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Carol Neves
Publicado em 25 de julho de 2025 às 10:14
O general da reserva Mario Fernandes admitiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que foi o autor do chamado plano “Punhal Verde e Amarelo”, documento que detalhava ações para o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. A confissão foi feita nesta quinta-feira (24), durante interrogatório na Corte.>
O general iniciou a carreira militar em 1983, pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Em 2016, foi promovido a general de brigada e, entre 2018 e 2020, comandou as Forças Especiais do Exército, conhecidas como “kids pretos”. Foi para a reserva em 2020, ano em que assumiu a secretaria-executiva da Secretaria-Geral da Presidência, sob o governo Bolsonaro. Também chefiou a pasta de forma interina e participou de reuniões no Planalto que discutiam estratégias golpistas.>
Ligado ao núcleo militar mais ativo do bolsonarismo, Fernandes também atuou como assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde. Para a PF, ele é um dos integrantes mais radicais da tentativa de golpe investigada pela Justiça e teria atuado nos bastidores dos acampamentos golpistas após a derrota eleitoral de Bolsonaro.>
O plano>
Segundo Fernandes, o texto seria apenas um “pensamento” pessoal, um “estudo de situação” que resolveu digitalizar por hábito. “Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilar de dados, um estudo de situação meu, uma análise de riscos que eu fiz e por costume próprio resolvi digitalizar. Não foi apresentado a ninguém e nem compartilhado com ninguém”, afirmou. Ele também disse ter impresso o plano, mas garantiu que o destruiu logo em seguida.>
O documento foi encontrado pela Polícia Federal durante operação que resultou na prisão de Fernandes em novembro de 2024. De acordo com os investigadores, o plano previa a morte das autoridades por envenenamento e incluía ainda a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, que deveria ser ativado no dia seguinte à execução dos assassinatos. O arsenal listado no documento incluía armas pesadas, como fuzis, metralhadoras e até lança-granada.>
A PF identificou que três cópias do plano foram impressas por Fernandes dentro do Palácio do Planalto, em dezembro de 2022. Cerca de 40 minutos depois, o general teria se dirigido ao Palácio da Alvorada, onde estavam o então presidente Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid. Fernandes disse não se lembrar de ter feito mais de uma cópia e atribuiu a repetição a uma “configuração da impressora”. Sobre a impressão em outra data, alegou que havia feito alterações após uma nova ideia.>
De acordo com a Polícia Federal, Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” do plano. A delação de Mauro Cid reforça essa linha de investigação, apontando Fernandes como um dos generais que mais pressionavam por uma reação das Forças Armadas para impedir a posse de Lula.>