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Gorgonzola e champanhe vão sumir dos mercados? Entenda o que pode acontecer com esses e outros produtos

Um acordo entre Mercosul e União Europeia vai mexer com os nomes de alguns queijos e bebidas produzidos no Brasil

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 31 de maio de 2025 às 05:00

Nomenclaturas alternativas já aparecem nos mercados
Nomenclaturas alternativas já aparecem nos mercados Crédito: Marina Silva/CORREIO

Desde que representantes da União Europeia e do Mercosul apertaram as mãos para firmar um acordo comercial de parceria, não são os dólares ou as porcentagens tributárias envolvidas que mais chamam a atenção do leitor comum. É o futuro de algumas bebidas e queijos, em especial os queridinhos europeus champanhe e gorgonzola, que está dando o que falar por aqui.

A UE quer proteger e valorizar o que é produzido na Europa, e os produtores brasileiros que fazem receitas similares e usam os nomes dos produtos originais vão precisar se adaptar. Nem o gorgonzola, que é da Itália, nem o champanhe, que é da França, vão sumir no Brasil. Podem continuar sendo importados, mas os que forem produzidos aqui vão precisar ter os nomes alterados.

O acordo foi fechado em dezembro de 2024, mas ainda precisa ser traduzido e assinado por representantes de cada país. Não há data para isso, mas o consumidor já pode notar a proliferação de ‘queijos azuis’, ‘queijos tipo gorgonzola’ e até ‘queijos com mofo azul’.

Um dos caminhos é aplicar o nome
Um dos caminhos é aplicar o nome "mofo azul" Crédito: Divulgação/Baiano Uai

A parte do documento que diz respeito a esses itens trata da proteção de indicação geográfica (IG). No documento enviado ao CORREIO pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), são listadas 358 IGs de produtos europeus originais de diversos países do bloco. Nem todos costumam estar presentes nas mesas brasileiras.

Dos mais comuns, os destaques são: queijo parmesão, queijo gruyere, queijo roquefort, queijo fontina, queijo gorgonzola, queijo grana padano, mozzarella di bufala campana, provolone valpadana, queijo serra da estrela, presunto de parma, presunto toscano, champanhe, prosecco e conhaque.

O que muda?

A maioria deles conseguiu ser salva pelos negociadores brasileiros. Já os que não poderão, de jeito nenhum, continuar a ser produzidos por aqui e vendidos com os nomes originais são o presunto toscano (Itália), o queijo serra da estrela (Portugal) e o provolone valpadana (Itália).

Os itens salvos vão poder continuar com o uso de termos similares, como “queijo tipo gorgonzola”, sem a necessidade de mudar para “queijo com mofo azul”, desde que o nome da marca seja maior do que o do tipo de queijo e a embalagem contenha uma indicação legível e visível da origem geográfica de produção.

Outra exigência é que o uso seja feito por produtores que comprovem que já utilizavam o termo de forma contínua. No documento recebido pelo CORREIO, já há a listagem dos produtores autorizados para cada item. No caso do gorgonzola, são 25 marcas autorizadas. As marcas que não conseguirem comprovar e as que surgirem a partir de agora terão que ficar com a opção do mofo azul.

Queijo gorgonzola está entre os itens salvos na negociação
Queijo gorgonzola está entre os itens salvos na negociação Crédito: Marina Silva/CORREIO

“As exceções foram previstas com o objetivo de reconhecer situações específicas em que determinados produtos já possuíam tradição, reputação ou mesmo proteção legal em seus países de origem. Assim, para evitar prejuízos a produtores que utilizam essas denominações há muito tempo, o acordo prevê que eles possam continuar utilizando os nomes, mesmo após a entrada em vigor do tratado”, explica o Ministério da Agricultura e Pecuária.

Algumas exceções, no entanto, só vão valer por alguns anos, sendo variável para cada produto. Nesse meio, estão queijo roquefort (França), presunto parma (Itália), champanhe (França), prosecco (Itália) e conhaque (França).

Será um período de transição. “O texto também prevê a proibição gradual do uso de algumas denominações europeias protegidas, com prazos que variam entre cinco, sete e 10 anos”, acrescenta o Ministério.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abic), Fabio Scarcelli, conta que participou das negociações e que os termos seguem os mesmos desde os avanços obtidos em 2019. Ele acompanhou o processo de obtenção das exceções, principalmente, para parmesão, gorgonzola, gruyere e grana padano.

“Conseguimos que esses quatro queijos ficassem com a chamada ‘gradfather clause’, em que somente aqueles que iniciaram suas produções antes de uma determinada data poderiam continuar a fabricar com aquela denominação”, diz Fabio Scarcelli.

Uma das marcas opta por usar o termo queijo azul em inglês, com
Uma das marcas opta por usar "queijo azul" e "blue cheese" Crédito: Marina Silva/CORREIO

Contexto

O queijo gorgonzola leva esse nome por ter sido criado na cidade Gorgonzola, que fica perto de Milão, na Itália. Reza a lenda que surgiu a partir de tentativas de recuperar um leite que azedou que resultaram em um mofo azul. A especialista em queijo Thaissa Brandão, dona da marca Baiano Uai e do perfil @comerebeberemsalvador, defende que os nomes originais dos queijos sejam mesmo preservados.

Ela diz que as receitas reproduzidas no Brasil podem até ser as mesmas, mas os produtos nunca serão iguais. “É outro clima, outra forma de maturação. Não tem como fazer exatamente igual porque até a alimentação da vaca, a raça da vaca e o horário que o leite é tirado da vaca fazem diferença”, explica.

Ela conta que recebe na loja produtos de 15 marcas de queijo da Serra da Canastra, em Minas Gerais e cada um deles tem um sabor diferente. O queijo original do tipo canastra, inclusive, também recebeu uma indicação geográfica de proteção, junto com outros produtos da América do Sul.

São 222 itens sul-americanos na lista, sendo 49 deles brasileiros. Desses, 37 estão no ramo de alimentos e bebidas, como os vinhos Farroupilha e Altos Montes e a cachaça. Esses itens, se produzidos na Europa, vão precisar ser vendidos com outros nomes.

A intenção dos dois blocos é ganhar força no cenário comercial internacional. Como explica o Coordenador da Agência de Internacionalização e Exportação (Aiex) da Universidade Salvador (Unifacs), Henrique Oliveira, as negociações começaram em 1999, em um contexto de expansão do poder dos Estados Unidos.

“A Europa, não querendo ficar para trás, buscou o recém-criado Mercosul, considerando a forte influência que sempre teve, por conta da colonização, sobre países da América do Sul e da América Latina como um todo”, diz o especialista.

Quase 25 anos depois, além de não perder para os EUA, a Europa também não quer perder para a China, que cresceu muito neste período. Do outro lado, o Mercosul tem muito a ganhar ao fazer negócio com o maior bloco econômico do mundo.

“A questão ambiental foi o ponto que mais travou a finalização do acordo de 2009 para cá. Além disso, teve uma contestação da França, que é um dos principais produtores agrícolas da Europa, sendo forte produtor de queijos, por exemplo. Já a Alemanha sempre quis essa abertura para acessar produtos, para importar. O Brasil também aguarda muito porque terá a vantagem da entrada de proteína animal”, finaliza Henrique Oliveira.