Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Residência terapêutica para idosos: uma possibilidade

Leia o artigo

Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 05:00

Artigo
Artigo Crédito: Arte CORREIO

O mundo está envelhecendo. O aumento da longevidade pode ser considerado uma das questões mais importantes do nosso tempo, e mesmo que o incremento da expectativa de vida seja visto como algo positivo, o fenômeno exige atenção: desde problemas como a sustentabilidade das previdências à manutenção da qualidade de vida dos idosos, o envelhecimento da população demanda novas soluções da sociedade.

O envelhecimento é um processo natural, sendo comum uma diminuição progressiva da funcionalidade dos indivíduos. No entanto, o surgimento de doenças ou de alguma fragilidade psíquica pode demandar um olhar mais atento para os idosos. Assim, em um contexto onde a produtividade é determinante do local em que o ocupamos na sociedade, o idoso passa a ocupar um não lugar. Ele passa a ser visto como um “encargo social”, uma situação de exclusão que lhe rouba a possibilidade de projeção ao futuro; o idoso deixar de lutar pelo seu bem-estar, afetando sua saúde e causando isolamento social abrupto, interrompendo seus vínculos e ocasionando doenças psíquicas.

Quando falamos de idosos com transtornos mentais, especialmente aqueles que passaram por internações de longa permanência, pode haver uma dupla exclusão: o fato de ser doente mental crônico e por estar vivenciando a senilidade, privados de um envelhecimento ativo e saudável. Além disso, muitas vezes as famílias não possuem a estrutura ou suporte necessário para cuidar desse idoso, trazendo impactos para as relações familiares. Nesse cenário, a alternativa de um cuidado extramuros (fora de um ambiente institucionalizado) é uma necessidade real e um dos maiores desafios no cuidado com os idosos.

Ao sair dos lugares tradicionais de tratamento, como clínica ou asilos, o modelo de residência terapêutica propõe uma alternativa de cuidado no campo da saúde mental. O conceito de moradia assistida, específico para pessoas com transtornos mentais crônicos, tem como proposta a atenção singular, respeitando a subjetividade de cada um. Uma RT tem o objetivo de proporcionar aos moradores uma maior autonomia no gerenciamento de suas vidas, aumentando a capacidade de escolha, de construir novas relações sociais e de pertencer ao território onde vive. A casa não é apenas um lugar onde eles recebem cuidados e realizam atividades, mas uma expressão de suas personalidades, onde passam a integrar memórias, imagens e desejos, comportando um conjunto de rotinas que extrapolam os muros da mesma.

Como disse o poeta francês Noël Arnaud: “Sou o espaço onde me encontro”. Cada morador vai definir sua própria vida dentro e fora da casa. Talvez, o maior desafio no trabalho em uma RT esteja na escuta e acompanhamento das singularidades, desconstruindo a anulação do indivíduo ocasionada pela cronificação da doença, pela desqualificação de sua fala e de seus desejos. É estar junto na tarefa de restabelecer as pontes entre mundo e os projetos de vida dessas pessoas, sempre pensando em uma longevidade funcional e participativa.

Daniele Bacellar é terapeuta ocupacional da Holiste Psiquiatria