Felicidade na escola?

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Publicado em 20 de março de 2024 às 10:11

O desejo de ser feliz é uma equação presente no cotidiano dos seres humanos. A busca pelo bem-estar passa por diferentes modos de vida, por arranjos inéditos de trabalho, por relações com direcionamentos impensados, pelo consumo exacerbado e tantas outras tentativas.

A necessidade de rever o sentido da vida povoou muitas mentes prodigiosas imbuídas da tarefa de reinterpretar o sentido da existência em várias dimensões. Surge, então, o Dr. Martin E. P. Seligman, da Universidade da Pensilvânia que se debruçou sobre o objeto da psicologia, retirando-o do lugar exclusivo de tratamento do sofrimento humano, para outro enquadramento simultâneo, o de abordar questões da realização pessoal, da esperança, da alegria e da felicidade. Nascia a psicologia positiva e os conceitos de positividade e florescimento, para explicitar estados, percepções e desenvolvimento humano.

Seligman arquitetou a base teórica e conceitual para inscrever a felicidade no repertório científico, publicando suas ideias em 2002, no livro “Felicidade Autêntica”, título com o qual discordava, temeroso em vulgarizar o tema . Além de apresentar os conceitos de florescimento e positividade, o autor pontuou que felicidade não significa adesão ao hedonismo e nem ao descompromisso com aquilo que incomoda. Essa explicitação consolidou a coerência da teia conceitual com valores esperados no processo da formação humana, permitindo inscrever a “felicidade” no universo educacional, pois ser feliz na escola ou fora dela não exime as pessoas de responsabilidades. Registre-se que vários educadores já se preocuparam com a felicidade, embora sem a verbalização do termo. Montessori, por exemplo, propunha o autoconhecimento, a atenção integrada, a autonomia, exercícios de reflexão e relaxamento para o bem-estar em sala de aula.

Estou convicta de que a aplicação do ideário da Psicologia Positiva traz benefícios para os estudantes, especialmente depois dos impactos causados pela pandemia. Não se pode aprender sem sentir, pois há conhecimento no sentir. Se separarmos as duas dimensões, conferindo à aprendizagem apenas à aquisição do saber, admitiremos que a aprendizagem está exclusivamente no domínio cognitivo, reducionismo que extrai o afetivo do ato de aprender e do desenvolvimento integrado de competências socioemocionais.

Tenho clareza de que traduzir os princípios da psicologia positiva nas práticas da escola requer alto investimento na formação de educadores, apela para um considerável esforço no alinhamento transversal de conteúdo, além de exigir esmerada gestão do currículo para não alienar o propósito e a missão da escola. Apesar disso, estou disposta a enfrentar o desafio de implantar a “felicidade” no meu trabalho como educadora e na vida de meus alunos.