Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 5 de novembro de 2025 às 22:31
No último mês de julho, aos 91 anos e já com problemas de saúde, Manoel Canário assim mesmo fez questão de votar nas eleições do Sindicato dos Jornalistas da Bahia. “Uma vez jornalista, sempre jornalista”, pontuava Canário, uma das vozes mais marcantes do rádio na Bahia e que ontem (5.11) se despediu de nós, dos microfones, das teclas, da vida.>
Comigo, além da amizade que ultrapassava épocas, embora com os mesmíssimos valores geracionais de ética e de paixão pelo jornalismo, éramos de Sagitário, de 27 de novembro: ele de 1933; eu, de 1962.>
Canário certamente era um dos últimos grandes remanescentes da “época de ouro” do rádio baiano – que começa em 24 de março de 1924 com as transmissões experimentais da Rádio Sociedade, a terceira emissora radiofônica do Brasil. Ele começou na terra natal dele, nos microfones da Rádio Sociedade Cultural, em Senhor do Bomfim, no centro-norte baiano. Fundada nos anos 1940, a “Cultural” era um serviço de alto-falantes criado por Caio Félix Martins, Adauto Silva e Cleômenes Caribé (Quequéu).>
“Foi grande e caloroso o acolhimento que recebi, em 1953, quando cheguei de Senhor do Bonfim, onde havia começado, três anos antes, a carreira de locutor, no serviço de alto-falantes. E havia grande camaradagem entre nós, jornalistas e radialistas, a exemplo de camaradas como Ivan Pedro, na Rádio Sociedade, a PRA-4, estabelecida na Rua Carlos Gomes; e Carlos Libório, que fazia dupla jornada na editoria de Esportes do Jornal da Bahia, na Barroquinha, e na TV Itapoan, na Federação”, rememorou Canário no aniversário de 80 anos de Libório.>
Durante dois anos, na década de 1960, apresentou o “Telejornal da Pirelli”, que ia ao ar às 19h, na TV Itapoan, emissora dos Diários Associados, a primeira da Bahia, inaugurada em 19 de novembro de 1960. Libório — que havia chegado na emissora em 1961 — era o redator – chefiados pelo jornalista Chico Aguiar.>
Manoel Canário se notabilizou como voz marcante do Repórter Esso na Bahia, passando por diversas emissoras da capital. Foi diretor do SINJORBA e da Associação Baiana de Imprensa (ABI), além de presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e de Publicidade – SINTERP, quando liderou a primeira greve de radialistas do país, paralisando todas as rádios baianas por 72 horas. Integrou o cerimonial do Governo do Estado, nas gestões de Roberto Santos e ACM. Trabalhou também no BNH (depois incorporado pela Caixa Ecônomica).>
Durante a ditadura Militar, notadamente a partir do AI-5, em 1968, driblava constantemente a Censura Federal divulgando notícias antes mesmo que os censores e a tesoura deles chegassem à Redação. Com seu rascante e irônico bom humor, fazia um trocadilho com o sobrenome, dizendo, no ar: "Meu nome é Canário; foi um passarinho que me contou".>
“Fazer rádio é viver intensamente o que a vida nos proporciona", declarou Canário ao receber, em março de 2012, homenagem prestada pelo Governo da Bahia, na gestão do governador Jaques Wagner, pelos 50 anos de profissão.>
.............................>
Nestor Mendes Jr., jornalista, é autor de “Bahêa, Minha Paixão – Primeiro Campeão do Brasil”>