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Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2019 às 11:23
- Atualizado há 2 anos
Os servidores do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) entregarão uma carta aberta nesta sexta-feira (30) ao presidente do órgão ambiental, Homero de Giorge Cerqueira. O Estadão/Broadcast teve acesso à carta, que já foi assinada por mais de 350 servidores do instituto, que é responsável pela fiscalização das 334 unidades de conservação federal do país. No documento, os funcionários públicos pedem o "fim à política de assédio e intimidação de servidores, envolvendo, entre outras estratégias, as remoções de cunho punitivo, o cerceamento à livre manifestação, além de críticas e insultos às instituições e servidores por parte do alto escalão do governo federal".>
Essas atitudes, diz a carta, acabam por acarretar a desmotivação dos servidores, descredibilidade dos órgãos junto à sociedade, bem como a promoção de ações reativas por parte de grupos organizados com interesses na apropriação indevida do patrimônio natural, decorrentes do empoderamento de infratores ambientais na certeza da impunidade".>
Os servidores pedem ainda que o governo paute suas ações "com base nos dados científicos, nas boas práticas reconhecidas internacionalmente e nos princípios constitucionais da administração pública, evitando o desmonte dos órgãos ambientais - fundamentais para a proteção do meio ambiente - e a destruição dos recursos socioambientais brasileiros".>
Veja abaixo a íntegra da carta:>
"Carta aberta ao ICMBio e à Sociedade Brasileira.>
1. No dia 28 de agosto de 2019, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio completou 12 anos de dedicação a sua missão de proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental, por meio da gestão de 334 Unidades de Conservação Federais, que correspondem a quase 10% do território continental e 24% do marinho, essenciais à qualidade da vida humana, incluindo a manutenção da biodiversidade, dos serviços ecossistêmicos, dos benefícios econômicos e do bem-estar social.>
2. Tão nobre missão é desempenhada por apenas 1529 servidores permanentes da Carreira de Especialista em Meio Ambiente, além de colaboradores e servidores cedidos, que se dedicam a inúmeras atividades que envolvem a gestão de unidades de conservação e de espécies ameaçadas, tais como: demandas administrativas, atendimento ao público, educação ambiental, implementação de instrumentos participativos, mediação de conflitos, monitoramento da biodiversidade, pesquisa, fiscalização, prevenção e combate a incêndios, regularização fundiária, visitação, manejo e uso sustentável dos recursos da biodiversidade, dentre outras.>
3. Nós, servidores de Estado e do principal órgão de gestão de áreas protegidas no Brasil (ICMBio), diante da crise ambiental que assola o país e da responsabilidade legal de garantir a proteção do patrimônio natural brasileiro, vimos manifestar nossa preocupação quanto aos rumos da política ambiental nacional corroborando a Carta Aberta dos servidores do IBAMA à sociedade brasileira (Ofício n 384/2019 /SUPES/TO), com a qual concordamos integralmente, e acrescentamos aspectos que entendemos sensíveis e carentes de atenção por parte do governo federal:>
a) Fortalecer os órgãos de controle, pesquisa, monitoramento e fiscalização federais (IBAMA, ICMBio), com suporte orçamentário, restabelecimento do contingente de pessoal, principalmente prevendo a realização de concursos públicos.>
b) Suprimir quaisquer ingerências nas ações de fiscalização no que tange à aplicação de medidas cautelares de competência discricionária dos fiscais.>
c) Respeitar os procedimentos de planejamento da fiscalização de ilícitos ambientais e combate a incêndios florestais, instituídos pelos órgãos ambientais, com base na legislação pertinente, em informações verídicas e nos procedimentos técnicos.>
d) Ampliar a utilização de recursos tecnológicos que possibilitem a rápida atuação institucional em ações de monitoramento e fiscalização para que avancem cada vez mais em sistemas de monitoramento, incluindo as iniciativas nacionais consolidadas e reconhecidas internacionalmente (PRODES, DETER, PREPS).>
e) Melhorar as condições de trabalho das unidades descentralizadas do IBAMA e do ICMBio, viabilizando a segurança e o reforço das equipes de campo em ações planejadas de fiscalização e monitoramento.>
f) Nomear, preferencialmente, servidores do quadro funcional das instituições (IBAMA e ICMBio) nos cargos de chefia, coordenação e direção, sobretudo respeitando critérios técnicos já previstos em norma vigente, incluído a instalada pela Presidência da República - Decreto no 9.727, de 15 de Março de 2019.>
g) Atuar de forma integrada com organizações da sociedade civil e populações tradicionais, indígenas e quilombolas, como parceiros e protagonistas no desenvolvimento sustentável do país>
h) Retomar a unicidade da gestão ambiental federal, reintegrando o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a Agência Nacional de Águas (ANA) ao Ministério do Meio Ambiente, instrumentos indispensáveis para a gestão territorial, o monitoramento e o controle de atividades humanas, além do desenvolvimento sustentável das florestas e a promoção de políticas públicas.>
i) Pôr fim à política de assédio e intimidação de servidores, envolvendo, entre outras estratégias, as remoções de cunho punitivo, o cerceamento à livre manifestação, além de críticas e insultos às instituições e servidores por parte do alto escalão do governo federal.>
Tais atitudes acabam por acarretar a desmotivação dos servidores, descredibilidade dos órgãos junto à sociedade, bem como a promoção de ações reativas por parte de grupos organizados com interesses na apropriação indevida do patrimônio natural, decorrentes do empoderamento de infratores ambientais na certeza da impunidade.>
4. Além das medidas acima elencadas, solicitamos ao governo que paute suas ações com base nos dados científicos, nas boas práticas reconhecidas internacionalmente e nos princípios constitucionais da administração pública, evitando o desmonte dos órgãos ambientais - fundamentais para a proteção do meio ambiente - e a destruição dos recursos socioambientais brasileiros.>
5. Há doze anos trabalhamos, silenciosamente, para proteger o patrimônio natural brasileiro em prol de toda a humanidade e continuaremos a fazê-lo até a última molécula de oxigênio se esvair de nossas florestas.>
Respeitosamente, servidores do ICMBio">