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Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2024 às 10:26
A formatura do curso de Serviço Social nesta quinta-feira (4) teve um significado especial para a formanda Cynthia Luiza Ribeiro do Amaral e também para a história da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ela foi a primeira pessoa a colar grau na instituição com uma beca branca por causa de sua formação espiritual no candomblé. >
Cynthia subiu ao palco no Centro de Cultura da universidade aplaudida por seus familiares e amigos, que também utilizavam vestimentas brancas. >
Ela explicou à universidade que o processo de formação espiritual de Cynthia no candomblé começou no mesmo dia em que defendeu seu trabalho final da faculdade. >
Ela “entrou em preceito”, termo utilizado para definir uma fase no desenvolvimento espiritual dos candomblecistas que se preparam para receber o seu orixá. Durante este momento, ela precisa passar por uma série de ritos, entre eles está o uso diário das vestes brancas, além da cobertura dos cabelos durante um ano.>
Cynthia foi uma das escolhidas para proferir o discurso da turma durante a formatura. “Só a luta muda a vida”, disse em seu discurso.>
Pela primeira vez na história, a UFSC teve uma vestimenta com essas características, uma deliberação da Reitoria para que Cynthia pudesse se formar respeitando sua perspectiva de acessibilidade e garantia de direitos.>
O cumprimento da prerrogativa legal é considerado um divisor de águas para toda comunidade acadêmica, povos de axé e de todas as religiões, além de ser um gesto de combate ao racismo religioso e intolerância religiosa.>
Cynthia tem como seu orixá Oxumarê, cuja história é associada ao movimento e à transformação. Logo que percebeu que a formatura seria celebrada durante o seu período de preparação, começou a pensar no que poderia ser feito, já que a celebração tradicional dos formandos, além de ser um direito, também era um desejo seu e dos seus familiares.>
“Eu me questionava sobre como iria me formar de roupa preta e como eu faria com o aparamento na cabeça”, conta.>
O que para muitos pode ser uma preocupação trivial, já que o traje composto de beca (roupa) e capelo (chapéu) fazem parte dos protocolos, para ela se transformou em uma questão a ser resolvida.>
“Eu não gostaria que num momento tão especial desses eu tivesse que abrir mão de alguma coisa que também é tão especial para mim”, sintetiza.>