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Publicado em 15 de julho de 2024 às 05:00
Se verdadeiramente queremos ter o turismo como um dos principais vetores econômicos de Salvador, precisamos assumir a identidade e o posicionamento de uma cidade turística. Todas as grandes cidades do mundo, mesmo as que não são predominantemente turísticas, têm uma área eminentemente turística. Queiram ou não os negacionistas de plantão, em Salvador esta área é o Pelourinho – denominação genérica que aplicamos a todo o nosso vasto e diversificado Centro Histórico. >
Nesse caso, não se trata de esperar por ação pública. É preciso que as entidades empresariais do comércio e do turismo, assim como a Cúria – que conta com uma moderna e inovadora Pastoral do Turismo – reúnam os seus associados e adotem uma diretriz de mudar o funcionamento do Pelourinho: as atividades ligadas ao turismo precisam funcionar aos sábados e domingos; fechar às segundas ou terças-feiras. Simples assim.>
Esta é uma disfunção que não pode continuar. Atualmente, os museus do Centro Histórico fecham nos finais de semana; as igrejas fecham após as missas; os restaurantes, passado o verão, também fecham aos domingos. Até parece que, como em algumas cidades europeias, estamos com overdose de turistas e precisamos restringir a procura... >
Não há, entre nós, a percepção de que mudou a função urbana da região central da cidade. Talvez por inércia, as atividades do entorno do Pelourinho – da praça Castro Alves ao Santo Antônio, incluindo o comércio da rua do Saldanha, no entorno da praça da Sé – continua em regime de semana inglesa, funcionando de segunda a sexta e sábado até o meio do dia, como se não fosse uma zona turística.>
Houvessem mudado o seu regime de funcionamento e, muito provavelmente, a Ladeira da Praça e a Baixa dos Sapateiros já teriam se reciclado, ao invés de vivenciarem o cenário de decadência em que se encontram.>
Um contrassenso! Em todo o planeta, nas zonas turísticas, o comércio e os serviços funcionam integralmente nos finais de semana. É preciso, aqui, corrigir isto, e com urgência.>
Do mesmo modo, os museus e as igrejas precisam estar abertos ao público nos finais de semana, período em que a cidade está sendo visitada. O Museu da Misericórdia e a Catedral Basílica dão o bom exemplo.>
É importante compreender que o turismo é atividade econômica e, para a cidade e seus habitantes, precisa gerar emprego e renda. A visita ao patrimônio arquitetônico, cultural e religioso tem que ser paga. É assim em qualquer parte do mundo, onde os grupos de turistas, conduzidos por guias, formam filas, às vezes imensas, para ingressar em um daqueles monumentos. Aqui não se cobra, mas também não se deixa ver, porque estão fechados. Como efeito colateral, ficam dependendo de dinheiro público para conservação, manutenção e até para o simples funcionamento.>
Como o Centro Histórico, grosso modo, não funciona aos fins de semana, vem muito daí o fato de que a própria população local não o conheça, nem curta a região. Não sabe, por exemplo, que existem aí cerca de 1.200 vagas de estacionamento para carros, a maior parte delas com acesso pela Baixa dos Sapateiros. A propósito, porque não utilizar a rua do Pilar, no Comércio, como estacionamento público rotativo, à noite e nos finais de semana, para o Santo Antônio Além do Carmo, com acesso pelo plano inclinado? Em Salvador, os ascensores públicos são equipamento de mobilidade e atrativo turístico da cidade.>
O resultado da inércia é que, vis-à-vis cidades do mesmo porte ou do mesmo potencial, ainda não somos de fato um destino turístico importante no cenário global. Nosso turismo é basicamente estadual, vindo do interior do próprio estado. Tem alguma relevância o fluxo de origem nacional, e permanece inexpressivo o turismo de origem externa. Por isto que é preciso a Prefeitura e o Estado promoverem festa o ano inteiro para manter parcialmente ocupada a rede hoteleira. É este o projeto de turismo para Salvador?>