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Rede Nordeste, JC
Publicado em 2 de abril de 2022 às 10:49
A morte da menina Heloysa Gabrielly, de 6 anos, durante uma perseguição de policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) contra suspeitos de tráfico de drogas, na última quarta-feira (30), trouxe à tona o silencioso avanço da criminalidade na praia de Porto de Galinhas, no Litoral Sul, principal cartão-postal de Pernambuco. >
Na comunidade de Salinas, onde a criança foi baleada com um tiro no peito - ainda não se sabe de que arma partiu -, a facção criminosa Trem Bala é forte, articulada e até violenta quando sente a resistência de moradores em seguir as ordens.>
"Recentemente invadiram a residência de um casal de idosos, que foram expulsos para que os criminosos usassem o local como ponto de tráfico", relatou um policial civil.>
A facção é uma velha conhecida da Polícia Civil de Pernambuco. Há anos, avança pelo Litoral Sul do Estado. E é justamente no município de Ipojuca, onde Porto está localizado, que a organização criminosa mais cresceu. >
"Há uma tentativa da facção Trem Bala em criar um estado de poder paralelo em alguns locais de Ipojuca, por isso a necessidade da presença do Bope", afirmou o promotor criminal de Ipojuca, Rodrigo Altobello, em entrevista à coluna Ronda JC. >
O promotor confirma que há, sim, ligação da Trem Bala com o Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do Brasil e que tem sua origem em São Paulo. >
"Há uma ligação e atuação conjunta da Trem Bala com o PCC. Como se a Trem Bala fosse um braço de um mesmo corpo. Elas atuam em parceria", disse. >
Avalia-se que o PCC tenha mais de 33 mil integrantes no País, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo em 2020. >
Desde 2018, o Bope atua de forma permanente em Ipojuca - principalmente na comunidade de Salinas - para tentar barrar o avanço da facção. Há informações, no entanto, de que, no ano passado, os policiais deixaram o local. E precisaram voltar em março deste ano. Questionado pela coluna, nesta sexta-feira (1º), o secretário estadual de Defesa Social, Humberto Freire, negou. >
"Não tiramos a base do Bope, em Salinas, e prosseguirá lá porque temos serviços prestados, redução de números da criminalidade em razão desse trabalho técnico e importante e nós vamos prosseguir. E não é só com o Bope não. Trabalho técnico acontece com batalhão de área, com Delegacia de Porto de Galinhas, com investigações do nosso departamento de narcotráfico. E com operações", declarou. >
O promotor Rodrigo Altobello reforçou a importância das investigações integradas.>
"Nós temos feito diversas medidas para o combate à criminalidade em Ipojuca. Após investigações da Polícia Civil, o Ministério Público de Pernambuco requereu e o Poder Judiciário proferiu decisões que acabaram por localizar e prender o líder máximo da facção Trem Bala. Também fizemos uma operação enorme para prender outros integrantes da facção, com prisões em vários Estados e bloqueio de mais de um bilhão.">
RUAS SOB DOMÍNIO DA FACÇÃO Além de Salinas, outras duas comunidades em Porto de Galinhas preocupam a polícia: Socó e Pantanal. Todas são próximas. Policiais ouvidos em reserva pela coluna Ronda JC contam que, diante do avanço da facção, há ruas, inclusive, que eles não conseguem ter acesso.>
Questionado pela coluna, Humberto Freire também comentou. "A gente trabalha para que possa levar segurança para todas as vias, todas as localidades. Não existe local em que a gente não tenha atuação policial. E a gente vai continuar sempre com técnica atuando em todos os locais de Pernambuco.">
INVESTIGAÇÕES E PROTESTOS O secretário estadual afirmou que três investigações estão em andamento em relação à morte de Heloysa Gabrielly. "Uma aberta pela Corregedoria da SDS, outra pela Polícia Civil e outro inquérito policial militar." Ele afirmou ainda não ter conhecimento de que arma partiu o tiro que atingiu a menina. Também não informou os calibres das armas de fogo entregues pelos policiais do Bope para investigação.>
Desde quinta-feira (31), o comércio e vários serviços de Porto de Galinhas seguem fechados. Placas pedindo "justiça por Heloysa" estampavam as vitrines das lojas. Protestos também foram realizados, com populares fechando vias e ateando fogo em plantas na estrada. Desde o final da noite, há reforço de policiamento em Porto.>
A prefeita de Ipojuca, Célia Sales, reuniu o Comitê de Crise, ontem, para tratar do caso. Ficou decidido que o poder municipal irá oficializar o governo do Estado"cobrando providências para que a ordem pública e a segurança dos cidadãos e dos turistas, desestabilizada pelo fato, seja restabelecida", informou a assessoria da prefeitura.>
Em relação aos protestos e fechamentos de vias de acesso às praias de Porto de Galinhas e de Serrambi, a prefeitura disse que "a Secretaria de Defesa Social do município está realizando o monitoramento dos pontos de tensão e oferece, junto com a Secretaria de Turismo do Ipojuca, um canal de informações para o turista através do aplicativo 153 digital".>