A IA e o futuro do emprego

A IA é apenas uma ferramenta e como tal não tem capacidade de ameaçar nada e ninguém

Publicado em 6 de maio de 2024 às 05:00

Tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo. A famosa frase de Heráclito de Éfeso está adequada ao debate sobre a suposta ameaça da Inteligência Artificial (IA) ao futuro do emprego e das profissões. A IA é uma poderosa ferramenta, surgiu após vários aprimoramentos da capacidade de processamento de dados e da execução de sofisticados algoritmos. Com isso, ela pode juntar informações e realizar operações lógicas com rapidez e precisão.

Esse novo instrumento deve mudar a forma como algumas profissões são exercidas atualmente, aumentando a produtividade geral da economia (condição necessária para o crescimento). Se o problema for colocado sob a forma de ameaça, está equivocado. Talvez seja uma jogada de marketing ou um erro conceitual. A IA é apenas uma ferramenta e como tal não tem capacidade de ameaçar nada e ninguém. Uma máquina ou um programa não pode agir de forma espontânea porque não tem consciência de sua existência. Saber é saber que se sabe.

Também é preciso desmistificar o anunciado desemprego em massa. Ao longo da história algumas ocupações perderam sua razão de existir, como o profissional que acendia e apagava lampiões nas ruas da Europa do século XIX. Há inúmeros casos recentes de profissões extintas ou em quase extinção: telefonista, datilógrafo, ascensorista, carteiros tradicionais etc. Diferente da crise de 1929, que foi provocada por máquinas e processos de produção revolucionários, hoje existem mecanismos capazes de controlar a demanda e a oferta, evitando que grandes aumentos de produtividade provoquem choques no curto prazo.

Um exemplo recente desse fato está nas mudanças que os programas de informática, sites de buscas e de vendas online trouxeram nos anos 2000. Pensava-se à época que haveria desemprego em larga escala. Passados mais de 20 anos, ocorreu o contrário. Hoje os Estados Unidos estão praticamente em pleno emprego: em fevereiro de 2023 a taxa de desemprego caiu para 3,4%, menor taxa em mais de meio século. Dados recentes de março de 2024 trazem uma taxa de desemprego ainda muito baixa, 3,8%. O mesmo acontece na Europa: em agosto de 2023, a taxa de desemprego na zona do Euro atingiu o nível mais baixo desde que há registro (6,4%). Em fevereiro de 2024, o índice de desemprego permaneceu estável em 6,5%.

A Inteligência Artificial ampliou a dinâmica do mercado de trabalho. Os impactos dessa nova ferramenta sobre o futuro do emprego são uma questão de referência e se a referência é o amanhã, os empregos tradicionais continuarão existindo. Se essa escala aumentar, para, por exemplo, a próxima década, muitos perderão sua importância. Mas o certo é que no tempo nada permanecerá o mesmo.

Carlos Danilo Peres Almeida é economista da Fieb