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Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 09:11
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) emitiram uma nota conjunta, nesta terça-feira (4), alertando para os riscos do uso de versões manipuladas ou alternativas das canetas injetáveis Ozempic e Mounjaro. A preocupação das entidades é que essas versões, que contêm substâncias como semaglutida e tizerpartida, não passam pelos processos rigorosos necessários para garantir a segurança e a eficácia dos medicamentos.
A nota destaca que as versões alternativas ou manipuladas podem não atender aos padrões de esterilidade e estabilidade exigidos. "O uso dessas versões tem se tornado uma prática crescente, preocupante e perigosa", afirmam, ressaltando a falta de testes científicos e regulatórios que comprovem a eficácia, segurança e pureza dos produtos. Isso pode colocar a saúde dos usuários em risco, já que esses medicamentos não passam pelos testes de bioequivalência necessários.
Relatos de problemas em versões manipuladas documentados pela FDA (Food and Drug Administration), entidade dos EUA equivalente à Anvisa, mostram que, além de doses incorretas, podem ocorrer contaminações e substituições de substâncias, aumentando os riscos. "Versões vendidas por sites, redes sociais ou WhatsApp aumentam o risco de adulteração, contaminação e ineficácia por desestabilização térmica", afirmam as entidades.
Clayton Dornelles, diretor da SBEM, explicou para O Globo que o uso de dosagens irregulares dos análogos do GLP-1 e GIP pode gerar efeitos colaterais gastrointestinais, como diarreia e refluxo. Ele também alerta para o risco de contaminação: "As canetas injetáveis precisam ser estéreis, sem contaminantes. Já encontramos casos de semaglutida ilegalmente misturada com insulina, o que pode levar à hipoglicemia grave."
No Brasil, a Anvisa permite a manipulação de medicamentos apenas com uma receita médica personalizada para cada paciente, o que significa que a medicação manipulada é destinada a casos específicos. Porém, versões não regulamentadas estão sendo vendidas on-line sem a devida supervisão. Essas práticas violam a resolução RDC 96/2008 da Anvisa, que regula a propaganda de medicamentos.
Dornelles alerta ainda para o envolvimento de alguns médicos nesse mercado ilegal, especialmente diante da grande procura por medicamentos que prometem combater a obesidade. "Há uma busca por 'fórmulas mágicas', mas a obesidade é uma condição crônica e não se resolve apenas com a utilização de uma caneta injetável", afirmou, reforçando a importância de um tratamento mais abrangente e sério para a doença.