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Horas antes de ser morta pelo ex, jornalista relatou em áudio descaso ao procurar delegacia

Ela buscou Deam para denunciar o ex-noivo e foi orientada a voltar para casa, de onde havia escapado dele

  • Foto do(a) author(a) Carol Neves
  • Carol Neves

Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 08:40

Vanessa Ricarte
Vanessa Ricarte Crédito: Reprodução

Poucas horas antes de ser assassinada com três facadas no tórax pelo ex-noivo, Caio Nascimento, a jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, reclamou do atendimento recebido ao registrar o boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em Campo Grande (MS). Em um áudio de cerca de quatro minutos, ela relatou o ocorrido a uma amiga. "Eu estou esgotada mentalmente falando, perdida. Sabe quando você está decepcionada? Me sentindo culpada porque eu fui registrar o BO hoje de madrugada", afirmou.

Na mensagem, Vanessa também mencionou seu desagrado com o serviço prestado na Casa da Mulher Brasileira. “Eu que tenho toda a instrução, escolaridade, fui tratada dessa maneira, imagine uma mulher vulnerável, sem ter uma rede de apoio nenhuma. Essas que são mortas, essas que vão para estatística do feminicídio", disse ela, pouco antes de entrar ela também na triste lista de vítimas. 

Vanessa, que trabalhava no Ministério Público do Trabalho (MPT), criticou ainda a atitude da delegada, que a tratou de maneira fria e distante, segundo o relato. “Fui falar com a delegada, fui tentar explicar toda a situação, ela me tratou bem prolixa, bem fria, seca. Toda hora me cortava”, comentou. Em outro trecho da gravação, ela contou que pediu o histórico de denúncias contra o ex-noivo, mas a delegada se recusou a fornecer, alegando sigilo das informações.

Caio Nascimento estava envolvido em 14 processos de violência doméstica contra mulheres, segundo o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Durante o atendimento, a delegada passou o número de telefone da oficial de justiça para Vanessa, mas disse que o boletim de ocorrência não adiantaria, pois o caso já havia sido encaminhado ao judiciário. A jornalista também lamentou que a Deam não compreendesse a gravidade da situação: “Falei que precisava ir pra minha casa, faz dois dias que eu não tomo banho, não troco de roupa. Aí ela: então vai pra sua casa. Você já avisou ele? manda mensagem falando pra ele deixar a casa. Eles não entendem a dimensão do negocio".

A morte de Vanessa, ocorrida na tarde de 12 de fevereiro, fez dela a segunda vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul em 2025. O delegado-geral da Polícia Civil, Lupérsio Degeroni Lúcio, anunciou que um procedimento será aberto para investigar o atendimento recebido pela jornalista. “Determinei um procedimento apuratório para verificar eventuais falhas nesse atendimento, no âmbito da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. A Polícia Civil está e estará sempre do lado da vítima e dos familiares. Externamos a nossa solidariedade”, disse ele, segundo o G1.

O Ministério das Mulheres também tomou providências, enviando um ofício à Corregedoria da Polícia Civil solicitando a abertura de investigação sobre o caso. Em nota, o órgão destacou que, de acordo com o protocolo de avaliação de risco, Vanessa deveria ter sido acompanhada pela Patrulha Maria da Penha ao retornar para sua casa, onde estava o agressor. A equipe do Ministério das Mulheres chegou a Campo Grande na noite de 15 de fevereiro para apurar as circunstâncias do atendimento prestado à vítima.

Vanessa havia fugido de um cárcere privado imposto por Caio Nascimento, indo até a Deam para denunciar o ex-companheiro. O agressor foi preso em flagrante pela Brigada Militar, mas horas depois cometeu o feminicídio.