Testemunha que flagrou PMs simulando confronto está sendo ameaçada, diz morador

Pessoa que fez o vídeo está confinada em casa e assustada

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  • Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2015 às 12:25

- Atualizado há um ano

A testemunha que flagrou policiais militares forjando a cena de um confronto no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, nesta semana, estaria sendo ameaçada. A informação foi denunciada por moradores da localidade ao jornal O Globo. Na manhã da última terça-feira (29), quatro PMs foram flagrados em um vídeo onde tentavam forjar um confronto com o adolescente Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos.

Durante a perícia da Polícia Civil, na noite do mesmo dia, alguns PMs que acompanhavam o trabalho teriam ameaçado a testemunha. “A PM acompanhou o trabalho, onde foi identificada a casa de onde foram feitas as imagens. Houve intimidação com os policiais deixando claro que já estavam cientes da autoria do vídeo. Ela (a testemunha) está confinada em casa, muito assustada, sem saber o que fazer. Está com medo tanto de sair quanto de ficar na comunidade”, revelou um morador ao Globo.PMs observam corpo de adolescente morto na Providência na terça(Foto: Reprodução/YouTube)EnterroO sepultamento de Eduardo aconteceu na tarde desta quarta-feira (30), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, em clima de revolta e indignação. Amigos e parentes da vítima hostilizaram policiais que faziam policiamento na comunidade, chamando de “assassinos”.

Para Fabrício Santos, ex-presidente da Associação de Moradores do Morro da Providência, a repressão policial, sem a implantação de projetos sociais na favela, só vai aumentar o número de mortes de jovens recrutados pelo tráfico.

“Esse caso só terá uma punição porque um morador teve coragem de filmar. Se não fosse isso, seria mais um típico auto de resistência, maquiado por essa polícia corrupta. E daí que ele vendia drogas? Não existe pena de morte no país. Ele foi executado”, comentou Fabrício ao Globo. Ele defende que independentemente de o jovem ter envolvimento com o tráfico de drogas, não poderia ter sido morto.

Oito ônibus foram apedrejados na quarta-feira de manhã, durante um protesto contra a morte do adolescente. Com a chegada dos policiais, os protestos cessaram e os ônibus foram encaminhados para as garagens das empresas, que informou que os coletivos foram encaminhados para o setor de manutenção. A morte de Eduardo, também foi motivo de protestos no entorno da comunidade, na noite de terça-feira. O comércio chegou a fechar próximo à Central do Brasil.IndignaçãoO envolvimento de Eduardo Felipe com o tráfico é admitido por amigos e parentes, mas de acordo com a Vara da Infância e da Juventude, o adolescente só teria cumprido uma medida socioeducativa e estava em liberdade assistida por uso de drogas.

“Não há programas sociais na Providência, só a repressão policial. Sou moradora, e queremos reformas nas UPPs. Precisamos recuperar os jovens que estamos perdendo para o tráfico, não assassiná-los”, disse a corretora de planos de saúde Railda França ao Globo, durante o enterro.

“Só tenho uma palavra para falar como me sinto: um lixo”, afirmou a mãe do garoto, Patricia Santos, após ver o vídeo dos PMs forjando a cena do crime. O tio de Eduardo, o advogado Leonardo Victor, divulgou no início da noite de quarta-feira, uma nota da família.

“Independentemente da situação na qual ele se encontrava, a Polícia Militar não tinha o direito de fazer o que fez. A corporação existe para proteger e preservar a vida, não acabar com ela”, afirmava o texto. Na nota a família ainda expressa o desejo de que os responsáveis sejam punidos. “Nenhum pai e nenhuma mãe deveriam ter que enterrar seus filhos, ainda mais em uma situação como essa”, finaliza a nota.*Colaborou Jasmin Chalegre, integrante da 9ª turma do CORREIO de Futuro