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Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2012 às 07:17
Procurava uma raquete elétrica contra muriçocas no corredor de camelôs da Estação da Lapa, quando conheci o rubro-negro mais pé atrás do Centro da cidade: João Sismado dos Santos, 68 anos, é vendedor de pilhas e extensões de tomadas. Na verdade, Seu Sismado é receoso com quase tudo na vida. “Como vai o senhor? Tudo bem?”. “Mais ou menos. Mais para menos do que para mais”, costuma responder.Em se tratando de Vitória, João Sismado coloca os dois pés atrás. Hesita quando fala do próximo jogo. “Vamos ver, né?”, diz cabisbaixo. Raramente veste a camisa do clube que escolheu para amar, ou, como acredita, sofrer. “Sou do tempo que o Vitória não ganhava nada. Quem não era Bahia nessa cidade era ‘sofredor’”, recorda. Por alguns minutos, no sábado, João abandonou seu lado cismado com ‘C’. Ligou todo empolgado para Altivo, ou José Altivo da Silva, 31 anos, colega rubro-negro e vendedor de antenas na mesma Lapa. Do avô herdou o nome, a confiança e a paixão clubística. Apesar da diferença de idade, e de humor, Altivo e Sismado viraram amigos. “Tá com o rádio ligado? O Vitória tá dando 3x0 e não tem nem 20 minutos de jogo”. “O quê?”, perguntou Altivo. “É isso mesmo. Somos líderes”. Pela primeira vez, Altivo teve medo. Quando João Sismado está otimista, alguma coisa ruim vai acontecer. Dito e certo. João tornou-se um ser humano ainda mais cismado após a partida. Seu Vitória o decepcionou de novo. Que Vitória é esse, meu Deus? Que Vitória é esse que leva uma virada de 4x3 após estar vencendo por 3x0? “É o Vitória de sempre”, responde, cheio de convicção, João Sismado. Acredita que o problema não tem jeito. É institucional e histórico. Altivo pede desculpas ao amigo Sismado, mas diz não acreditar nisso. Cresceu assistindo às glórias da história recente do Leão. Recusa-se a aceitar o Vitória que morre na praia, que entrega o resultado de bandeja. Para ele, eventos isolados ao longo dos anos criaram esse estigma, uma espécie de síndrome de Raudinei. “Tentam colocar isso nas nossas cabeças. E não é chifre”. O torcedor rubro-negro, defende Altivo, tem que deixar de acreditar nessa sina de sofredor, nesse Vitória que não segura resultado, no “Vitorinha” de décadas atrás (se é que ele existiu um dia) e que tentam empurrar nos nossos peitos. Desse jeito, insiste o sábio vendedor de antenas, nunca vamos conseguir convencer a diretoria e os jogadores de que esse clube é grande. “E o técnico vai continuar tirando o artilheiro para colocar um zagueiro, como fez contra o próprio Goiás”, observa.No meio da discussão, esqueci a raquete e concordei com Altivo. Quando se trata de Vitória, tenho os dois pés e a cabeça na frente. E ainda aconselhei seu Sismado. “Deixa de ser pé atrás. Ainda estamos no G-4. Vamos focar no Avaí”. E você, leitor rubro-negro: que tipo de torcedor você é? Altivo ou Sismado? >