Teorema da infinitude

No sertão se guardam as genuínas tradições luso- brasileiras, enriquecidas pela presença da cultura negra, sobretudo no litoral de Pernambuco, Paraíba e Bahia

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  • Cesar Romero

Publicado em 1 de abril de 2024 às 05:00

Se a arte é expressão definitiva da cultura de um povo, fixá-la em livros é um marco definitivo. O Nordeste constitui algo mais transcendente que geográfico. É uma consciência. Um estado de espírito. Um grande poema épico, de fulgurações intensas, erguido ao longo da história, como secular e heróico sofrimento e o ânimo imbatível de seu povo.

Duas principais vertentes constituem o manancial que deu origem às artes em Pernambuco: a arte religiosa portuguesa e a arte profana holandesa. Mais tarde, no século XIX, juntaram-se outras artes menores, representadas por europeus que aqui estiveram. O sentimento religioso em Pernambuco era essencialmente religioso e feito por inspiração de religiosos. Na região, a contribuição indígena foi nula. Os índios que habitavam a Capitania estavam culturalmente entre os mais atrasados e primitivos de todo o continente.

A sua civilização foi de responsabilidade dos padres da Companhia de Jesus, que adotaram um tipo de catequese totalmente inapropriado. Pretendiam os jesuítas formar letrados a serviço de Cristo. Insistiam em ensinar a ler, cantar, escrever, rezar em latim, confinando os índios e vestindo-os ao modo europeu. Diziam eles serem os índios bárbaros, queixavam-se de sua falta de engenho e vontade. A catequese jesuíta foi desastrosa. Eram homens de letras e de ciências, intelectuais, doutores - consequentemente, inadequados para lidar com seres tão ingênuos como os indígenas brasileiros.

A aquisição de conhecimento se dá a partir do estudo, das habilidades plásticas. Aprender é um processo ativo. Enquanto na América Espanhola, entre os séculos XVI e XVII, já se encontravam 14 biografias de pintores incas, maias, quéchuas e outros. A Escola de Quito foi fundada em meados do século XVI pelo franciscano Jodesque Purke, que ensinou aos nativos a pintar sobre tela - no Brasil, não há noticias de qualquer obra feita por índios ou mamelucos. Como pintores pernambucanos podemos pensar à época em Rita Joana de Souza, Belchior Paulo, e o pintor português Hierânino de Mendonça. De qualquer modo, nenhum trabalho se conhece desses pintores.

No sertão, se guardam as genuínas tradições luso-brasileiras, enriquecidas pela presença da cultura negra, sobretudo no litoral de Pernambuco, Paraíba e Bahia. Esta última, aliás, serve de background ou pano de fundo a toda obra romanesca de Jorge Amado, da mesma forma que a civilização canavieira está presente nos livros de José Lins do Rego, e a seca é tema central de Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Domingos Olimpio e Raquel de Queiroz. O Nordeste é a essência do Brasil.