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Carmen Vasconcelos
Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 17:44
Enquanto o familiar burnout continua a pautar debates sobre saúde mental no trabalho, um novo fenômeno começa a ganhar destaque — e preocupação: o rust-out. Ao contrário do burnout, causado pelo excesso de demanda, o rust-out aparece quando falta estímulo, propósito ou desafio nas atividades profissionais. >
O termo pode descrever o estado de profissionais que — mesmo sem sobrecarga— passam a cumprir apenas o mínimo, mantêm aparência de “tudo funcionando”, mas já não evoluem ou se envolvem de fato. >
Rust-out não é preguiça; é potência sem direção”, escreve o consultor de inovação Eduardo Freire. Em seu artigo, ele alerta que “times ‘tranquilos’ demais geralmente estão desconectados” — e que excesso de padronização, muitas vezes visto como sinônimo de eficiência, pode anestesiar o julgamento crítico e sufocar a inovação. >
Segundo levantamento recente da Deloitte — no relatório Global Human Capital Trends 2024 — mais de 70% das empresas admitem que processos excessivamente padronizados sufocam inovação e adaptabilidade. >
Os sinais de alerta:
De acordo com especialistas, o rust-out costuma passar despercebido porque não gera afastamentos ou crises evidentes como o burnout. Em vez disso, corrói aos poucos o engajamento profissional, reduz motivação e aumenta a rotatividade. >
Por que o rust-out pode ser tão perigoso quanto o burnout?>
A perda de propósito no trabalho não afeta apenas o colaborador — prejudica também empresas. A apatia generalizada mina a capacidade de inovação, comprometendo competitividade, adaptação e crescimento. Além disso, colaboradores desengajados tendem a procurar outras oportunidades ou simplesmente cumprir “o mínimo necessário”, o que se reflete em queda de produtividade e aumento do turnover.>
Como reverter a “ferrugem silenciosa” >
Segundo Freire, não existe “receita mágica”, mas mudanças práticas podem reverter o quadro. Entre as estratégias recomendadas estão: revisão de regras rígidas, criação de times menores com autonomia, redistribuição de papéis, promoção de projetos com significado, e abertura a experimentação — com foco em impacto e dados reais. >
Especialistas em recursos humanos também apontam a importância de dar voz aos colaboradores, identificar sinais de apatia e oferecer novos desafios ou planos de carreira. “Para o rust-out, a ênfase é oferecer novos estímulos, oportunidades de desenvolvimento e fortalecer o senso de propósito”, afirma a psicóloga Cecília Araújo.>
É preciso lembrar que nem sempre o problema está apenas no trabalhador — muitas vezes, o ambiente corporativo rigidamente padronizado e sem espaço para criatividade favorece a estagnação. Portal Contabeis+1 >
Rust-out: um alerta para RH e gestão >
O rust-out revela que exaustão não é a única via para adoecimento no trabalho. A apatia, o tédio e a subutilização de talento também corroem — silenciosamente — valores, potencial e saúde mental. Especialistas alertam: sem questionar a cultura corporativa e repensar processos, empresas correm o risco de transformar equipes vivas e criativas em times anestesiados. Reconhecer o problema é o primeiro passo. O próximo — e mais importante — é agir: dar sentido ao trabalho, abrir espaço para inovação, reconhecer pessoas e talento, e resgatar o compromisso humano por trás de resultados. >