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Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 05:00
A discussão sobre o fim da obrigatoriedade das aulas em autoescolas para quem deseja obter a CNH reacende uma pergunta fundamental: o que realmente nos habilita a dirigir? O documento em si ou a consciência do que ele representa? >
A proposta do governo federal, que pode reduzir em até 80% o custo da habilitação, tem sido tratada apenas sob a ótica econômica. Mas seu alcance é maior. Trata-se de uma oportunidade de transformar o trânsito em um ambiente de cidadania, onde liberdade e responsabilidade caminham juntas.>
Durante décadas, conquistar a carteira foi um marco simbólico. Representava independência, maturidade e confiança. Com o tempo, porém, o trânsito se tornou um espaço marcado pela pressa, distração e escolhas impensadas. Talvez este seja o momento de recuperar seu sentido original: a convivência entre pessoas que compartilham o mesmo caminho.>
Ao permitir que cada cidadão escolha como se preparar para os exames, o novo modelo devolve autonomia. Mas autonomia exige consciência. Dirigir sempre será um pacto com a vida: a própria e a dos outros. Liberdade sem responsabilidade não é evolução; é risco travestido de direito.>
Por isso, não se trata simplesmente de facilitar o processo, mas de torná-lo mais inteligente, acessível e conectado com a realidade contemporânea. A tecnologia já nos oferece meios seguros e eficazes para ampliar o aprendizado: plataformas digitais, conteúdos interativos e instrutores credenciados podem democratizar o acesso, desde que o foco permaneça na segurança e na formação de condutores atentos, empáticos e preparados.>
O Brasil ainda convive com estatísticas dolorosas no trânsito. Milhares de vidas são perdidas em acidentes evitáveis todos os anos. E por trás de cada número há uma família, uma história interrompida, um sonho que não chega ao destino. Qualquer mudança legislativa precisa estar acompanhada de educação de qualidade, fiscalização eficiente e uma cultura de respeito que seja, de fato, coletiva.>
Dirigir nunca foi apenas um ato técnico. É uma relação social. Cada curva, cada frenagem, cada ultrapassagem envolve escolhas que exigem presença, percepção e responsabilidade. O asfalto é compartilhado por pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas, todos com o mesmo direito de ir e vir.>
Talvez esta seja a chance de ressignificar a CNH. Que ela continue sendo um símbolo de liberdade, mas também um lembrete de prudência. O futuro da mobilidade não depende apenas de veículos elétricos, motos conectadas ou estradas inteligentes. Depende, antes de tudo, de condutores conscientes.>
A verdadeira evolução acontece quando entendemos que o volante e o guidão não são instrumentos de poder, mas de cuidado. Conquistar o direito de dirigir é assumir a missão de fazer do trânsito um espaço mais humano, seguro e responsável para todos.>
Fabricio Morini é presidente da Moto Morini Brasil>