso compulsivo, à fuga da realidade e à dependência afetiva em relação a esses objetos.>
A deputada Rosângela Moro (União Brasil) explica que a proposta que fez não pretende criminalizar, ridicularizar ou patologizar o uso desses objetos, tampouco restringir liberdades individuais. "Pelo contrário: parte-se do princípio da autonomia do sujeito e da liberdade de conduta, orientando-se pela necessidade de criar mecanismos institucionais de acolhimento ético e não estigmatizante, capazes de identificar precocemente sinais de sofrimento emocional que, quando negligenciados, podem evoluir para situações de risco real.">
No caso das multas, entrar em filas de prioridade alegando estar com crianças de colo (o bebê reborn) sujeita o infrator à multa de 5 a 20 salários-mínimos, aplicada em dobro no caso de reincidência.>
No fim de abril, o CORREIO ouviu um psicanalista que explicou a função terapêutica que esse objeto pode ter entre idosos e crianças, por exemplo, mas que alertou também para a falsa ilusão de uma presença humana. >
No Rio de Janeiro, o deputado Rodrigo Amorim (União Brasil) propõe um Programa de Saúde Mental para pessoas que se consideram pais e mães de bebês reborn, no âmbito do estado do Rio de Janeiro.>
O parlamentar entende que os bebês reborn podem ser uma ferramenta terapêutica valiosa, "mas não podem ser um objeto que faça a pessoa fugir da realidade ou ainda criar uma dependência afetiva, o que pode ser indício de necessidade de atendimento psicológico", justifica Amorim.>
Durante uma sessão na tarde de quarta-feira (14), na Alerj, o deputado comentou sobre o projeto: “A moléstia mental tem feito pessoas se debruçarem para o tal do ‘bebê reborn’, que é, sem dúvida nenhuma, um transtorno mental e que deve ser tratado e encarado pelo poder público”, afirmou. >
Na Bahia, a reportagem não localizou projetos com essa temática na Assembleia Legislativa do estado nem na Câmara de Vereadores de Salvador.>
No âmbito do Judiciário, já há advogados preocupados com o aumento das demandas envolvendo bebês reborn, como os pedidos de guarda desses objetos entre ex-companheiros. "Parece surreal, mas são questões que batem à porta do Judiciário. Me pergunto como essas novas demandas, ligadas à afetividade e ao mundo digital, serão recebidas pelos tribunais", disse a advogada Suzana Ferreira, que levantou a dúvida na rede social.>