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O dia em que Einstein comeu vatapá com pimenta

Leia o artigo na íntegra

Publicado em 19 de maio de 2025 às 16:00

Extra, extra!

Einstein comeu, hontem, vatapá com pimenta.

Esta foi a manchete d’O Jornal, periódico carioca no dia 12 de maio de 1925, uma terça-feira, a página 2, e se referia à passagem do físico alemão e prêmio Nobel em Física de 1921 Albert Einstein em terras brasileiras, mais precisamente no Rio.

Foi uma estadia curtinha, voltando da Argentina, onde proferiu algumas palestras, retornando na embarcação Valdivia. Sua fama tinha atingido o ápice em 1916, ao prever pela teoria da relatividade geral que, durante um eclipse solar, registrado em 1919 na cidade de Sobral, Ceará, a luz se curvaria perante um observador, mostrando por alguns instantes que as estrelas próximas do sol eclipsado efetivamente mudavam de posição no céu. Ele chegou a escrever: “Die Frage, die meinen Kopf entsprang, hat Brasilien sonniger Himmel beantwortet” (“a questão que minha mente formulou foi respondida pelo radiante céu do Brasil”), em carta ao jornalista, advogado, empresário e político brasileiro Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello.

No subtítulo da manchete, o periódico ainda informou que o domingo havia sido “consagrado a um passeio à Tijuca, e hontem o grande mathematico foi visitar o Hospício”.

Havia uma razão de ser do grande cientista solicitar tal visita, pois seu segundo filho, Eduard Einstein, fruto do casamento com a física e matemática sérvia Mileva Maric, sofria de esquizofrenia, além de ter uma saúde frágil. Eduard estudou medicina em Zurique, Suíça, mas não conseguiu concluir os estudos de psiquiatria, uma paixão cultivada pelo seu interesse nos trabalhos do médico neurologista austríaco Sigismund Schlomo Freud, fundador da psicanálise. Um outro filho do casal, Hans Albert Einstein, se formou em engenharia civil e virou professor de brilhante carreira nos Estados Unidos por méritos próprios.

Há um mistério envolvendo uma possível primogênita, de prenome Lieserl, bem no início do relacionamento, muito conturbado, dos Einsteins. A única fonte de registro desta criança está nas cartas trocadas pelo casal, que foi separado por um tempo pela família da futura esposa.

Einstein teve, na sua visita ao Hospital Nacional de Alienados, a companhia do médico brasileiro Juliano Moreira, um dos pioneiros da prática da psiquiatra e da psicanálise no país. Homem negro, de família humilde, entrou na Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB) aos quatorze anos por meio de seu padrinho, o também médico e professor Adriano Alves de Lima Gordilho, Barão de Itapoan. A mãe de Juliano, Galdina Joaquina do Amaral trabalhava na casa de Gordilho. Moreira virou professor da FAMEB aos 23 anos.

Durante o seu trabalho no hospital carioca, iniciado em 1903 e finalizado em 1930, Moreira humanizou o tratamento e acabou com o aprisionamento de pacientes, abolindo camisas de força e inaugurando um modelo assistencialista com terapias diversas, como a música e demais artes, algo que encantou Einstein.

Fluente em alemão, Moreira casou-se com a enfermeira alemã Augusta Peick, que depois adotou o sobrenome do marido.

Para quem tem curiosidade, sim, Einstein gostou muito do vatapá baiano, servido com pimenta a gosto no almoço. Não poderia ter sido diferente, pois foi oferecido seguindo o melhor da tradição culinária, como já ensinava o mestre Dorival Caymmi no célebre samba-receita: “Quem quiser vatapá, ô! Que procure fazer”...

Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química da UFBA e pesquisador do Senai Cimatec