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Perla Ribeiro
Publicado em 2 de agosto de 2025 às 13:32
Ao chegar em Dubai, nos Emirados Árabes, e se deparar com a história da cidade que atrai 18,72 milhões de turistas por ano e tem o segundo aeroporto mais movimentado do mundo, a curiosidade é inevitável: como foi possível alcançar esse feito em tão pouco tempo? Como um lugar que tinha uma economia movida pelo comércio de pérolas artesanais se reinventou a partir da descoberta de petróleo, em 1966, e se tornou o sétimo destino mais visitado do mundo? Sim, Dubai é repleta de superlativos. Se fosse uma pessoa, poderia ser descrita como uma jovem senhora que ama ostentar.>
Ela não se contenta com pouco. Quer ser a melhor e a maior em tudo. Não é à toa que coleciona 425 recordes no Guiness Book. É lá que foi erguido o edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifan. Com 828 metros de altura, o prédio que foi inaugurado em janeiro de 2010 é um dos maiores símbolos de ostentação da cidade.>
Não tem como circular por Dubai e ignorar o gigante. É como se fosse a Torre Eiffel deles. De vários pontos é possível visualizá-lo e ficar boquiaberto com a sua grandiosidade e imponência em meio a outros arranha-céus. Vizinho ao Burj Khalifan está outro recorde, o Dubai Mall, um shopping responsável por receber mais de 100 milhões de visitantes a cada ano e reunir 1200 lojas. É daqueles lugares que é preciso recorrer a um mapa para não se perder. Nem assim é possível garantir que você dará voltas e mais voltas até se achar.>
Ao lado dos turistas de roupas leves e curtas para sobreviver às elevadas temperaturas da cidade, que pode passar dos 50 graus em julho, os mulçumanos circulam com suas túnicas longas e largas. Nessa Dubai tão diversa e multicultural, as vitrines do shopping também refletem a forma como eles convivem com as diferenças. De um lado, lingeries sensuais ou roupas da moda das grifes mais badaladas do mundo. Do outro, os tradicionais trajes do povo mulçumano. Homens vestem kandoora preto, e mulheres, abaia branca. Não há um consenso quando questionados sobre o motivo que justifique a cor da túnica dedicada a cada gênero.>
Maior aeroporto do mundo>
Para se abrir ao turismo mundial, eles entenderam que era preciso respeitar a diversidade. Pelos diferentes idiomas dá para perceber que tem gente do mundo inteiro ali. Fora os visitantes que desembarcam todos os dias no Aeroporto Internacional Al Maktoum (DWC), quase 200 nacionalidades vivem na cidade, que possui 2,5 milhões de habitantes.>
De acordo com o guia Junaid, a população de Dubai aumenta a cada ano em 200 mil estrangeiros. Justamente por isso, eles estão construindo o maior aeroporto do mundo. Serão cinco pistas, 400 portões de embarque, capacidade para 260 milhões de passageiros por ano e um investimento de cerca de R$ 201 bilhões.>
Enquanto desbrava os atrativos turísticos, o visitante vai perceber como aquela cidade é plural e cheia de dualidades. Ao mesmo tempo em que é cosmopolita e quer ser moderninha, convive com a força do conservadorismo islâmico. O destino se abriu para o mundo, mas tem questões culturais que ainda são inegociáveis.>
O turista não vai encontrar, por exemplo, um casal trocando carinho em público, ou mesmo se deparar com pessoas consumindo bebida alcoólica nas ruas, praias ou praças. O consumo só é permitido em bares, restaurantes e hotéis que possuem autorização para a venda. Não estranhe também se, enquanto estiver em uma loja, o vendedor interromper o atendimento e virar na direção da Meca, que é uma cidade considerada sagrada para eles, e fizer uma oração. Ou, se circulando pelo estacionamento do centro de compras, encontrar uma área isolada e reservada para o momento em que todos voltam a atenção para Alá.>
A cada novo horário do Salat, dezenas de pessoas se dirigem até ali, se posicionam em direção à Meca e se concentram em suas orações. Não é opcional, é algo obrigatório para todos os mulçumanos. Ou seja, para 60% da população. Nos quartos dos hotéis, por exemplo, é comum se deparar com um alcorão e uma seta na parede, indicando a direção da Meca. Além disso, a cidade abriga 4 mil mesquitas.>
Mais de 400 recordes no Guiness Book: veja por que todo mundo quer ir para Dubai
Símbolo de riqueza>
Seja nas construções ou nos costumes, Dubai tenta demonstrar de todas formas ser um símbolo de riqueza. E é. A cidade possui 81 mil milionários entre os seus habitantes. É lá que foi construído o primeiro hotel sete estrelas do mundo, o Burj Al Arab Jumeirah, com diárias que podem chegar a R$ 20 mil. Além dele, existem 169 opções de hotéis cinco estrelas. E quando o assunto é gastronomia, a cidade também ostenta: o guia Michelin Dubai 2024 incluiu 106 restaurantes, sendo quatro estabelecimentos com duas estrelas e 15 conquistando uma estrela.>
Quem viaja com o orçamento apertado vai até agradecer pelas limitações para o consumo de bebida alcoólica. É que os preços por lá não são nada razoáveis para os padrões brasileiros. Uma água chega a custar R$ 45, uma long neck de Stella Artois, R$ 90, e uma taça de vinho, R$ 100. Sim, beber em Dubai é uma ostentação. Mas, quem faz uma viagem como essa, tem que ir ciente de que quem converte não se diverte.>
Está lá também o maior e mais pesado anel de ouro do mundo, peça que possui nada menos do que 64 quilos. A cidade tem, inclusive, um mercado de ouro como uma das atrações turísticas. Os apaixonados por joias vão encher os olhos com tantas opções disponíveis. Ouro é vendido lá como bijuterias no Brasil, com direito a vendedores nas portas das lojas recrutando os turistas para conferir as peças.>
Mas não são só os amantes da joia que vão surtar com a quantidade de opções disponíveis. Nos mercados, conhecidos como souks, todos os sentidos podem ser estimulados. Há um mercado de especiarias, onde é possível aguçar a visão, olfato e paladar com cores, novos cheiros e sabores exóticos de ervas, temperos, chocolates. Também há lojas com uma infinidade de perfumes árabes, que são famosos pela intensidade e fixação.>
Andar pelos mercados é uma experiência à parte. Não estranhe se, ao ser reconhecido como brasileiro, os vendedores começarem a falar nomes de brasileiros conhecidos mundialmente, como Anitta, Neymar, Lula e Bolsonaro, numa tentativa de demonstrar intimidade com o país e atrair mais um possível cliente. Mas, dentre todas as lojinhas do souk de especiarias, em uma, especialmente, o brasileiro vai se sentir como se estivesse em casa.>
Quase um ponto turístico: a loja queridinha dos famosos em Dubai
A loja queridinha dos famosos em Dubai>
Ainda do lado de fora, o turista já se sente acolhido ao olhar para a fachada e se deparar com a imagem de duas bandeiras do Brasil ao lado do nome do estabelecimento em português: Loja do Yousef. Ao entrar no espaço, a decoração também chama a atenção: no teto estão penduradas placas com os nomes de vários estados brasileiros. O proprietário do espaço é um iraniano, que responde pelo nome de Yousef Esmati, vive em Dubai há 20 anos e é um personagem que não passa despercebido. >
Ao saber que a jornalista é da Bahia, ele mostra logo que, mesmo sem nunca ter pisado os pés no estado, tem intimidade com a terrinha e lança o famoso “Bora Bahia, minha porra”. Em seguida, passa a contar com orgulho que tem amigos baianos famosíssimos, como Bell Marques, Carla Perez e Xandy, além de Scheila Carvalho. “Bahia, melhor lugar do Brasil, o mais lindo, onde tem mulheres lindas”, fala, empolgado. Se falasse que era de outro estado, também não faltariam elogios. Ele não mede esforços para agradar a clientela.>
Lá, é possível achar de tudo, de ervas e especiarias tradicionais a chás que são vendidos como sendo de ozempic e de mounjaro, numa alusão aos queridinhos do momento quando o assunto é emagrecimento. A criatividade é tanta que tem até chá de ouro. O visitante vai encontrar também o chocolate com recheio de pistache, que ficou famoso após viralizar nas redes sociais. Depois disso, impossível ir a Dubai e voltar pra casa sem trazer nenhuma barra na bagagem.>
Mais que dono da loja, Yousef faz propaganda de todos os produtos, dá amostras para o cliente provar e como conhece bem o perfil do turista brasileiro, sabe negociar. Os preços são salgados, mas, se pechinchar, dá pra garantir um desconto. Pra quem quer economizar de fato, a dica é explorar os mercados dos bairros para fugir dos preços aplicados para os turistas. “Eu adoro o Brasil, é o melhor do mundo”, diz, sem conhecer o país. Em seguida, completa: “Não posso entrar no Brasil, na verdade, por causa das mulheres lindas. As mulheres mais lindas do mundo moram no Brasil”, diz.>
Para chegar nesses mercados, que estão localizados na cidade velha, uma das possibilidades é fazendo a travessia em um barco tradicional, conhecido como abra, ao longo do Dubai Creek, que separa o Bur Dubai, que está na margem sul, de Deira, que fica na margem norte. A travessia é muito rápida, mas é uma experiência que vale a pena. Enquanto o barco desliza na água, dá para contemplar a Dubai antiga, suas cores, suas formas e sua gente.>
Para entender também onde tudo começou é imprescindível andar pelas ruas do bairro histórico Al Fahidi, um dos locais turísticos mais antigos de Dubai, datado do final do século XIX. Localizado ao longo do Dubai Creek, ele mantém parte da infraestrutura original preservada.>
Construído por comerciantes que se estabeleceram na área, o bairro é preservado como símbolo do patrimônio cultural do emirado. Ele permanece como um testemunho da vida em Dubai antes da era do petróleo, com museus, galerias e centros culturais instalados em construções restauradas com mais de 120 anos.>
“Os turistas gostam mais dessa parte, porque tem a alma de Dubai. É uma parte que carrega o passado de Dubai. Vocês entraram nesse hotel, por exemplo, e no meio dele tem um pátio. No passado, todas as casas tinham um pátio no meio para receber a luz do dia, numa época que não tinha energia elétrica. Era mais fresco também”, conta o guia Junaid.>
Ostentação no trânsito>
Enquanto avança pelas avenidas de Dubai, com certeza, o visitante irá ouvir do guia de turismo uma informação curiosa. Diferente do que ocorre no Brasil, a placa dos veículos pertence aos seus donos e eles pagam alto para ter essa distinção. É que a placa é mais um dos símbolos de riqueza e sinaliza status econômico na cidade, que possui 81 mil milionários entre os seus moradores. Quanto menos dígito, maior o poder aquisitivo. Não é à toa que, a placa P7 foi leiloada, em 2023, por 55 milhões Dirham (moeda oficial dos Emirados Árabes Unidos). Hoje, na cotação atual, seria o equivalente a quase R$ 84 milhões.>
No trânsito, a ostentação não está só no valor das placas. É comum se deparar com rolls-royce, lamborghinis, Ferraris e Mercedes entre os modelos usados na frota de veículos da polícia de Dubai. Entre as menções no livro de recordes, por exemplo, ela aparece como a cidade que tem a viatura mais rápida do mundo, um Bugatti Veryon, que chega a atingir 407km/hora.>
O que atrai os turistas para o deserto de Dubai
O que atrai os turistas para o deserto de Dubai>
Quando se pensa em um deserto, impossível não remeter a imagem da terra alaranjada, com areia solta e esvoaçante. A sensação é de um horizonte de areia sem fim. E, claro, o sol escaldante que, literalmente, parece penetrar na pele até queimar. No Deserto Arábico, não é diferente. Localizado a cerca de 1 hora de Dubai, é mais um dos atrativos buscados pelos turistas que exploram as belezas da cidade. Diariamente, agências de viagem levam grupos de turistas para explorar essas paisagens. As saídas costumam ocorrer na madrugada, a tempo de contemplar o nascer do sol, ou no meio da tarde, para ver o sol se pôr em meio às dunas.>
O veículo vai percorrer cerca de 8km de uma área de dunas, com direito a parada para fotos. Dependendo da agência, pode incluir a contemplação do voo de um falcão adestrado e até mesmo foto ao lado da ave de rapina famosa pela sua velocidade. Sim, o camelo, figura cativa do deserto, também tem direito a participar desse tour. E quem quiser, de fato, viver a experiência terá a oportunidade de montar no animal e dar uma curta volta em trajeto delimitado, na companhia de um guia. >
Mas o que surpreende mesmo é saber que existe vida naquele habitat em que a temperatura pode chegar a 52 graus no verão. Dependendo da época do ano, vai ser possível avistar uma vegetação rasteira. É que o deserto ressignifica sua paisagem a cada estação, apresentando aos visitantes em cada época do ano uma diferente versão.>
“Muita gente não espera ver essa vegetação no meio do deserto. Ela aparece somente no período do inverno. Agora, já começou a morrer e, em um mês e meio, desaparece completamente”, comentou o guia Lorenzo Escobar, um brasileiro de 33 anos, natural de Porto Alegre, que vive em Dubai há dois anos.>
Entre o final de novembro e o início de dezembro, começa a rota migratória das aves. São falcões, patos, garças, que começam a sair do sudeste asiático em direção ao Norte da África e, na sua passagem, dispersam sementes de plantas exóticas por ali. Com a proximidade do inverno e as condições climáticas favoráveis, essas sementes começam a germinar. Quando a primavera vai se aproximando, desaparece tudo.>
Em meio a essa paisagem árida, enquanto desbrava o deserto, o visitante vai avistar orix e gazelas circulando. “Tem quatro tipos diferentes de gazelas. Aqui, a gente acaba vendo, principalmente, as gazelas das montanhas e as do deserto. A partir de junho, os lagartos começam a sair do período de hibernação e temos uma infinidade de lagarto de tudo que é tamanho, dos bem pequenininhos até os que têm mais de 2 metros”, explica o guia.>
Segundo ele, o fato de não haver deserto no Brasil faz do tour uma experiência bastante apreciada pelos brasileiros. "Eles gostam dos camelos e das paisagens. A única coisa que a gente não tem em nosso país com relação a esses biomas é a área do deserto. E tem todo aquele encanto, o misticismo, né?", explica Escobar, que é guia na empresa Platinum Heritage, que oferece safáris de luxo na Reserva de Conservação do Deserto de Dubai em Land Rovers, além de atividades como apresentações culturais autênticas, observação de estrelas e passeios de balão de ar quente. >
O brasileiro conta que os turistas buscam os passeios pelo deserto o ano inteiro, porém, em algumas épocas, a procura é ainda maior. “Mas é constante, no verão, na primavera, no inverno... Toda época do ano tem turistas brasileiros. Verão é quando eles mais vêm! Em julho e agosto fica quente pra caramba, mas o pessoal vem”, avalia. Sim, o deserto é quente o ano inteiro, mas no verão beira ao insuportável. É que a temperatura média bate na casa dos 47 graus e a sensação térmica é ainda maior. “O problema do verão aqui é a alta incidência da umidade a partir da metade de julho, que pode chegar a 80%. Isso faz com que o ar fique mais pesado, a pessoa jorra suor de manhã, de tarde e de noite”, explica.>
A baiana Lívia Knobloch, 44 anos, foi uma das que desembarcaram na cidade na primeira semana de julho. Morando na Alemanha há 17 anos, ela faz, pelo menos, duas viagens internacionais por ano. Dubai estava na sua lista de destinos cobiçados. “Pra quem ama viajar e colecionar memórias como eu, por Dubai ser uma cidade moderna e luxuosa, com certeza não pode faltar no roteiro”, diz. Gostou de muitos atrativos, mas, se tivesse que escolher a melhor experiência, não titubeia: "Sem sombra de dúvidas, o deserto. Pegamos um guia particular, fomos pela manhã e retornamos à noite. Foi uma experiência incrível", avalia. A experiência costuma incluir jantar em acampamentos beduínos, com direito a apresentações culturais e tatuagem de henna.>
A escolha por julho foi em função das férias dos filhos, mas depois de 15 dias aproveitando a cidade, ela reconhece que o mês não é dos melhores para receber os turistas. "É muito quente, com temperatura chegando até a 42 graus, mesmo assim aproveitamos bastante. Fomos em todos os pontos turísticos possíveis, já que nesta época do ano alguns ficam fechados, temporariamente, por causa da temperatura , como o Miracle Garden e o parque aquático inflável", informa. Quando questionada sobre o que mais a atraiu depois do deserto, ela foge da resposta: "Fica difícil escolher o que mais chama atenção, porque tudo em Dubai é apaixonante".>
*A jornalista viajou a convite do Departamento de Economia e Turismo de Dubai>