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'É uma falta de respeito', diz cantora após ser chamada de velha por empresário

Crítica foi feita por empresário de outra cantora de nome muito parecido

  • Foto do(a) author(a) Osmar Marrom Martins
  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 26 de junho de 2025 às 10:02

Simone Moreno Crédito: Sesse Lind
Simone Moreno Crédito: Sesse Lind

A cantora Simone Moreno, 55 anos, que estourou nos anos 1980 com músicas como A Terra tremeu, Eh Moça, e mora na Suécia desde 2001, foi pega de surpresa quando foi informada que uma cantora sergipana, cujo nome de batismo é Simone Aline de Oliveira, tinha entrado com um pedido no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para registrar o nome como Symone Morena. Ao saber do fato, Simone Moreno acionou seu advogado, Saulo Veloso, que entrou com recurso no mesmo INPI para barrar a tentativa de Symone Morena.

Para colocar mais lenha na fogueira, o empresário de Symone Morena, Idalcio Pereira, chamou Simone Moreno de "velha de 60 anos" em entrevista à revista Alvo dos Famosos. Isso causou ainda mais indignação entre artistas, produtores e o público em geral. Afinal, Simone Moreno que é irmã por parte de pai da cantora Sarajane trabalhou com músicos do naipe do saudoso Saul Barbosa e Pepeu Gomes, estrelou campanha milionária da cervejaria Brahma e marcou seu nome na história da cena axé.

Para falar de todo esse enredo, o CORREIO entrevistou Simone Moreno, diretamente de Estocolmo onde reside. Ela mostrou-se indignada com a situação, criticou o etarismo do empresário de Symone Morena e bradou: "Isso é uma tentativa de usurpação do meu nome, uma falta de respeito".

CORREIO - Qual sua reação quando soube que na Bahia tem uma cantora chamada Symone Morena, confundindo com seu nome Simone Moreno?

SIMONE MORENO - Achei que fosse brincadeira. Eu fiquei sabendo quando um amigo me contou que tinha ouvido uma cantora na rádio e que no final da música o locutor a chamou de Simone Moreno, também vi posters de shows que fãs me mandaram com o meu nome, quando na verdade era ela que estava na foto. Isso é uma tentativa de usurpação do meu nome, uma falta de respeito.

Sou uma cantora ativa, com mais de trinta anos de carreira, e durante todo esse tempo, me chamo Simone Moreno, lutei muito para construir e solidificar a minha marca. Pra vir essa cantora querendo, juntamente com seu empresário, usurpar o meu nome artístico. Quer dizer, ela chega de outro estado, procurando confusão com um artista da terra que já tem um nome e uma história. É lamentável a falta de respeito, ética e profissionalismo de algumas pessoas do ramo da música. Isso não é bom para nenhuma das partes, é ruim em todos os sentidos.

CORREIO - Como você reagiu ao saber que o empresário de Symone Morena, Idalcio Pereira, a chamou de velha de 60 anos numa entrevista à revista Alvo dos Famosos?

Symone Morena
Symone Morena Crédito: Divulgação

SIMONE MORENO – A misoginia existe desde os tempos primórdios, a mulher sempre foi diminuída e humilhada em todos os sentidos pelo simples fato de ser mulher. A desvalorização e o desprezo para com as mulheres não são recentes, só se tornaram mais visíveis, por isso é importante mais do que nunca que a luta contra a normalização da misoginia seja fortalecida.

Eu não conheço esse senhor que resolveu me atacar e até decidir que eu abandonei minha carreira no Brasil e fui embora. Quem é ele afinal? A fala dele é completamente etarista e desnecessária. Quer dizer então que ele e a cantora dele promovem a usurpação do meu nome e eu que estou errada? E ainda aumenta a minha idade! Abaixo o etarismo, a arte não tem idade e velho é o mundo. Primeiro, esse senhor agrediu verbalmente a mim e a minha produtora Silvia Fran. Quando ela ligou para conversar com ele de boa, ele mandou ela e eu tomarmos naquele lugar. Não queríamos ir ao jurídico direto mas esse senhor não gosta de diálogo. Uma pessoa completamente grosseira, que gosta de atacar mulheres.

CORREIO - Você acha que o fato de ser mulher e preta foi determinante para essa reação preconceituosa?

SIMONE MORENO – Com certeza, por eu ser preta. É o racismo estrutural, um processo histórico que modela a sociedade até hoje, mas também por causa do meu gênero. Parece que muitos homens hoje em dia perderam completamente a gentileza e o respeito, essas palavras sim deveriam ser normalizadas, mas parece que ficam cada vez mais raras. O Brasil é um dos países com as taxas mais altas de feminicídio no mundo. Porque existem vários tipos de violência contra as mulheres e a verbal é uma das formas mais covardes e diária.

CORREIO - Desde que se mudou da Bahia para a Suécia, você acompanha a cena Axé?

SIMONE MORENO – Sim, claro, não só tenho acompanhado a trajetória do axé em todos esses anos, como também tenho divulgado. Sempre reverenciando os compositores da Bahia e do Brasil, reverberando a nossa música. Como uma autêntica embaixadora da nossa cultura, não é como muitos pensam, que eu abandonei o meu país, é exatamente ao contrário.

O crescimento do axé é natural e essencial, esse ritmo contagiante que através de todos esses anos tem nos orgulhado de ter um ritmo raiz que é um dos maiores da música brasileira. No final da década de 80, quando tudo começou, não tínhamos a mesma tecnologia de hoje e mesmo assim a força dos tambores começavam a reverberar alegria para o mundo. Mas, claro que hoje, os músicos e produtores têm acesso à novas ferramentas que tornam mais viáveis e as produções que ficam ainda melhores. E o axé vem acompanhando esse desenvolvimento e muito bem.

Simone Moreno atual por Divulgação

CORREIO - Que artistas dessa cena você admira?

SIMONE MORENO - Existem vários grandes artistas que nos orgulham e fazem parte do crescimento do ritmo num todo. Por isso, o axé vive e viverá. Cantoras e cantores maravilhosos, músicos, compositores, poetas e grandes produtores surgiram e estão aí até hoje para a nossa alegria, fazendo um trabalho super profissional desde o começo do movimento e agora o Axé Music comemora 40 anos de resistência. Viva!

CORREIO - Em sua opinião a Axé Music melhorou desde que você foi embora?

SIMONE MORENO - Lembro que eu era uma menina quando comecei na banda Novos Bárbaros, recém chegada da cidade de São Gonçalo dos Campos, onde morei na minha adolescência. Fui muito bem recebida pela cantora Laurinha Arantes, que é minha madrinha na música baiana, pelos imortais Jota Morbeck e Zelito Miranda e pela banda. Eu tinha um grande desafio na minha frente e, de repente, tinha um hit raiz tocando nas rádios. “A terra tremeu”, uma pérola do maravilhoso compositor Sacramento. Depois, foram chegando mais pérolas de Tatau, Beto Jamaica, Tonho Matéria, Pierre Onássis, Roberto Mendes e outros mestres da nossa música que eu já tive a honra de gravar. Sem falar na emoção de cantar pela primeira vez na praça Castro Alves. O axé me abriu as portas do mundo!

CORREIO - Como foi para uma cantora baiana se adaptar a um país como a Suécia de cultura totalmente diferente do Brasil?

SIMONE MORENO - Eu mudei para a Suécia por amor e não me arrependo, claro que eu sempre quis experienciar uma nova cultura e continuar fazendo música. Me adaptei muito bem, está sendo super enriquecedor, me apaixonei por esse país que me adotou e sua cultura fantástica. Vim aqui pela primeira vez em 1994, para fazer fotos para a revista Caras, para a Copa do Mundo.  Nesse tempo, senti e pensei: esse é um país que eu conseguiria viver fora do Brasil. Então, até parece que eu escrevi isso nas estrelas. porque alguns anos depois me apaixonei por um músico sueco, que é meu maestro e pai do meu único filho. Nisso já se passaram 23 anos. Acho que um dos grandes contrastes para mim é que o verão da Suécia é muito curto e o inverno muito longo, mas eu adoro viver todas as estações do ano.

Eu sou feliz com a qualidade de vida e de direitos humanos que tenho na Suécia. Os mesmos direitos que eu acho que todos os seres humanos sem distinção, deveriam ter normalmente. Mesmo que as ameaças de guerra nos ronde, às vezes, está sendo uma super experiência viver aqui. Só sinto falta da minha família, dos amigos, do meu público querido e fiel, da comida e do mar da Bahia!

CORREIO - Por falar no Brasil, você pensa em voltar?

SIMONE MORENO - Sim, estou chegando na Bahia esse ano e estou muito feliz

CORREIO - Quais são seus próximos projetos?

SIMONE MORENO - Tenho muitos projetos maravilhosos que sempre quis fazer. Entre eles estão dois EPs, um com novas versões dos meus antigos hits do carnaval, Eh moça, A Terra tremeu, Mulheres do mundo e Sambaê, isso vai ser muito bacana, porque dá possibilidade a nova geração de conhecer o meu trabalho. Já estou realizando, juntamente com meu produtor Natinho,  um EP com músicas inéditas e autorais, que está em andamento. Um belíssimo projeto com o Muzenza e mais um CD em homenagem ao samba, que será disponibilizados em todas as plataformas digitais. Estou muito emocionada com o meu show de retorno, vai ser lindo reencontrar o meu público que eu amo e que me pergunta sempre: quando você vai fazer um show em Salvador? Vem que a Bahia te espera!

CORREIO - Ao fazer um balanço de sua carreira, você acha que conseguiu seus objetivos?

SIMONE MORENO - Na verdade, acho que tudo é resultado do trabalho que o artista faz, eu sempre deixei a música e o meu coração decidirem por mim. Por isso, meu objetivo desde criança sempre foi de ser uma grande artista brasileira. Acho que os objetivos se renovam sempre, tudo pode mudar por um segundo. Mas eu não diria que eu alcancei todos os meus objetivos, tem muita água pra rolar ainda e, por mais que já tenham tentado me excluir da história da música da Bahia, tenho resistido porque a verdade não grita e eu tenho uma missão a cumprir nesse mundo, nessa vida.

CORREIO - o que Simone Moreno diria a Symone Morena?

SIMONE MORENO - Eu gosto e respeito muito o estilo arrocha, tem muitos artistas bons e profissionais desse ritmo. É por ser tão eclética que a música baiana é tão poderosa. Não é o ritmo, é a falta de atitude e de ética dela de aceitar um nome artístico de um artista que já tem uma história. Descobri esse nome com minha mãe, achamos que Moreno combinaria mas não pela cor da minha pele e, sim, pelo som da palavra. Em respeito aos artistas que já eram conhecidos, eu pesquisei antes. Percebi que ia ser uma confusão danada ter o mesmo nome que a nossa grande cantora da MPB Simone e que também é baiana. E ficou Simone Moreno. Mesmo que eu só estivesse começando a carreira, eu já era consciente de uma coisa muito importante na vida, em todos os aspectos, o respeito!