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Caso Silvo Almeida escancara o patriarcado de esquerda

Lula, que se diz defensor das minorias, só tomou uma atitude quando o caso ganhou as manchetes

Publicado em 26 de setembro de 2024 às 05:00

Uma coisa me incomodou bastante na cobertura do caso Silvio Almeida: a letargia dos jornalistas e comentaristas ao falar de um possível crime cometido contra várias mulheres, sendo uma delas negra. A esquerda ficou tão nocauteada com a possibilidade de um dos seus queridinhos ser um criminoso contumaz que esqueceu das vítimas envolvidas, que neste momento estão tendo que administrar não só a dor do assédio, mas também as ameaças e julgamentos por estarem apenas buscando justiça.

É lamentável ouvir profissionais da imprensa noticiando os desdobramentos do caso em tom pesaroso, com uma certa má vontade e, pasmem, falando com todas as letras que desejam que tudo seja esclarecido e que Silvio Almeida possa reconstruir sua imagem; ou que ele não pode ter o seu trabalho até aqui desconsiderado por ter cometido essa falha que (vejam só!) é humana. Vamos ser sinceros? É muito difícil que tudo isso seja mentira. Várias vítimas já apareceram, o caso vem tomando corpo e consistência. A quem interessa relativizar esse fato?

É espantoso que a notícia seja dada como um triste incidente que arranhou a carreira brilhante de um homem brilhante, e não como mais um terrível caso de assédio, desta vez envolvendo uma ministra de estado e mostrando que, por mais poderosas que sejamos, para os homens não passamos de objetos.

Estou profundamente envergonhada dessa imprensa e, infelizmente, tenho que concordar com as críticas dos opositores políticos: se o acusado fosse um homem branco de direita, o tom seria outro.

Além da incapacidade da imprensa de ao menos fingir neutralidade nesse caso, duas outras coisas me deixaram desesperançosa: uma foi a quantidade de mulheres negras se posicionando de forma a “passar pano” pro assediador, afinal, “a raça vem antes”. Mas e a mulher negra que está sendo vítima? Ela não é da raça?

Homem não entra em disputa com outros homens para defender mulher nenhuma, a nossa história está repleta de fatos que provam isso. E a gente fica com esse discurso domesticado de defender homens negros errados por serem da mesma raça? Precisamos parar de tentar amenizar o crime só porque quem o cometeu foi um homem negro. Será que em algum momento, antes de assediar a ministra, ele pensou que “a raça vem antes”? Que consideração ele teve com a raça?

A outra coisa foi a omissão do governo Lula, que se diz defensor das minorias mas só tomou uma atitude quando o caso ganhou as manchetes. Está provado que esse problema era conhecido há meses. Mas tentaram conter uma crise às custas de quem? De uma mulher. Negra.

O caso Silvio Almeida é mais uma prova de que o patriarcado é de direita e é de esquerda. Se as mulheres não se defenderem, NINGUÉM o fará. Nem o cara brilhante dos direitos humanos.

Isabela Garrido é jornalista