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Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2012 às 02:51
- Atualizado há 2 anos
Inovação virou moda. Cada vez mais encontramos essa palavra sendo usada nos mais diferentes contextos e circunstâncias. Empresas inovadoras, que operam processos inovadores para lançar produtos crescentemente inovadores. Inovação em serviços, na administração pública, inovações sociais. Campanhas políticas que formatam candidatos inovadores. São exemplos que nos chegam pela mídia, pela internet pelas redes sociais. Como não poderia deixar de ser, o marketing se apropriou dessa palavra para enfatizar não só um possível produto inovador, mas um estilo de consumo vinculado a um modo de vida próprio da modernidade. Enfim, inovação vai se enfronhando no imaginário coletivo como um valor positivo, alguma coisa, mesmo que vaga, que pode nos levar à felicidade.>
Com frequência, também encontramos a palavra inovação em comentários de colunistas de economia. Para alguns, inovação aparece como a palavra mágica que vai dinamizar irreversivelmente a economia brasileira, levando de roldão as nossas estruturas sociais. Para que isso aconteça, todos - governos, empresas e até pessoas – precisariam investir mais em Pesquisa Desenvolvimento (P&D) para garantir a inserção do país na rota do desenvolvimento sem fim. Vista dessa forma alegórica, inovação se confunde com o “elixir da longa vida” econômica. O conceito de inovação foi pela primeira vez proposto por Joseph Schumpeter, um economista austríaco, no início do século passado. Para ele, inovação é a principal arma competitiva de empresas submetidas a um processo de competição no mercado. >
A constante busca por inovações com o objetivo de superar os competidores e abocanhar fatias cada vez maiores do mercado se constitui, para Schumpeter, o motor da dinâmica capitalista. É a inovação que faz com que essa forma de organização econômica e social possua intrinsecamente um impulso que a direciona para sua expansão progressiva, mesmo que cíclica. Essa visão da evolução do capitalismo levou Schumpeter ao conceito de destruição criativa: para que o sistema avance, torna-se necessário destruir velhas formas de organização, de produção e velhos produtos. Para se difundir, o novo precisa se livrar do velho, principalmente das velhas estruturas socioinstitucionais. Nesse momento em que inovação virou moda, é importante resgatar a origem e o uso desse conceito fundamental.>
Certamente que a palavra vai continuar sendo usada nos mais diversos contextos e circunstâncias, assim como outras já o foram no passado. Afinal, o nosso imaginário coletivo precisa ser constantemente preenchido por signos que, de alguma forma, ajudem a construir uma identidade coletiva, ainda que passageira, que nos leve ao consumo e à expansão dos mercados. O público, no entanto, não precisa acreditar que a inovação é a panaceia que vai curar todos os nossos problemas econômicos e mazelas sociais. Pode também ter a opção de desconfiar de reivindicações positivas a ela associadas. Pode ainda constatar que alardeadas inovações nos serviços públicos e sociais muitas vezes são coisas velhas que atrapalham o surgimento do novo. Quanto ao marketing, nada a fazer. Ele está sempre buscando novas formas de vender e, no momento, inovação está vendendo muito.>
Francisco Teixeira é professor titular da Escola de Administração da Ufba>