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Cesar Romero
Publicado em 6 de agosto de 2018 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Todo grande artista, que tem a noção exata do seu trabalho, sonha com a perenidade. Em todas as áreas das artes. Podem não falar disso, por várias questões, suposta “modéstia”, ter a certeza que não logrará êxito, ser honesto consigo mesmo. Saber seus limites. Quem não pensa em deixar um legado na arte, não merece ser chamado de artista. O êxito é um instinto da alma. É estar em paz com os desafios. Preocuparam-se com isso, de forma visceral, uma quase agonia, Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti, Goya, Velásquez, passando por Renoir, Cézanne, Matisse, Picasso, De Chirico, Monet, Miró, Paul Klee, Duchamp, Rauschenberg, Joaquín Tores – Garcia, Joseph Beuys, Calder, Munch, Mondrian, Jesús Soto, Pollock, Alberes, Malevich, Klein, Christo, Warhol, Jasper Johns, Mark Rothko e tantos outros. Pensaram, escreveram suas ideias, debateram à exaustão. Pode-se citar uma enorme lista de artistas cujos registros escritos fazem parte da história da humanidade. Isto por séculos. O planeta Terra tem 6.500 bilhões de habitantes. Milhões de artistas passaram o tempo ou vivem no presente produzindo. Quantos serão realmente lembrados? A produção humana tem ciclos, épocas, interesses, preconceitos e os que se mantêm como referência, verdadeiros inventores de escolas e mundos visuais, são pouquíssimos. Fica como postulação: a tendência natural de artistas é o esquecimento. Pequenas reflexões podem caber. O Impressionismo, escola que se originou na França nos anos 1860, foi disseminada por toda a Europa, centenas de pintores aderiram ao movimento. Quantos ficaram marcadamente na história? Talvez quinze. Dos milhões de artistas visuais do planeta, sem consultar enciclopédias, quem se lembra de 1.500? O maior crítico de arte é o tempo, que, em sua passagem implacável, confirma ou destrói reputações. Infelizmente, talento não garante sobrevivência digna. As variações de vetores são imensas. Exemplo lapidar foi Van Gogh, que em vida vendeu uma única pintura ao irmão Theo, e suicidou-se aos 37 anos. Hoje, um quadro de Van Gogh é vendido por milhões de dólares e são raros no mercado. Pelas cartas a Theo, o artista tinha noção de seu talento e inventividade. No Brasil, a coisa parece ainda bem mais difícil. Temos uma população de quase 220 milhões de habitantes, e estimam-se 900 mil artistas, falecidos ou em produção. Na história do planeta parece que nenhum brasileiro faça parte do seleto grupo de estrelas mundiais. Romero Britto é o mais famoso artista brasileiro no mundo. Nenhum outro tem a fama dele. Mas fama não quer dizer qualidade, nem mercado quer dizer talento. >