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Larissa Almeida
Publicado em 28 de junho de 2025 às 08:00
Tomar um café e logo em seguida tirar um cochilo pode parecer contraditório, mas essa combinação tem ganhado popularidade após viralizar nas redes sociais, especialmente no TikTok. A ideia é simples: beber uma xícara de café e dormir por cerca de 20 minutos, tempo suficiente para que o corpo descanse antes da cafeína começar a fazer efeito. Mas, afinal, essa técnica funciona mesmo? >
De acordo com Júlia Mascarenhas, nutricionista da Nutrition’all, o mecanismo pode realmente funcionar, mas não é infalível, uma vez que depende da genética e do consumo da cafeína que, a depender da quantidade, pode afetar a resposta. >
“A cafeína, ao entrar no organismo começa a ser absorvida entre 20 e 30 minutos. Durante esse intervalo, algumas pessoas conseguem pegar no sono, especialmente se já estiverem cansadas. Já outras pessoas, que sentem um efeito imediato e sensibilidade a cafeína, podem ter certa dificuldade de relaxar e adormecer”, afirma a especialista. >
Nos casos em que o café com soneca causa o efeito desejado, uma substância chamada adenosina, que se acumula no cérebro e provoca a sensação de cansaço, caem durante o cochilo. Quando a cafeína começa a agir, os receptores já estão parcialmente livres, o que potencializa o estado de alerta. >
Esse efeito acontece porque a cafeína não elimina a adenosina, mas se liga aos mesmos receptores, bloqueando o efeito sedativo deles. A explicação para o aumento da disposição após a técnica está justamente nessa ação combinada de descanso leve com bloqueio da fadiga. >
Apesar dos benefícios, o método não é indicado para todas as pessoas. Quem tem insônia, ansiedade, hipertensão descontrolada, refluxo ou maior sensibilidade à cafeína pode apresentar reações adversas, como agitação, taquicardia e dificuldades para dormir. >
“Vale lembrar que mesmo que a pessoa consiga dormir após ter tomado café, alguns estudos mostram que a arquitetura do sono pode ser prejudicada, atrapalhando passar por todas as fases e ter um sono revigorante de fato”, alerta Júlia Mascarenhas. >
A cafeína interfere no equilíbrio hormonal, retardando a liberação da melatonina – o hormônio responsável por induzir o sono – e alterando os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Isso pode comprometer a recuperação do corpo e a qualidade do sono noturno. >
Em pessoas com distúrbios hormonais, como hipotireoidismo ou síndrome de Cushing, o café pode ainda mascarar sintomas e causar fadiga depois do pico de energia. Além disso, o consumo da bebida em jejum pode desencadear hipoglicemia reativa em algumas pessoas – uma queda rápida no açúcar no sangue que provoca irritabilidade, dor de cabeça e mais cansaço ao longo do dia. >
Para quem não tem restrições e quer testar a técnica, o recomendado é ingerir cerca de 100 mg de cafeína, que é a quantidade presente em uma xícara de café coado ou um expresso, e se deitar imediatamente por até 20 minutos. Exceder essa dose pode gerar efeitos colaterais, especialmente em pessoas sensíveis. O limite diário seguro para adultos, segundo órgãos reguladores internacionais, é de até 400 mg de cafeína, o que equivale a aproximadamente quatro xícaras de café, dependendo do preparo. >
O melhor horário para aplicar a técnica é pela manhã ou logo após o almoço, momentos em que o corpo tende a apresentar uma queda natural de energia. À noite, o uso da cafeína pode desregular o ciclo do sono e comprometer o descanso, já que sua meia-vida – o tempo que leva para metade da substância ser eliminada do corpo – pode variar entre quatro e nove horas, a depender de fatores como genética e saúde do fígado. >