Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Rede Nordeste, JC
Publicado em 26 de junho de 2019 às 20:19
- Atualizado há 2 anos
Oito minutos e 34 segundos da tortura que provocou sua morte registrados por uma de suas assassinas em vídeo divulgado nas redes sociais. O crime contra uma adolescente de 14 anos, cometido por outras duas jovens de 15 no Pontal de Maria Farinha, Paulista, Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco, na manhã dessa terça-feira (25), causou indignação. Mesmo pedindo que as agressoras parassem e conversassem com ela, a vítima não conseguiu escapar dos socos, puxões de cabelo, tentativas de afogamento e golpes de faca. (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem) Vestindo o uniforme de uma escola pública do Recife, ela foi encontrada morta na beira-mar, perto de uma edificação abandonada. As duas suspeitas, que estariam sob efeito de drogas, resistiram à apreensão na praia, agredindo policiais. “Até nós, policiais, ficamos surpresos com tamanha agressividade, falta de amor ao próximo e perversidade com que o crime foi cometido. Elas apresentaram resistência desde o momento da apreensão”, relatou o tenente-coronel Ramalho, comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela captura.>
Por volta das 14h40, as duas adolescentes chegaram à Delegacia de Polícia da 34ª Circunscrição, em Maria Farinha, onde foram autuadas em flagrante por ato infracional equiparado a homicídio. Na unidade policial, o delegado Álvaro Muniz tentou ouvi-las, mas só conseguiu de maneira informal, já que ambas permaneceram agressivas durante o tempo em que estiveram no local. “Desde o momento em que foram apreendidas, se mostram extremamente agressivas e com sinais de que ingeriram entorpecentes. Iniciamos o depoimento, mas de uma hora para outra, começaram a gritar, surtar, inclusive agredindo policiais civis. Diante do contexto, fica inviável colhermos a versão para esse trágico crime”, explicou à TV Jornal.>
Possíveis motivações Segundo o delegado, com base no que conseguiu escutar inicialmente, o assassinato teria sido motivado por uma possível traição. “As informações que elas nos dão são de que a vítima teve um relacionamento com uma delas por cerca de dois anos, separaram, e agora a vítima pediu para se encontrar. A outra descobre e vai atrás, presencia o encontro e começam aí as agressões físicas. A traída vai ao local e a outra deixa que as agressões aconteçam até um determinado instante em que participa também”, disse.>
Pouco antes das 21h, as duas, que já haviam passado pela Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), foram levadas para a Unidade de Atendimento Inicial (Uniai) do órgão, na Boa Vista, Centro do Recife No Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, área central da cidade, a mãe da vítima, 36, afirmou que o crime ocorreu porque uma das agressoras estava inconformada com o fim do relacionamento. “O que ela fez foi uma maldade, cruel e ainda botou nas redes sociais. Isso não existe, isso a gente não faz nem com bicho, imagina com um ser humano”, disse.>
A versão é a mesma apontada pelo namorado da menina, um jovem de 17 anos. “Ela não aceitou o fim do relacionamento, não queria ver minha namorada feliz e fez essa barbaridade”, afirmou.>
Pai soube vendo vídeo Sem acreditar ainda no que aconteceu, familiares e amigos da jovem participaram do velório da adolescente na manhã desta quarta-feira (26), no Cemitério de Santo Amaro, área central do Recife. A mãe da jovem não teve condições de falar com a imprensa. Em uma cadeira de rodas, estava muito abalada e foi consolada por outros familiares todo o tempo. O pai afirmou que ficou sabendo da morte da menina vendo o vídeo do brutal assassinato que circula nas redes sociais.>
"Estava indo para minha casa. Quando cheguei em uma lanchonete, fui comer alguma coisa, as pessoas estavam compartilhando o vídeo: 'duas meninas mataram outra em Maria Farinha'. Eu falei 'cadê, deixa eu ver?'", relatou. "Eu não vi o rosto, mas vi o perfil. Já me deu um calafrio. Aí eu fiz, 'ei, cara, mostra o rosto'", continuou. Diante da resistência das pessoas, o homem revelou que a menina do vídeo poderia ser sua filha. "Eu falei 'por favor, adianta, ela é minha filha!'. Todo mundo parou, olhou assim e aceleraram o vídeo. Quando eu olhei, tive um choque", descreveu emocionado o pai. >
O namorado da jovem também estava na cerimônia. Ele contou que falou com ela na manhã do crime. "Ela passou no meu trabalho de manhã para ir para à escola e me pediu dinheiro para lanchar. Ela olhou para mim e disse: 'meu amor, eu te amo'. Aí eu disse 'te amo, vida'", descreveu.>
Segundo o namorado, quem contou o que tinha acontecido foi a própria mãe da vítima. "Quando cheguei na rua de casa, a mãe dela se deparou comigo e perguntou por ela. Ai eu disse:'tá na escola'. Ela falou 'tá não, mataram ela'. Alguém já tinha mandando para ela o vídeo e a foto", conta o jovem.>
O pai e o namorado confirmaram que a jovem tinha um relacionamento conturbado com uma das suspeitas de cometer o crime. A vítima chegou a fugir de casa por 20 dias quando namorava com a suspeita. O pai alegou que chegou a proibir o relacionamento e que a suspeita tem um histórico ruim. "Ela sofria agressões tanto psicológicas quanto físicas", afirmou.>
De acordo com o namorado, a vítima tinha marcas de agressões pelo corpo. "Ela tinha medo dela, porque ela batia nela. Tinha várias cicatrizes de faca na perna", conta o jovem.>